Não são apenas interesses políticos e a chegada de novas vacinas que explicam avanço acelerado nas campanhas de imunização pelo Brasil. Com a antecipação de etapas de vacinação em vários estados, ficou claro também o surgimento de uma série de dificuldades dos governos no cadastramento e aplicação de doses, que elevam o risco de que parte da população seja "esquecida" no processo.
No Ceará, por exemplo, até a última quinta-feira, 17, apenas 3.635.820 pessoas haviam feito e confirmado cadastro no sistema de vacinação do Estado. Como a estimativa populacional da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa) é de cerca de 4,63 milhões de pessoas, cerca de 21% da população ainda não realizou cadastro para receber a vacina.
Entre possíveis razões para a disparidade, estariam a necessidade de acesso à Internet e a equipamentos eletrônicos para a efetivação do cadastro, burocracia e instabilidade em servidores (causada pela alta demanda) do Governo do Estado. Os problemas estão longe de serem exclusividade do Ceará, sendo registrados em diversos outros estados brasileiros.
Em São Paulo, por exemplo, foram diversos os relatos de dificuldades, principalmente entre idosos, por conta da falta de padronização em sistemas de cadastro. No caso cearense, o problema ficou mais aparente no início de junho, quando surgiram nas redes sociais campanhas espontâneas para o auxílio de pessoas no cadastro da vacinação.
Uma das iniciativas de maior repercussão foi o "Cadastra Eu", lançado por estudantes dos cursos de Jornalismo e de Publicidade da Universidade Federal do Ceará (UFC). O grupo, formado inicialmente por 22 voluntários, alegava que muitas pessoas não possuíam equipamentos eletrônicos ou acesso à Internet para a realização dos cadastros.
Poucos dias depois da repercussão da ação, o próprio prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT), anunciou um “mutirão” oficial de cadastramento da Prefeitura. O projeto tem como objetivo realizar a busca ativa de diversas pessoas que podem possuir problemas no cadastramento para as vacinas, tendo como base pais ou responsáveis dos mais de 240 mil alunos matriculados na Rede Municipal de Ensino.
“Há um contingente enorme de pessoas excluídas digitalmente, sem rede social, sem acesso à Internet, e essas pessoas precisam da nossa ajuda. Serão mais de 500 mil pessoas verificadas, em busca ativa, se já possuem o cadastro. É uma ação de suma importância para que a gente dê celeridade, com democracia, à vacinação”, disse Sarto, assumindo o problema.
A ação envolve diversas secretarias da gestão municipal e ocorre em 27 Centros de Referência da Assistência Social (Cras) da Prefeitura, nos Cucas Jangurussu e José Walter, e no Centro Cultural Canindezinho, das 8h às 17 horas. Outras prefeituras do Interior do Ceará, como Sobral, também adotaram campanhas semelhantes.
O Governo do Estado também realiza ações semelhantes. A Secretaria da Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos (SPS), por exemplo, tem auxiliado na busca ativa para cadastramento e vacinação da população de rua, em programa que inclui inclusive um veículo de vacinação itinerante.