Ex-presidente da Câmara, ex-deputado federal, ex-todo-poderoso do Congresso, Eduardo Cosentino Cunha, 62 anos, passou os últimos meses dedicado a um projeto: revisitar o processo de afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), capitaneado por ele, e transformá-lo em livro.
O resultado é “Tchau, querida – o diário do impeachment” (editora Matrix). Com 808 páginas, a obra, que tem lançamento hoje, exatamente cinco anos depois da sessão que aprovou a admissibilidade do afastamento da mandatária, promete bastidores e novas informações sobre a derrocada da petista.
Cunha é didático no seu propósito: “Levar ao leitor todos os fatos que ocorreram para que se chegasse a esse resultado, com informações inéditas, relatadas em ordem cronológica, e análise das condições históricas que culminaram nesse processo de impeachment”.
Para tanto, ele promete, “o relato será fiel aos fatos, descrevendo o papel de cada um nessa trajetória”. E, como a obra se trata de um grande “exposed” político, Cunha, que está preso em regime domiciliar, começa por Michel Temer, colega de partido e ex-amigo.
“Apresento a participação do então vice-presidente Michel Temer”, escreve Cunha, auxiliado pela filha Danielle Cunha, “com detalhes minuciosos e nunca antes revelados”.
O tom apimentado ganha importância pelo que o ex-deputado anuncia: “Demonstrar que o principal beneficiário desse processo (Temer) foi, sim, seu militante mais atuante e importante. Sem a atuação dele, não teria havido o afastamento de Dilma”.
Dividido em 45 capítulos, o último dos quais intitulado “Propostas para soluções dos conflitos políticos”, Cunha, considerado pelos que temiam a Lava Jato como um homem-bomba, distribui culpas e responsabilidades pelo impeachment, das quais convenientemente reserva muito pouco para si mesmo.
Mesmo longe do poder, o emedebista não perde uma de suas grandes características: o deboche. Sobre o título do livro, por exemplo, diz que foi escolhido não para tripudiar de Dilma, mas “para chamar a atenção de que houve, sim, um ato ilegal de um juiz que, hoje se sabe, foi líder de uma organização política”, referindo-se a Sergio Moro.
Noutro momento, volta a artilharia de novo para Temer e graceja com um livro recém-publicado por ele, chamado “A escolha”, uma obra feita, segundo Cunha, “para presentear amigos e para que coloquem na mesa de suas salas de visitas”. Será esse também o destino de “Tchau, querida”?