Na última quinta-feira, 28, três faixas de pedestres de Fortaleza receberam pinturas em alusão às cores da bandeira LGBTQI+, em ação intitulada "Pare e passe com amor". A intervenção, embora comemorada por muitos como símbolo de apoio à comunidade e de reflexão sobre políticas públicas para esse grupo minoritário, também sofreu críticas de setores mais conservadores da sociedade.
No Ceará, a questão divide os parlamentares. Para a deputada estadual Dra. Silvana (PL), a campanha faz parte de um ativismo que “afronta a sociedade”, devendo ser visto com preocupação.
“É um ativismo ideológico que tem tentado à força vencer e atropelar uma sociedade conservadora e cristã. Se alguém deseja ser gay, lésbica ou o que quer que seja, faça dentro da sua individualidade sem tentar doutrinar os demais”, avalia.
Silvana argumenta que a pintura das faixas desrespeita o Código de Trânsito Brasileiro (CTB). “Eles partiram para o tudo ou nada. Eu acredito que os homossexuais assumidos e seguros de suas escolhas não gostam dessa tentativa de vitimização e doutrinação. Os daltônicos também são uma minoria que está sendo desrespeitada ou não? Ninguém luta por direito violando o direito de outros”, diz.
A ideia é refutada por Renato Roseno (Psol). Segundo o deputado estadual e presidente da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Ceará (AL-CE), campanhas como as promovidas em Fortaleza e Sobral fazem parte de uma “agenda ativa de comunicação e educação para o respeito à diversidade humana em todas as dimensões”.
“O Ceará é um dos estados que registra maior número de casos de violência LGBTfóbica. Os setores que promovem discursos de ódio e intolerância patrocinam e estimulam essa violência, sendo seus corresponsáveis”, afirma.
O parlamentar avalia ainda que críticas à iniciativa fazem parte de um “silenciamento injusto e violento” praticado por “uma parcela reacionária”. “Nada mais humano e sagrado à vida que celebrar a grandeza do amor”, completa.
Presidente da Comissão de Direitos Humanos na Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor), a vereadora Larissa Gaspar (PT) concorda com Roseno e considera que a pintura das faixas de pedestre alerta para sobre a visibilidade LGBTQI+ e a violência que a comunidade é alvo no Ceará.
“Essa ação vem para enfrentar os preconceitos e fazer com que as pessoas acordem para a necessidade de respeitar o outro, para garantir a dignidade e a existência dos outros. Pessoas contrárias estão apenas colocando para fora todo seu preconceito, o que tem nome: é LGBTfobia e é crime”, alega a petista, que defende ainda a ampliação das ações sobre diversidade em Fortaleza.
Assim como Dra. Silvana, a vereadora Priscila Costa (PSC) justifica ser contrária à campanha por avaliar que ela descumpre regras de trânsito, além de, segundo a parlamentar, “gerar um acirramento desnecessário da sociedade”.
“O que uma faixa de pedestres colorida vai mudar em relação ao preconceito? Absolutamente nada. O efeito, na verdade, é reverso. As pessoas comuns olham para isso e enxergam um privilégio. Que outro movimento político teve lobby suficiente para pintar faixas de pedestre em desacordo com normas do Contran? Nenhum”, crítica.
Na Capital, o projeto foi feito em parceria com a Associação Mães pela Diversidade, sendo desenvolvido pelo gabinete da primeira-dama, Natália Herculano, e pela Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC).
Natália Herculano afirmou, durante a inauguração de uma das três faixas do projeto, que continuará apoiando ações de combate à LGBTfobia. "Tenho recebido demandas do movimento, bem como de outros segmentos da sociedade que considero historicamente esquecidos. Nosso Gabinete está à disposição para escutar a sociedade e suas lutas", declarou.