Braço direito de Eduardo Pazuello no Ministério da Saúde, o coronel Élcio Franco, ex-secretário-executivo da pasta, admitiu à CPI da Covid ontem que o Governo Federal defendeu o tratamento precoce no enfrentamento da pandemia - o procedimento é comprovadamente ineficaz.
"Nossa gestão defendia o atendimento precoce do paciente, com medicamento que o médico julgar oportuno dentro da sua autonomia. E, se ele for usar algum medicamento off label, que ele faça o esclarecimento para o paciente", respondeu Franco aos senadores.
Em mais de oito horas de depoimento na comissão, o coronel do Exército negou ainda que a gestão Pazuello tenha feito compra extra de cloroquina, substância cujo uso foi estimulado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) contra a Covid.
"Por determinação do Pazuello, na nossa gestão não ocorreu aquisição de cloroquina em 2020 para combater a Covid-19", assegurou o ex-secretário.
Franco sustentou que os lotes de cloroquina adquiridos pelo Executivo foram empregados "para atender ao programa antimalária" e que, "em 30 de abril em 2020, foi assinado um termo com a Fiocruz no valor de R$ 50 mil visando a aquisição desse fármaco".
O militar também rejeitou que o Governo tenha suspendido as negociações para compra da vacina do Instituto Butantan, a Coronavac, como informou à CPI o diretor da entidade, Dimas Covas.
Aos parlamentares, Covas relatou, em oitiva, que "todas as negociações que ocorriam com troca de equipes técnicas e de documentos foram suspensas" (em outubro do ano passado) e que o contrato para fornecimento da vacina "só foi concretizado em 7 de janeiro".
Naquele mês de 2020, Bolsonaro declarou a aliados que o questionaram nas redes sobre possível compra da vacina do laboratório chinês Sinovac: "Não será comprada. Já mandei cancelar. O presidente sou eu, não abro mão da minha autoridade".
Depois disso, as 46 milhões de doses do imunizante previstas nesse acordo costurado por Pazuello foram sustadas e a compra, desfeita.
Para Franco, porém, Covas interpretou mal os termos da negociação entre o Butantan e o Governo. "Eu acredito que foi uma questão de percepção do doutor Dimas Covas. Mas a área técnica estava sempre acompanhando o desenvolvimento da vacina", narrou.
"Não recebi ordem para interromper, e elas continuaram (as tratativas com o Butantan)", continuou o ex-secretário, "e o instituto tinha o meu telefone e, em caso de alguma dificuldade de comunicação, eles poderiam ter mandado mensagem para o meu WhatsApp e poderiam ter conversado comigo".
Durante o depoimento dessa quarta-feira, porém, o ex-secretário foi confrontado com as inúmeras tentativas de contato feitas não apenas pelo Butantan, mas pela Pfizer, igualmente desconsideradas.
Vice-presidente da CPI, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) chegou a contar, ao vivo, 81 mensagens sem resposta enviadas pela empresa ao Ministério da Saúde.
Segundo Franco, contudo, havia um "grau de incerteza muito grande" e "nenhum desses laboratórios poderia nos garantir, efetivamente, que a vacina seria desenvolvida com sucesso".
Para senadores, o ex-colaborador do Governo tentou apenas blindar o presidente na CPI. Enquanto Franco desconversava sobre a cronologia da compra dos imunizantes e o Brasil se aproxima da marca de 500 mil mortes por Covid, Bolsonaro voltava a criticar as vacinas.
Em visita a uma cidade de Goiás, o chefe do Executivo se dirigiu a eleitores: "(Medicamentos como cloroquina) não têm comprovação científica. E eu pergunto: a vacina tem comprovação científica ou está em estado experimental ainda? Está (em estado) experimental", mentiu o presidente.