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'Eu tenho culpa', diz reverendo à CPI da Covid
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'Eu tenho culpa', diz reverendo à CPI da Covid

| Retorno | Na volta da comissão, Amilton Gomes de Paula diz ter sido "usado" em oferta de vacina, chora e pede desculpas
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CPI VOLTOU ontem com depoimento do reverendo Amilton Gomes (Foto: Leopoldo Silva/Agência Senado)
Foto: Leopoldo Silva/Agência Senado CPI VOLTOU ontem com depoimento do reverendo Amilton Gomes

O reverendo Amilton Gomes de Paula chorou na CPI da Covid e pediu perdão por ter participado da negociação de vacinas com o Ministério da Saúde, classificando os contatos como "operação da vacina". Em depoimento, ele negou ter relações com integrantes do Governo Federal e afirmou ter sido "usado" para facilitar o acesso da empresa Davati Medical Supply à pasta do governo.

Amilton foi chamado à CPI após ter sido apontado como intermediador da empresa com o Ministério da Saúde. A Davati ofertou vacinas ao Governo Federal sem comprovar a capacidade de entrega de doses nem ter aval da AstraZeneca, fabricante do imunizante oferecido pela companhia.

Amilton declarou que facilitou o acesso da empresa ao Ministério por "missão humanitária", e admitiu que esperava receber uma doação para a Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah), organização fundada por ele, após o fechamento do contrato.

Durante o depoimento, o reverendo chorou ao responder a uma pergunta do senador Marcos Rogério (DEM-RO), que é presbítero da Assembleia de Deus. Aliado de Bolsonaro, Rogério pediu para que o reverendo fizesse um mea-culpa e revelasse a verdade.

"Eu queria vacina para o Brasil. Eu tenho culpa, sim. Hoje de madrugada antes de vir pra cá eu dobrei os meus joelhos, orei, e aí eu peço desculpa ao Brasil. O que eu cometi não agradou primeiramente aos olhos de Deus", disse.

Na sequência, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), questionou o reverendo sobre o que ele estaria arrependido. "É tudo Fanta, aquela Fanta Laranja que você toma, que não tem gosto de laranja, mas é Fanta. Então, o senhor agora chorou e se arrepende. O senhor chorou e se arrependeu do quê?", questionou Aziz. O reverendo respondeu em seguida: "De ter estado nessa operação das vacinas."

Anteriormente, o reverendo afirmou que havia sido usado. Ele encaminhou ao Ministério da Saúde uma oferta da Davati para compra de 400 milhões de doses da AstraZeneca, em março. O valor da dose mudou de US$ 10 para US$ 11 nesse período, de acordo com ele.

Os senadores suspeitam que esse aumento está relacionado a um suposto pedido de propina de 1 dólar pelo ex-diretor de Logística do ministério Roberto Dias, que foi preso na CPI e nega as acusações. "Entendemos que fomos usados de forma odiosa para fins espúrios e que desconhecemos", disse o reverendo.

Amilton de Paula apresentou uma versão diferente dos diálogos com o policial militar Luiz Paulo Dominghetti Pereira, que tentou vender as vacinas para o ministério. O reverendo afirmou que usou uma "bravata" ao demonstrar prestígio com o Governo Federal nas conversas com Dominghetti, reveladas pela CPI.

Ele negou proximidade com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ou com a primeira-dama, Michelle, e alegou que mentiu ao falar que estava em contato "com quem manda".

Os senadores questionaram a versão do reverendo, que não teria credenciamento para conseguir três agendas no Ministério da Saúde e demonstrar relações com autoridades do Executivo nas negociações por vacina. Um dos exemplos citados foi a ligação do reverendo com o advogado Aldebaran Luiz Von Holleben, que diz ser a reencarnação do Super Homem, herói de quadrinhos e do cinema.

"O senhor não é vítima aqui, o senhor participou de um grande enredo. Sua missão é muito maior do que proteger pessoas que brincaram com a vida dos outros", afirmou Omar Aziz.

Espionagem

A CPI aprovou ontem 129 requerimentos de convocação e quebra de sigilos e adiou o que pedia para ouvir o ministro da Defesa, Braga Netto. O senador Rogério Carvalho (PT-SE), opositor do governo Bolsonaro, acusou ontem ministro de mandar oficiais do Exército para espioná-lo.

O ministro telefonou para o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), para desmentir a acusação com o argumento de que espionagem não é sua prática nem do Ministério da Defesa. Na CPI, o petista disse que um amigo o convidou para uma conversa e lhe relatou que "um coronel da reserva acompanhado de um oficial da ativa" foram para Sergipe "bisbilhotar" sua vida "para saber o que é que podia ter para usar" contra ele.

"Eu quero dizer ao sr. Braga Netto que eu não tenho medo, que eu não abrirei mão das minhas convicções, que eu entrego a minha vida pela causa que eu defendo, que ninguém vai me intimidar", disse o senador.

 

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