Em ofício dirigido ontem ao Ministério da Saúde, governadores pedem que o Governo Federal adote medidas de restrição em todo o País para "conter o coronavírus e reduzir adoecimento, internações e óbitos de brasileiros". O documento é assinado pelo governador do Piauí, Wellington Dias (PT), coordenador da Estratégia para vacina contra Covid no Fórum Nacional de Governadores.
Nele, os gestores estaduais solicitam "a implementação de medidas restritivas de competência exclusiva do Governo Federal, a exemplo daquelas que incidem no funcionamento de aeroportos, portos, bem como do sistema rodoviário e ferroviário nacional, com exceção das que possam afetar o funcionamento do transporte de carga e dos demais serviços federais que se afiguram como essenciais para a vida".
Ainda de acordo com os chefes de Executivo, "o presente apelo faz-se imperioso no atual contexto de agravamento da pandemia, situação que deve perdurar até maio, quando esperanças renovadas sobrevirão com o término da Fase 1 do Programa Nacional de Imunização, previsto para abril, garantindo, assim, os efeitos da vacina sobre o grupo de maior risco".
Direcionado a Eduardo Pazuello, agora ex-ministro da Saúde, o ofício deve ser avaliado pelo seu substituto, Marcelo Queiroga, que aceitou convite e se tornou o quarto ocupante da função desde o início da pandemia. O pedido dos governadores é apresentado num momento de recrudescimento da crise sanitária e de sucessivos recordes de mortes, mas também de tensões entre os gestores e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que tem criticado os decretos de restrição.
Em entrevista ao O POVO, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB) lamenta as posições de Bolsonaro. Para ele, o presidente "confunde combate à pandemia com eleições futuras" e "tem uma atitude objetivamente irresponsável e assentada em mentiras".
"Às vezes ele ensaia medidas positivas, mas logo tem essas recaídas para o verdadeiro Bolsonaro, que é capaz de rir de tragédias, rir de suicídios, de mortes, de circunstâncias difíceis que as pessoas passam, como danos psicológicos", declara o governador do Maranhão.
Dino também rebate ataques frequentes de Bolsonaro aos governadores. "Ele atribui tudo isso aos governadores, quando, na verdade, o problema central é que ele não assume as suas responsabilidades, sempre quer transferir para alguém", afirma. O comunista cita, como exemplo, os efeitos da pandemia na economia. "Se o preço do combustível dispara como disparou, a culpa não é dele, é do presidente da Petrobras. Então demite o presidente da Petrobras", destaca.
"Se tem problema na área de saúde", continua Dino, "transfere para o ministro, aí demite. Ele sempre está culpando alguém para tirar as responsabilidades que são dele".
Críticas
Para Júlio Brizzi, o presidente Jair Bolsonaro comete um desserviço ao ir na contramão das orientações chanceladas pela comunidade científica