A anulação das condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), pode ter repercussão também no cenário local, com impacto na costura das forças políticas que devem se lançar à sucessão do governador Camilo Santana (PT) em 2022.
Professora de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Monalisa Torres avalia que a volta do ex-presidente como potencial candidato petista à Presidência tem força para alterar o ambiente no qual Camilo deverá indicar um sucessor ao Governo.
"Em 2022, no Ceará, ele vai ter que indicar o candidato à sucessão, e vamos testar em que grau o Camilo vai ter autonomia e o PT vai ter influência", examina a pesquisadora.
Segundo ela, o gestor estadual, "apesar de petista, é uma figura que transita e está muito mais alinhado ao grupo dos Ferreira Gomes do que ao PT", condição que terá efeito sobre "a montagem dos arranjos para a sucessão" ao Abolição.
Ainda de acordo com Monalisa, "se houve dificuldade de composição entre PDT e PT em nível municipal em 2020, é provável que isso se mantenha para 2022".
"Até porque são duas candidaturas e dois partidos que têm projetos nacionais. Como vai ficar o palanque no Ceará? Acho que vai ser um outro teste para o Camilo", projeta.
Também professor da Uece, o cientista político Emanuel Freitas entende que uma candidatura de Lula pode até mesmo precipitar possível saída de Camilo do PT.
"Talvez a entrada em cena do Lula no jogo force o Camilo a uma decisão mais radical em termos partidários, talvez implique até mudança de partido", ressalta.
Freitas considera que a postulação de Lula, agora com direitos políticos recobrados depois da decisão de Fachin no Supremo, deve modificar o campo eleitoral para o ano que vem.
"O jogo vai se direcionando para Bolsonaro e para o ator com mais capilaridade, penetração, e inclusive intenção de voto, que é o Lula", declara, acrescentando que, nessa movimentação de placas tectônicas causada pelo petista, "quem mais sofre é o Ciro".
Na tarde de ontem, logo após o anúncio da decisão do magistrado, políticos cearenses anteciparam divergências que devem se aprofundar ainda mais no processo eleitoral que se aproxima. Entre eles, o próprio governador do Estado.
"Decisão do ministro Edson Fachin sobre o ex-presidente Lula repara um erro grave e histórico. Ninguém deve estar acima da lei. Nem julgados, nem julgadores", escreveu.
Decisão do ministro Edson Fachin, do STF, sobre o ex-presidente Lula, repara um erro grave e histórico. Ninguém deve estar acima da lei. Ninguém! Nem julgados, nem julgadores. Sempre defenderei as leis e a Justiça. Mas, jamais, a utilização das mesmas para perseguir e prejudicar.
— Camilo Santana (@CamiloSantanaCE) March 8, 2021
Deputado federal do Pros e ex-candidato a prefeito de Fortaleza, Capitão Wagner disse que a anulação das condenações de Lula "desacredita a justiça brasileira e abre precedência perigosa para a impunidade de políticos corruptos do Brasil".
"Anular todas as condenações de Lula relacionadas à Lava Jato", continua Wagner, "é uma desmoralização para um país que teve bilhões saqueados dos cofres públicos".
A decisão do Fachin desacredita a justiça brasileira e abre precedência perigosa para a impunidade de políticos corruptos do Brasil. E anular todas as condenações de Lula relacionadas à Lava Jato é uma desmoralização para um país que teve bilhões saqueados dos cofres públicos.
— Capitão Wagner (@capitao_wagner) March 8, 2021
Alinhado com Bolsonaro, o deputado federal Heitor Freire (PSL) criticou o entendimento da Corte. "STF, através do ministro Edson Fachin, anula as condenações de Lula na Lava Jato e o ex-presidiário volta a ser elegível. Será que a injustiça vai prevalecer? Precisaremos agir imediatamente", conclamou.
Absurdo! STF, através do ministro Edson Fachin, anula as condenações de Lula na Lava Jato e o ex-presidiário volta a ser elegível. Será que a injustiça vai prevalecer? Precisaremos agir imediatamente!
— Heitor Freire (@HeitorFreireCE) March 8, 2021
Líder da oposição na Câmara, André Figueiredo (PDT) defendeu postura de Fachin. "Os processos conduzidos pelo juiz Moro foram considerados falhos por importantes juristas, e o PDT sempre se solidarizou com o ex-presidente. Sua anulação permitirá que Lula se defenda numa situação mais equilibrada", pregou o pedetista, forte aliado do ex-governador Ciro Gomes.