Adversários políticos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva querem que o petista desista de concorrer à Presidência em 2022 para ceder a vez a algum nome do centro. O PT, todavia, descarta essa possibilidade e, nos bastidores, fala em desespero.
Em entrevista dois dias atrás, o presidenciável Ciro Gomes (PDT) disse que seria um gesto de "generosidade" de Lula deixar a disputa. "A gente devia pedir a ele (Lula) que se compenetrasse e não imitasse o exemplo desastrado do Maduro na Venezuela ou do Evo Morales na Bolívia e olhasse o que a Cristina Kirchner fez na Argentina", comparou o pedetista, que sugeriu então "um passo atrás" ao ex-presidente.
Embora já tenha dito que, entre Lula e Jair Bolsonaro (sem partido), escolheria Lula, "o menos ruim", o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso declarou que uma nova postulação do petista não traria nenhuma novidade.
Deputado federal pelo PT, José Guimarães afirma que "Lula não disse que é candidato ainda", mas "está à disposição". O parlamentar questiona, no entanto, as críticas de PSDB e parte do PDT ao ex-presidente: "Por que essa preocupação toda com Lula? É sinal de que ele é a esperança".
Segundo Guimarães, Lula, que recuperou seus direitos políticos após decisão do Supremo Tribunal Federal no início de março, "sinalizou um caminho; se ele vai ser ou não candidato, o PT vai discutir noutro momento".
O deputado também relata que a legenda está "dialogando com os partidos e, na hora certa, o PT anunciará qual será o seu comportamento na disputa de 2022", possivelmente apenas no ano que vem.
Em seguida, dirige-se indiretamente Ciro: "O FHC, que foi o que no segundo turno não deve nem ter votado no Haddad, é inaceitável isso. Aqueles que não votaram no segundo turno são responsáveis pela eleição de Bolsonaro. Deveriam fazer autocrítica perante o País".
Presidente estadual do PDT e deputado federal, André Figueiredo sai em defesa de Ciro. Para ele, as falas do ex-ministro foram descontextualizadas.
"Na verdade, o que Ciro falou foi dentro de um contexto de demonstração de grandiosidade. Falou que nós precisamos unir todas as forças que se opõem ao bolsonarismo e a esse modelo perverso que está matando centenas de milhares de brasileiros", argumenta Figueiredo.
"Ciro disse claramente: longe de mim querer interferir na vida partidária do PT'", segue o deputado, 'mas acho que todos nós devemos dar uma demonstração de grandiosidade, assim como a Cristina Kirchner fez na Argentina'".
O pedetista nega ainda que as declarações de Ciro tenham sido dadas no sentido de atrair Lula para uma eventual vice em bloco para 2022.
"O que vejo é que, infelizmente, as deturpações aconteceram e estão dizendo que ele disse que Lula deveria abrir para ser vice do Ciro, quando isso não é verdade de maneira nenhuma", completa.