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Bolsonaro pressiona CBF e Copa América vira nova crise
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Bolsonaro pressiona CBF e Copa América vira nova crise

| BRASÍLIA | Com participação pessoal do presidente em articulações do evento, evento vira mais uma crise para o Planalto em meio a possível boicote de jogadores
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Bolsonaro tenta, a todo custo, garantir realização da Copa América no Brasil (Foto: AFP)
Foto: AFP Bolsonaro tenta, a todo custo, garantir realização da Copa América no Brasil

Anunciado ontem pelo Conselho de Ética da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), o afastamento de Rogério Caboclo da presidência da entidade é novo episódio da novela envolvendo a realização da Copa América no Brasil. Anunciada com direito a articulação direta e festa de Jair Bolsonaro, a vinda do evento ao País já ganhou contornos tão políticos quanto esportivos e é mais uma crise com pressões do Planalto no centro da polêmica.

Tão logo a Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) anunciou, na segunda-feira passada, o aval de Bolsonaro para a realização do evento, ficou clara a existência de um mal-estar na seleção brasileira com a proposta. No centro da resistência, a ausência de comunicação prévia da decisão a jogadores e comissão-técnica, além de preocupações com o atual momento da pandemia de Covid-19 no País.

A crise ganhou caráter ainda mais político na terça-feira, 1º, quando Jair Bolsonaro defendeu a realização da Copa América e minimizou riscos com a pandemia. Destacando que o protocolo seria o mesmo aplicado em campeonatos como a Libertadores e a Sul-Americana, o presidente chegou a acusar a Rede Globo de organizar boicote por conta de os direitos de transmissão do evento estarem com o SBT.

Paralelamente, partidos de oposição ingressaram com pelo menos três ações contra a realização do evento no Supremo Tribunal Federal (STF), que ainda não deu palavra final sobre o caso. Na CPI da Covid, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) apresenta requerimento pedindo a convocação de Caboclo para depoimento.

Apesar de estar notória a existência da polêmica, até agora a seleção não se posicionou oficialmente sobre o caso, mantendo suspense sobre sua participação ou não no evento. Admitindo apenas ter "uma opinião muito clara" sobre o assunto, o técnico Tite prometeu mais detalhes sobre o caso apenas na próxima terça-feira, após o jogo do Brasil contra o Paraguai pelas eliminatórias da Copa do Mundo.

Com ou sem confirmação de boicote, Tite vem sendo alvo de bolsonaristas nas redes sociais, que levantaram a hashtag #ForaTite e viralizaram fotos do técnico ao lado do ex-presidente Lula. No fim de semana, começa ainda a circular na imprensa a informação de que Caboclo, pressionado pelo escândalo sexual envolvendo sua gestão na CBF, já teria prometido ao governo tirar Tite do comando da seleção. No centro da escolha, estaria uma pressão pessoal do próprio Bolsonaro.

Para o historiador Airton Farias, pesquisador de política e futebol, Bolsonaro faz aposta arriscada quando traz para si a crise envolvendo a CBF. "Se esse time desengrenar, desandar, claro que vai ter um custo enorme, porque as pessoas vão associar a ele, que demitiu o Tite. E, se ganhar, as pessoas não vão dar muita bola, porque é muita ingenuidade achar que o futebol é um meio de alienação da massa", diz.

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