Em quatro anos, o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para assumir o comando da Casa Civil, passou de alguém que chamava o chefe do Executivo de "fascista" para, agora, ocupar uma sala ao lado dele, dentro do Palácio do Planalto.
Até 2018, o senador era ligado aos principais adversários de Bolsonaro. Nas eleições presidenciais, Nogueira apoiou Fernando Haddad (PT) desde o primeiro turno, inclusive com a participação de comícios do petista no Piauí.
A decisão de apoiar o PT contrariou a própria legenda dirigida pelo parlamentar. Isso porque o PP fez parte da coligação do então candidato Geraldo Alckmin (PSDB).
Apesar de ter apoiado Haddad, Nogueira participou das reuniões que sacramentaram o apoio ao tucano. Durante a eleição de 2018, após a candidatura de Lula ter sido barrada pela Justiça Eleitoral, o senador declarou que ficaria com o ex-presidente "até o fim".
Críticas a Bolsonaro não faltaram. "O Bolsonaro, eu tenho muita restrição, porque é fascista, ele tem um caráter fascista, preconceituoso, é muito fácil ir para a televisão e dizer que vai matar bandido", afirmou Nogueira em 2017, em entrevista à TV Meio Norte, emissora do Piauí, sobre o então presidenciável pelo PSL.
Nogueira preside o PP desde 2013, dando início a uma era de influência da bancada do Nordeste no partido. Antes dele, a sigla era comandada por Francisco Dornelles, que já foi vice-governador do Rio, e tinha Paulo Maluf, ex-prefeito de São Paulo, como maior líder nacional. A legenda faz parte do centrão, grupo de partidos conhecido por sua atuação fisiológica.
Foi no ano passado, em meio ao início da aproximação de Bolsonaro com o centrão, que o senador rompeu com o PT e se declarou oposição ao governador Wellington Dias (PT-PI). Bolsonaro já foi filiado por mais de dez anos ao PP.
Apesar do longo tempo de mandato de deputado exercido pelo partido, o hoje presidente da República nunca foi escolhido pela sigla para exercer cargo de liderança ou comandar comissões.
Ex-presidente do time de futebol piauiense River, o senador já entregou uma camisa do clube a Bolsonaro, que costuma colecionar camisas de time, durante visita do presidente ao Estado, em 2020.
Nogueira é anfitrião frequente de reuniões para alianças políticas. Em 2018, sua casa em Brasília foi sede de vários encontros com caciques de DEM, PSDB, Republicanos, PL e Solidariedade.
Sua influência no governo Bolsonaro não começou agora. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Kássio Nunes, conterrâneo do senador, foi escolhido para a vaga por indicação do parlamentar, que intercedeu ao presidente. (Agência Estado)