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Monalisa Soares: Há caminhos para uma terceira via em 2022?
Politica

Monalisa Soares: Há caminhos para uma terceira via em 2022?

Ponto de vista. Monalisa Soares
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Monalisa Soares Lopes 
Cientista Política e pesquisadora do
Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem-UFC)
monalisaslopes@gmail.com


 (Foto: Arquivo pessoal)
Foto: Arquivo pessoal Monalisa Soares Lopes Cientista Política e pesquisadora do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem-UFC) monalisaslopes@gmail.com

Anthony Giddens, na obra de 1998, afirma que a expressão terceira via “não tem nenhum significado especial em si mesma [...] Ela foi usada muitas vezes na história [...] por políticos e escritores de convicções completamente diferentes”. Ainda que o sociólogo britânico use a categoria para analisar as experiências da socialdemocracia, penso que suas reflexões nos servem para refletir sobre o atual debate político da conjuntura brasileira.

No Brasil, a terceira via representa uma candidatura de fuga dos polos. Foi Marina Silva, em 2010 e 2014, quem melhor representou, programaticamente e com densidade eleitoral, a perspectiva de que havia uma parcela significativa de votantes que gostaria de uma alternativa política à polarização consolidada em torno de PT e PSDB. Em 2018, a polarização sofreu alterações com a substituição do PSDB pelo grupo do atual presidente Bolsonaro. Sendo o antipetismo a tônica da disputa, o espaço da terceira via ficou inviabilizado.

Às voltas com a disputa presidencial de 2022, o tema passa a ocupar diuturnamente o debate público. Praticamente todos os dias nos deparamos com declarações sobre um novo nome para uma provável candidatura da terceira via. O campo caracteriza-se por uma diversidade de candidaturas pulverizadas, grande parte delas programaticamente situadas à centro-direita no espectro político. No entanto, o maior dilema é que nenhuma delas apresenta percentual de intenção de votos inequívoco a ponto de dobrar as pretensões dos demais.

As pesquisas de opinião pública ainda apontam uma provável polarização entre Lula e Bolsonaro para 2022. A garantia de posição de ambos nos polos, no entanto, não poderia ser mais distinta. Enquanto, de um lado, os levantamentos indicam a consolidação da força eleitoral do petista, de outro, evidenciam o enfraquecimento do atual presidente. Além da queda na intenção de votos, Bolsonaro também viu aumento da avaliação negativa de seu governo e ampliação de apoio ao impeachment.

O presidente, por sua vez, entendeu que quanto mais difícil for contornar os obstáculos que têm se apresentado, mais se torna possível a competitividade para as candidaturas da chamada terceira via. Não à toa o presidente, que nunca havia tocado no assunto, decidiu opinar atacando: “Não existe terceira via, não vai dar certo, não vai atrair a simpatia da população”. É nesse desgaste do governo que tais candidatos podem viabilizar suas expectativas para 2022, ocupando o lugar de Bolsonaro.

Monalisa Soares
Professora do Departamento de Ciências Sociais da UFC e coordenadora do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (LEPEM-UFC)

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