O senador Flávio Bolsonaro se filiou ontem ao Patriota e indicou que o presidente Jair Bolsonaro, em campanha pela reeleição, seguirá o mesmo caminho. Embora o presidente não tenha anunciado seu novo partido, a filiação é dada como praticamente certa e já provocou racha interno.
Integrantes do Patriota entraram com ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) alegando que mudanças promovidas às pressas no estatuto da legenda tiveram como único objetivo beneficiar a família Bolsonaro.
Flávio participou da convenção nacional do Patriota por videoconferência. Na semana passada, ele deixou o Republicanos, partido ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, dizendo que se filiaria ao mesmo partido a ser escolhido pelo pai. Em seu discurso, o senador elogiou o Patriota e afirmou ter a certeza de que vão "caminhar juntos" para a campanha de 2022, construindo "o maior partido do Brasil".
Acesse a cobertura completa do Coronavírus >
O senador observou que o PSL, antiga sigla da família Bolsonaro, tinha apenas um deputado antes da disputa de 2018. "Após as eleições, fizemos uma bancada com 52 deputados. Agora, com o presidente Bolsonaro na Presidência da República, não tenho dúvida de que a gente pode construir um partido maior ainda, até maior que o próprio PSL. Tem espaço para todo mundo", afirmou ele.
Na convenção, o presidente do Patriota, Adilson Barroso, comemorou a filiação de Flávio e falou como se Bolsonaro já tivesse assinado a ficha. "Vamos ser grandes. Ele (Bolsonaro) vem hoje para o partido sem pedir uma bala. Aqui no Patriota ele confia em mim, e não quer nada de nós", disse Barroso.
Apesar da declaração de que Bolsonaro não fez exigências, Barroso pretende fazer uma espécie de "intervenção" para mudar o comando de diretórios estaduais, com o objetivo de abrigar o grupo político de Bolsonaro. Mas a ação enfrenta forte resistência do deputado federal Fred Costa (Patriota-MG) e do vice-presidente do partido, Ovasco Costa.
"Sou contra o golpe rasgando o regimento", afirmou Fred. Em uma reunião rápida, Barroso pôs em votação a possibilidade de filiação de Bolsonaro. "Alguém aqui tem alguma coisa contra ou todos são a favor?", perguntou ele para a cúpula do partido. Uma parte dos dirigentes do Patriota estava de pé e outra, sentada. Não houve discussão. "Isso não é forma de votação, Adilson", disse um dos dirigentes. "É golpe."
Logo em seguida, Barroso aprovou, às pressas, o novo estatuto do Patriota, que abre caminho para uma candidatura própria à Presidência, e anunciou o aumento dos integrantes do diretório e da Executiva e a filiação de Flávio como "líder do Patriota na Câmara dos Deputados".
Alertado de que o filho de Bolsonaro é senador, ele se corrigiu: "Aliás, no Senado. Ele é nosso grande líder no Senado. Não estou rebaixando, não".
O TSE recebeu a ação para suspender a mudança do estatuto do partido, mas ainda não julgou o pedido. Flávio ignorou o racha interno e elogiou o comando do Patriota. "Fico feliz de ver que muitos estão deixando a vaidade de lado, o posicionamento dentro do partido de lado, em prol dos princípios que estão escritos no estatuto que ajudei a colocar", destacou.
Desde que deixou o PSL, em novembro de 2019, Bolsonaro sofreu vários reveses. Anunciou a criação de um partido, o Aliança pelo Brasil, mas não conseguiu as 491.967 assinaturas necessárias para tirá-lo do papel.
Após uma ruidosa briga com o PSL, ele negociou a entrada em nove partidos - entre os quais PTB, PRTB, Republicanos e Progressistas -, mas nenhum aceitou lhe dar carta-branca. Para se filiar, Bolsonaro exige o controle dos diretórios e do caixa do partido.
O Patriota ficou em 22.º lugar no ranking das siglas que receberam fundo eleitoral em 2020, com R$ 24,5 milhões. Pelo Orçamento de 2021, aprovado pelo Congresso e sancionado pelo presidente, a legenda terá R$ 22,4 milhões de Fundo Partidário para usar neste ano. No Congresso, a sigla possui seis deputados e, agora, um senador.