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Queiroga nega eficácia de cloroquina e contradiz falas de Bolsonaro
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Queiroga nega eficácia de cloroquina e contradiz falas de Bolsonaro

| Senado | Em segundo depoimento à CPI, o ministro da Saúde Marcelo Queiroga afirmou ainda que não há risco maior na realização da Copa América no Brasil
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QUEIROGA afirmou ainda que foi o responsável pela contratação da médica Luana Araújo (Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado)
Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado QUEIROGA afirmou ainda que foi o responsável pela contratação da médica Luana Araújo

Convocado pela segunda vez para depor na CPI da Covid, o ministro da Saúde Marcelo Queiroga negou que a cloroquina tenha qualquer efeito benéfico para combater a Covid-19. "Essas medicações não têm eficácia comprovada", disse aos senadores.

"Como médico", continuou Queiroga, "eu entendo que essas discussões são laterais e nada contribuem para pôr fim ao caráter pandêmico dessa doença. O que vai pôr fim ao caráter pandêmico dessa doença é ampliar a campanha de vacinação".

A defesa do medicamento tem sido um dos principais argumentos da ala governista na CPI. Em sua primeira oitiva na comissão, em 6 de maio, o ministro se recusou a fazer qualquer tipo de avaliação em relação ao remédio. À época, alegou que a substância ainda estava sob estudo na Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) e que lhe cabia futuramente decidir sobre o relatório.

Ontem, no entanto, o médico cardiologista foi explícito quando questionado, ainda que tenha acenado aos apoiadores de Bolsonaro ao se referir a uma suposta divisão da ciência quanto à cloroquina, comprovadamente ineficaz no enfrentamento do coronavírus. Apesar disso, para muitos senadores membros da CPI, Queiroga foi ao colegiado sob pressão e com o objetivo de blindar Bolsonaro.

"O ministro claramente veio aqui utilizando-se de todos os meios para proteger o presidente da República. Não existe autonomia devida do ministério", avaliou Randolfe Rodrigues (Rede-AP) ao final da sessão.

"Repito, o ministro veio até aqui sob sério constrangimento", complementou o vice-presidente da CPI. "E em alguns momentos esse constrangimento o faz incorrer em atos falhos, como foi o caso de, ao ver imagens dos atos antissanitários do presidente, ele declarar: as imagens falam por si só."

Randolfe declarou ainda estar mais convicto da existência de um gabinete paralelo que atuou extraoficialmente durante a pandemia.

"Pela segunda vez que vi (Queiroga), mais convencido estou de que não existia um gabinete paralelo. Existe um gabinete paralelo. Não é uma peça do passado, é uma peça do presente, em curso, atuando, operando", disse em coletiva.

Senador pelo Ceará, Tasso Jereissati (PSDB) também interpelou Queiroga sobre falta de autonomia na condução dos trabalhos na pasta. Para o tucano, as ações do presidente desautorizam o ministro.

"O presidente desorganiza e boicota as suas orientações quando, no dia seguinte, ele faz justamente o contrário, estimula aglomeração, não uso de máscara e provoca o aumento de casos e de óbitos", disse Tasso, acrescentando: "A omissão é um erro às vezes mais grave do que uma ação errada".

Primeiro depoente da semana, Queiroga foi inquirido ainda sobre a realização da Copa América no Brasil, autorizada pelo presidente com aval do Ministério da Saúde.

O ministro assegurou não haver risco maior na realização do evento, que não contará com público nos estádios, mas mobilizará torcida, seleções e imprensa em cidades cuja rede hospitalar já está sob pressão e na iminência de uma terceira onda de casos.

Na sua resposta, Queiroga comparou a Copa América a campeonatos locais, como o Brasileiro, que, conforme o médico, teria registrado apenas um caso positivo de Covid - o torneio computou mais de 300, na verdade.

"Não tem sentido se fazer uma Copa América que outros países negaram. Não tem nenhuma vantagem para a população brasileira, o senhor mesmo reconheceu que tem risco", contestou Tasso.

Eduardo Girão (Podemos-CE) rebateu as críticas ao afirmar que Queiroga poderia "agora estar incrementando vacinação", mas participava de "uma CPI cada vez mais politiqueira".

"Chegamos ao cúmulo", prosseguiu Girão, "falta bom-senso, já temos várias competições no Brasil com protocolos rígidos de segurança sanitária".

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