A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) analisa hoje dois pedidos para importação das vacinas Sputnik V, da Rússia, feito por governadores, inclusive o do Ceará, e Covaxin, imunizante indiano solicitado pelo Governo Federal.
Os governadores do Nordeste têm acordo encaminhado para a aquisição de 65 milhões de doses da vacina russa. E o Governo Federal pretende importar 10 milhões do imunizante indiano.
A falta de documentos que atestassem a segurança da Sputnik V embasou negativa da Anvisa ao pedido dos governadores, em 26 de abril. Uma forte briga política se instaurou desde então.
Os chefes dos Executivos estaduais, insatisfeitos, reclamaram do resultado da votação. O perfil da vacina nas redes sociais fez coro às manifestações.
Àquela ocasião, o governador do Ceará, Camilo Santana (PT), expressou em nota "decepção e estranheza" após a decisão. Ainda em março, o Estado fechou compra de 5,87 milhões de doses da vacina russa.
Agora, governadores encaminharam à Anvisa relatório técnico feito pelo ministério da Saúde russo. Era uma das exigências do órgão regulatório para que o uso do imunizante fosse autorizado no País.
A infectologista Raquel Silveira Bello Stucchi, professora da Universidade de Campinas (Unicamp), disse ao O POVO esperar que a Anvisa mantenha a atuação independente de qualquer tipo de pressão e que possa seguir a elaborar pareceres técnicos.
"Parece que a pressão política sobre a Anvisa está muito grande, não só no órgão, mas pressão do ponto de vista pessoal, nos seus diretores. Isso é lamentável que aconteça", afirma Raquel Silveira, também consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia. A consequência direta dessa pressão, segue a professora, é a abertura de um grave precedente com potencial de causar danos à credibilidade das decisões da Anvisa.
A CNN Brasil publicou que há a possibilidade de a aprovação ocorrer com restrições, isto é, com possibilidade de aplicação em grupo limitado de pessoas.
"Imagino que seja um caminho intermediário, em que se dê a autorização emergencial, mas se exija aplicação em alguns grupos específicos, com acompanhamento mais rigoroso da aplicação e possíveis eventos adversos", explicou ao O POVO Júlio de Carvalho Ponce, doutor em Epidemiologia pela USP. (Carlos Holanda)