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Sob cerco, Bolsonaro baixa o tom contra STF e diz respeitar a Constituição
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Sob cerco, Bolsonaro baixa o tom contra STF e diz respeitar a Constituição

| CRISE | Em nota elaborada com Temer, o presidente disse que ataques ocorreram no "calor do momento"
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EX-PRESIDENTE Michel Temer confirmou que participou na redação da nota assinada por Bolsonaro (Foto: Alan Santos/Presidência da República)
Foto: Alan Santos/Presidência da República EX-PRESIDENTE Michel Temer confirmou que participou na redação da nota assinada por Bolsonaro

Dois dias após ir às ruas para participar de manifestações antidemocráticas e atacar ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e pressionado por uma paralisação de caminhoneiros com reflexos n economia, Jair Bolsonaro (sem partido) recuou ontem de ameaças e baixou o tom do discurso contra a cúpula do Judiciário. Em nota elaborada com auxílio de Michel Temer (MDB) e divulgada na tarde de ontem, o presidente afirmou que nunca teve "intenção de agredir os Poderes" e que ataques foram feitos "no calor do momento".

"Nunca tive nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes. A harmonia entre eles não é vontade minha, mas determinação constitucional que todos, sem exceção, devem respeitar", diz a nota do Planalto. Na tarde de ontem, Bolsonaro telefonou para o ministro Alexandre de Moraes, do STF, e disse que divulgaria a declaração.

Na nota, o presidente chega inclusive a elogiar qualidades como "jurista e professor" do ministro, um dos pivôs do estremecimento de relações entre Planalto e Judiciário. "Existem naturais divergências em algumas decisões do ministro Alexandre de Moraes", diz Bolsonaro na nota, em tom bem diferente do adotado pelo presidente nos protestos, quando chamou Moraes de "canalha" e prometeu não cumprir mais as decisões do ministro.

"Quero declarar que minhas palavras, por vezes contundentes, decorreram do calor do momento e dos embates que sempre visaram o bem comum", continua Bolsonaro. Procurado, Alexandre de Moraes não quis comentar o episódio. Na avaliação de ministros do Supremo, o recuo do presidente em relação às ameaças se deu por "medo de algo" e que a Corte irá esperar para ver se a "bandeira branca" será mantida.

O tom da nota também foi reafirmado em live do presidente realizada na noite de ontem. Na transmissão, Bolsonaro negou que os protestos de 7 de setembro tenham tido caráter antidemocrático, minimizando os muitos cartazes pedindo intervenção militar e fechamento do Congresso e do STF.

"Muitos que participam querem uma reação imediata, em especial do presidente. 'Ah, eu autorizo'. Eu não vou sair das quatro linhas. Nós, cada vez mais, vamos dizer a alguns: você tem que jogar dentro das quatro linhas, também", disse. "Ninguém pediu fechamento de nada. Tem dispositivo na Constituição que eu sou contra, mas respeito".

O movimento de Bolsonaro coincide com a retomada de discussões sobre o apoio de partidos de centro - e até da base aliada - a um dos 131 pedidos de impeachment contra o presidente em análise na Câmara Federal. Depois dos atos de 7 de setembro, a Executiva do PSDB decidiu de forma unânime migrar para a oposição do governo e iniciar um debate interno sobre o impeachment. MDB e PSD também iniciaram debates neste sentido.

No Judiciário e no Congresso, a avaliação é de que a "operação 7 de setembro", vista por Bolsonaro como aposta de demonstração de popularidade e força política, deu errado. Embora um número expressivo de pessoas tenha ido às ruas em algumas capitais, os atos foram menores do que o esperado. A adesão de policiais militares, defendida diversas vezes pelo presidente, também não foi marcante.

A mudança de discurso de Bolsonaro, no entanto, causou mal estar entre diversos apoiadores de grande expressividade do presidente. O blogueiro Allan dos Santos, aliado do presidente e um dos alvos do inquérito das fake news tocado por Moraes no Supremo, chegou a publicar diversas críticas à nota, inclusive com a frase "fim de jogo". "A nota foi horrorosa e uma confissão de bravata", disse.

Outro aliado do presidente, o deputado André Fernandes (Republicanos) publicou foto nas redes insinuando que o recuo seria parte de uma estratégia do presidente, mas admitindo teor negativo da mensagem. "Um chefe que é capaz deve fingir ser incapaz; se está pronto, deve fingir-se despreparado; se estiver perto do inimigo, deve parecer estar longe". (com Agência Estado)

(leia mais em ÉRICO FIRMO, página 10; ECONOMIA, página 11; EDITORIAL, página 22)

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