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Cleyton Monte: As falácias do voto impresso auditável
Politica

Cleyton Monte: As falácias do voto impresso auditável

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Cleyton Monte
Cientista político, professor universitário e pesquisador do Lepem (Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia)
 (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Cleyton Monte Cientista político, professor universitário e pesquisador do Lepem (Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia)

O movimento, liderado por parlamentares da extrema direta e defendido incansavelmente pelo presidente Bolsonaro, busca resgatar uma ideia antiga: aprovar o voto impresso auditável. O sucesso de tal empreitada representaria um grande retrocesso. Seus defensores desconsideram a história brasileira, o momento político em que vivemos, o processo de segurança da urna eletrônica e flertam perigosamente com valores antidemocráticos, produzindo um cenário de desinformação e insegurança no eleitorado.

Para quem não viveu as eleições antes de 1996, ano em que a urna eletrônica foi adotada pela primeira vez, recomendo a obra História do voto no Brasil, escrita pelo cientista político Jairo Nicolau. O pesquisador analisa os pleitos desde o Império até o advento da urna eletrônica. Os casos de fraude eram chocantes. Cédulas adulteradas, resultados impugnados e mortos que votavam eram comuns. Ocorria todo tipo de manipulação: antes, durante e depois do sufrágio. A demora na apuração era terrível. A dúvida pairava entre candidatos e eleitores. Os resultados eram sempre questionados. Os ares da redemocratização e a informatização da Justiça Eleitoral foram essenciais para pavimentar a lisura do processo de votação.

Após 25 anos de funcionamento, não há registro confirmado de fraude no sistema de urna eletrônica. É inegavelmente um dos mais seguros do mundo. Conta com mais de 30 camadas de segurança e mecanismos de auditoria. Todas as ações de planejamento, apuração e divulgação de resultados contam com a participação de partidos, imprensa e observadores internacionais. Para além das fake news, que disseminam o discurso de ser o Brasil a única democracia que faz uso dessa ferramenta, 35 países já utilizam a urna eletrônica para captação e apuração de votos, tais como Canadá, México, Japão e Suécia.

O projeto que busca adotar o voto impresso auditável é caro, inapropriado e não vai produzir mais segurança democrática. O mais provável é que sirva para judicializar a disputa eleitoral e alimente teorias conspiratórias - tão presentes nesses tempos sombrios. A medida vai bem na linha do que ocorre em outros países líderes por neopopulistas – o objetivo é tensionar o máximo possível as premissas eleitorais e instituições representativas, criando um clima de instabilidade permanente. É óbvio que podemos aperfeiçoar o sistema de votação, contudo, as lideranças políticas fariam melhor se buscassem mecanismos para fortalecer os partidos e aprimorar a participação cidadã!

Cleyton Monte é professor universitário e pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem-UFC)

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