Quinto a prestar depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, Fábio Wajngarten se contradisse perante os senadores durante a sessão desta quarta-feira, 12. O publicitário e ex-secretário de Comunicação da Presidência foi convocado ao interrogatório depois de entrevista à revista Veja, ao fim de abril, na qual atribuiu incompetência e ineficiência ao Ministério da Saúde no processo de aquisição da vacina Pfizer, ainda em 2020.
Na audiência com os congressistas, Wajngarten afirmou que não dirigiu os adjetivos especificamente ao general Eduardo Pazuello, àquele momento titular da Saúde. O tom crítico estampado na capa da Veja foi suavizado na sessão, cedendo lugar a elogios ao militar, qualificado como corajoso.
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Segundo Wajngarten, não foi a incompetência da pasta o fator de atraso nas negociações, mas a burocracia inerente à administração pública. Ao recuar no tom, ele gerou estresse entre os senadores. A reunião, porém, não foi somente de tergiversações. Ele assumiu que a carta enviada por executivos da Pfizer com a proposta das vacinas ficou dois meses sem resposta.
A fala pode fazer avançar uma linha de investigação que aponta para omissão do governo no manejo da crise sanitária que já deixou mais de 425 mil mortos no País. A preço de momento, é provável que Renan Calheiros (MDB-AL), opositor do governo Bolsonaro, se valha desta informação para construir o relatório neste sentido.
Em outro momento da oitiva, Wajngarten afirmou que esteve distante da pasta ao longo de março de 2020 por ter testado positivo para Covid-19. Ele respondia à indagação sobre a autoria da campanha “o Brasil não pode parar”, peça cujo teor é contrário às medidas de contenção do vírus atestadas como eficazes, como o isolamento social, uso de máscaras e até mesmo o lockdown.
Segundo alegou, a campanha não foi conduzida por ele, pois estava afastado. O senador Rogério Carvalho (PT-SE) então o confrontou com uma live em que ele aparece ao lado do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), datada de 12 de março. No vídeo, Wanjgarten diz que, embora infectado, estava na condução da Secom.
“Eu estou trabalhando normal. Tenho feito calls com ministros, tenho feito calls com a Secom, tenho aprovado campanhas, tenho conversado com os criativos das agências de publicidade. Então, a vida segue. Eu estou disposto. Eu estou em isolamento”, ele afirmou.
O relator Renan Calheiros quis prendê-lo em flagrante, “na forma da legislação”, e recebeu apoio dos senadores Fabiano Contarato (Rede-ES) e Alessandro Vieira (Ciddania-SE), ambos não membros da comissão. Para Contarato, que tem trajetória como delegado de Polícia, o “estado flagrancial” ficou claro no depoimento do ex-assessor palaciano.
A evolução da possibilidade de prisão foi freada pelo senador Omar Aziz (PSD-AL), a quem compete determinar ou não a prisão. O senador pelo Amazonas disse que não iria ser carcereiro de ninguém. Ele trabalhou no sentido de esfriar os ânimos para que, pelo menos, o depoente não saísse da sala rumo à prisão. Mas a sessão permaneceu quente.
O pico do estresse foi protagonizado por Calheiros e o primogênito do presidente, senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), que trocaram insultos, obrigando Aziz a suspender a sessão.
Mestra em Ciência Política pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), Ananda Marques analisa que o depoimento abre brecha para que a apuração seja aprofundada no sentido de encontrar a omissão ou o boicote do Palácio do Planalto à compra de vacinas.
“Além, é claro, de colocar o próprio Wajngarten numa posição difícil. Ele já não faz parte do governo e mesmo com esse aparecimento de Flávio Bolsonaro para tumultuar, não pareceu, pelas falas dos senadores governistas, que o Planalto pretende proteger o ex-secretário”, Ananda adicionou.