O esquema montado pelo governo Bolsonaro para conquistar apoio por meio de um orçamento secreto de R$ 3 bilhões não apenas será alvo de investigação no Ministério Público e no Tribunal de Contas da União (TCU), como parlamentares já falam até mesmo na criação da "CPI do Tratoraço".
Nessa segunda-feira, 10, o deputado Ivan Valente (Psol-SP) iniciou a coleta de assinaturas para pedir ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), a abertura de uma CPI com o objetivo de investigar o direcionamento. Para entregar o requerimento de CPI a Lira, Valente precisa da assinatura de 171 deputados.
O "Estadão" revelou que o presidente Jair Bolsonaro entregou para um grupo de deputados e senadores o direito de impor onde seriam aplicados bilhões de reais, provenientes de uma nova modalidade de emendas, chamada RP9.
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Documentos aos quais o jornal teve acesso comprovam que congressistas usurparam funções do Executivo. Pelo acordo, deputados e senadores demandaram a compra de tratores e outras máquinas agrícolas, indicando até mesmo preços que chegaram a até 259% acima dos valores de referência fixados pelo próprio governo.
Bolsonaro chegou a vetar a tentativa do Congresso de definir a aplicação dos recursos das emendas RP-9. O presidente considerou que isso contrariava o "interesse público" e estimulava o "personalismo".
Um conjunto de 101 ofícios aos quais o Estadão teve acesso mostra, porém, que Bolsonaro ignorou o seu próprio ato e entregou nas mãos de sua base de apoio o destino de R$ 3 bilhões. Aquele veto, porém, nunca foi derrubado.