Em depoimento prestado nesta quinta-feira, 13, à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, no Senado, o gerente-geral da farmacêutica Pfizer na América Latina, Carlos Murillo, afirmou que o Governo Federal não respondeu a pelo menos cinco propostas feitas para a compra de vacinas pelo Brasil.
A terceira oferta, confirmou Murillo, ocorreu em 26 agosto de 2020. O País receberia 1,5 milhão de doses ainda no ano passado. E chegaria ao primeiro semestre deste ano com 18,5 milhões de doses. A quarta e a quinta proposta davam conta de 70 milhões de doses até dezembro de 2021 e também não foram respondidas.
O imunizante ainda não tinha sido validado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas a administração federal poderia ter solicitado ao órgão regulador a permissão para uso emergencial. Murillo disse à comissão que países celebraram contrato antes do aval das respectivas agências reguladoras.
"São milhares de mortes que poderiam ser evitadas. Nada justifica essa omissão, ainda mais quando se vê postura diferente em outras negociações", lamentou o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), que não é membro da CPI, mas tem participado de algumas inquirições.
O governista Marcos Rogério (DEM-RO) sustentou na audiência a ideia de que a compra não poderia ter sido fechada antes de uma legislação estabelecer as bases jurídicas para isso. Murillo assentiu, afirmando que o negócio foi concluído após aprovação de projeto de lei.
De autoria de Rodrigo Pacheco (DEM-GO), o PL 534/2021, já sancionado, autoriza estados, municípios e o setor privado a comprarem vacinas contra a Covid-19 com registro ou autorização temporária de uso no Brasil. Mas a oposição reclama que uma medida provisória (MP) poderia ter sido editada com antecedência, promovendo segurança jurídica.
“Diante dos fatos, a narrativa da oposição não se sustenta! Em depoimento na CPI, o representante da Pfizer, Carlos Murillo, confirmou que as vacinas só poderiam ser compradas pelo Brasil após aprovação de lei, atendendo recomendação da AGU e CGU”, afirmou o demista nas redes.
Enquanto os trabalhos legislativos se desenrolavam, em Alagoas, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) andava ao lado do ex-presidente e senador Fernando Collor de Melo (Pros-AL) e do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), para inauguração de viaduto que funciona desde de dezembro.
Pisar no Nordeste, o que já fez em outra oportunidades, dessa vez significou tentar dar uma mostra de força neste território - ainda que isso envolva promover aglomerações, o que aconteceu - após resultado indigesto mostrado em pesquisa do Instituto Datafolha.
Em um dos recortes do levantamento, 62% dos entrevistados da Região disseram que não votaria no militar de jeito nenhum. Lula lidera numa distância de 41% a 23% de Bolsonaro.
Alagoas é ainda reduto de Renan Calheiros (MDB-AL), senador de oposição e relator na CPI da Covid-19. Sem máscara, Bolsonaro afirmou ser um “crime o que vem acontecendo nessa CPI.”
Para Monalisa Torres, professora da Uece e pesquisadora do Laboratório de Política, Eleições e Mídia (Lepem-UFC), é natural que o ultradireitista mobilize suas bases mais radicais sempre que vai às cordas.
Ela cita o conceito de “governo-movimento”, do cientista político Cláudio Couto, para afirmar que ação de Bolsonaro é um constante demonstrativo de que ainda não deixou o “palanque”. “Mesmo que a CPI não produza objetivamente nenhum efeito, as pautas colocadas geram desgaste político, o que faz ele apelar às bases”, ela analisa.
Ainda conforme a pesquisadora, afora o entrevero com Renan, Bolsonaro sabe da importância de entrar eleitoralmente no Nordeste, pois seu principal adversário na corrida ao Palácio do Planalto corre mesmo para ser o Partido dos Trabalhadores (PT), representado pelo ex-presidente Lula.