Logo depois de ter alta hospitalar ontem, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sinalizou que pode vetar o fundo eleitoral de R$ 6 bilhões para 2022, aprovado por Câmara e Senado na última quinta, 15, na última sessão antes do recesso do Legislativo. "Sigo a minha consciência", disse o presidente em coletiva, "sigo a economia, e a gente vai buscar dar um bom final para isso daí. Afinal de contas, já antecipo: R$ 6 bilhões para fundo eleitoral? Pelo amor de Deus".
Antes limitado a pouco menos de R$ 2 bi, valor à disposição das candidaturas e dos partidos em 2018, o fundão foi triplicado depois da aprovação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), que fixa as balizas para a elaboração do orçamento do Governo.
Durante a votação da LDO, o dispositivo foi destacado a pedido do Novo e submetido à apreciação simbólica e não nominal, expediente que teria obrigado os parlamentares a se manifestarem pessoalmente a favor ou contra o fundão. Segundo Bolsonaro, a culpa por essa manobra (não colocar o destaque para votação nominal) foi do vice-presidente da Câmara, deputado federal Marcelo Ramos (PL-AM).
"Ele (Ramos) que fez isso tudo porque, se tivesse destacado, talvez o resultado tivesse sido diferente. Então, cobre em primeiro lugar do Marcelo Ramos. E quem está atacando parlamentares que votaram pelo fundão, isso não é verdade", defendeu.
Da bancada do Ceará na Câmara, dez deputados votaram pela aprovação da LDO que previa o fundão e oito, contrários. No Senado, dois senadores foram contra (Eduardo Girão, do Podemos, e Tasso Jereissati, do PSDB) e um a favor (Cid Gomes, do PDT).
Aprovada pelo Congresso, cabe agora ao presidente sancionar a LDO na íntegra ou vetá-la inteiramente ou em partes, retirando o fundão, por exemplo.
Ainda na entrevista, Bolsonaro tentou justificar a postura de deputados aliados nas votações. "Os parlamentares aprovaram a LDO. É um documento enorme, com vários anexos, tem muita coisa lá dentro. Num projeto enorme, alguém botou lá dentro essa casca de banana, essa jabuticaba", respondeu.
O deputado Marcelo Ramos reagiu às acusações do chefe do Executivo. "Quero lembrar com muita serenidade ao presidente que quem encaminhou a LDO com previsão de fundo eleitoral para o Congresso foi ele, foi o governo dele", rebateu ontem.
De acordo com o vice-presidente da Câmara, "quem articulou a votação na CMO (Comissão Mista do Orçamento) para definir o valor e a votação em plenário foram os líderes do governo dele".
Horas depois, pelo Twitter, Ramos concluiu: "Jair Bolsonaro sabe que está mentindo. O Governo dele enviou LDO com fundão eleitoral. Líderes do governo e filhos do Bolsonaro votaram a favor do fundão".
Um dos que ajudaram a aprovar a LDO, o deputado cearense Capitão Wagner (Pros) disse esperar agora que o presidente vete o fundão bilionário. "Vou ficar muito feliz com a posição do presidente que, ao sair do hospital, já anunciou que é contra os R$ 6 bi para o fundo eleitoral", afirmou.
Conforme ele, "a tendência é que Bolsonaro venha a vetar essa parte da LDO, como foi tentado no parlamento destacar para ser votado em separado, e nós vamos manter o veto em relação a esse grande absurdo".
Também próximo do presidente, o deputado federal Genecias Noronha (SD-CE) é mais cético sobre a recusa de Bolsonaro. Questionado se o mandatário irá vetar o fundão, ele opinou: "Acha que não veta".