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Bolsonaro critica apoiadores que o atacam por recuo: 'Não lê a nota e reclama'
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Bolsonaro critica apoiadores que o atacam por recuo: 'Não lê a nota e reclama'

| Mudança de discurso | Presidente tenta aplacar reação negativa de sua base e diz que crise política afeta alta do dólar e dos combustíveis
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BAIXADA de tom do presidente incomodou parte dos aliados (Foto: Marcos Corrêa /Presidência da República)
Foto: Marcos Corrêa /Presidência da República BAIXADA de tom do presidente incomodou parte dos aliados

Criticado por apoiadores por divulgar uma nota em que sinaliza um recuo em relação às ameaças ao Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) justificou a publicação do documento como uma espécie de antídoto à alta do dólar e ao preço dos combustíveis. Ao conversar ontem com simpatizantes, na entrada do Palácio da Alvorada, pediu que quem o ataca pela mudança de postura leia a nota com calma antes.

"O que aconteceu às três da tarde de ontem (quinta, 9). Não posso falar para cima, que o dólar… O que acontece? Cada um fala o que quiser. O cara não lê a nota e reclama. Leia a nota, duas, três vezes. É bem curtinha, são 10 pequenos itens. Entenda…", pediu Bolsonaro a apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada. "Se o dólar dispara, influencia o combustível."

Apesar da reação positiva do mercado à carta do presidente, com o dólar fechando em baixa e a Bolsa, em alta, bolsonaristas criticaram o recuo do chefe do Planalto apenas dois dias depois de ameaçar o STF nos atos de 7 de Setembro. Para o deputado Otoni de Paula (PSC-RJ), um dos mais fiéis aliados do Planalto na Câmara, "o leão virou gatinho".

"Estamos vivendo uma ditadura da toga. E o povo foi para a rua para gritar. Infelizmente, os conselheiros do presidente Bolsonaro o tornaram pequeno", afirmou o deputado no plenário.

Dois dias antes, Bolsonaro havia chamado o ministro Alexandre de Moraes, do STF, de "canalha" e prometeu desobedecer decisões do magistrado. Na nota de ontem, disse que as declarações foram feitas no "calor do momento" e que não teve "nenhuma intenção e agredir quaisquer dos Poderes".

Com a péssima reação dos bolsonaristas, especialmente os mais radicais, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, general Luiz Eduardo Ramos, também decidiu sair em defesa e justificar o movimento de moderação adotado por Bolsonaro apenas dois dias depois das manifestações. Ramos pediu paciência aos apoiadores de Bolsonaro.

"O presidente Jair Bolsonaro sempre disse que jogaria nas 4 linhas da Constituição. Mesmo assim, seus opositores o chamavam de antidemocrático. É a velha tática esquerdista: Acuse-os do que você é! Hoje, me surpreendo ao ver muitos caírem no novo discurso opositor de ofensa ao Presidente", escreveu Ramos.

O texto da nota foi elaborado com a ajuda do ex-presidente Michel Temer, que Bolsonaro mandou buscar em São Paulo para uma reunião no Palácio do Planalto. "A harmonia entre eles (Poderes) não é vontade minha, mas determinação constitucional que todos, sem exceção, devem respeitar", diz a carta à Nação assinada pelo presidente.

As ameaças antidemocráticas de Bolsonaro no 7 de Setembro resultaram em resposta dura do Supremo no dia seguinte. O presidente da Corte, Luiz Fux, afirmou que os ataques do chefe do Executivo representam um "atentado à democracia", que, se levadas adiante, configuram "crime de responsabilidade". "Ninguém fechará esta Corte", ressaltou.

Ontem, em sua transmissão ao vivo nas redes sociais, o presidente já havia tentado minimizar o recuo ao dizer que a perda de apoio da base depois da publicação do documento seria revertida em poucos dias. "Alguns querem imediatismo. Se você namorar e casar em uma semana, vai dar errado o seu casamento", acrescentou Bolsonaro durante a manhã dessa sexta-feira, 10, a exemplo do que havia dito na "live" de ontem. "A gente vai acertando."

O recuo de Bolsonaro foi recebido com desconfiança pelos ministros do STF. A percepção intramuros é de que o chefe do Executivo fez o movimento de conciliação por medo. Por isso, a estratégia adotada pelos magistrados foi a de aguardar para ver se a bandeira branca se mantém estendida diante das novas crises que rondam o governo na esteira dos eventos de 7 de Setembro. (Agência Estado) (leia mais em ÉRICO FIRMO, página 8)

(São Paulo - SP, 06/12/2018) Presidente da República Michel Temer, concede entrevista ao programa
(São Paulo - SP, 06/12/2018) Presidente da República Michel Temer, concede entrevista ao programa "Data Venia" apresentado pelo Dr. Flávio D`urso, da Rede TV. Foto: Cesar Itiberê/Presidência da República

Temer: Não se fala assim com ministro; chamá-lo de canalha é uma coisa imprópria

O ex-presidente da República Michel Temer compartilhou ontem em entrevista à BandNews FM como foram os bastidores de sua conversa com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) que culminaram na carta de harmonização entre os poderes assinada pelo Chefe do Executivo.

Segundo Temer, em um contato inicial o qual o presidente lhe permitiu que falasse "sem cerimônia", ele afirmou que o discurso de Bolsonaro no dia 7 de setembro, durante atos pró-governo, não foi "muito bom", e considerou impróprios os xingamentos do presidente contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. "Ninguém fala com um ministro do Supremo daquele jeito", declarou.

De acordo com Temer, "na tentativa de encontrar solução" para a "situação intolerável" da crise entre os Poderes, ele próprio tomou a iniciativa de redigir a carta, que mais tarde seria assinada pelo presidente.

Temer afirmou que, após compartilhar o documento com Bolsonaro, o presidente o convidou para almoçar em Brasília, na tarde de quinta-feira, 9, e, após o almoço, pediu para o ex-presidente esperar duas horas para aprovar com sua equipe a nota sugerida. Temer disse que Bolsonaro alterou apenas uma sentença do documento original.

O ex-presidente também foi responsável pela intermediação de um telefonema entre Bolsonaro e Moraes. Em uma conversa amigável, como classificou Temer - que durou cerca de 15 minutos -, Bolsonaro justificou ao magistrado que seus ataques contra ele nas manifestações aconteceram "no calor do momento".

Ao narrar a conversa entre o chefe do Executivo e o magistrado, Temer disse que Bolsonaro enfatizou que não tem "absolutamente nada" pessoal contra o ministro, e que suas divergências se concentravam apenas no campo jurídico. No entanto, o presidente ponderou, segundo conta Temer, que tais conflitos poderiam ser solucionados.

"Você sabe que aquilo (ataques) foi calor do momento, evidentemente não tenho essa impressão do senhor", narrou Temer sobre as falas de Bolsonaro. Apesar do reconhecimento dos excessos cometidos, o ex-presidente disse que Bolsonaro não pediu desculpas ao magistrado.

Na avaliação de Temer, Moraes foi "muito cordial" na conversa e enfatizou que não quer tensionar as relações com o Executivo. "São apenas questões jurídicas", justificou o ministro sobre suas recentes decisões na Corte Suprema.

"Foi um momento muito útil", classificou Temer. O ex-presidente ainda disse que não esperava uma repercussão tão intensa sobre o documento. Segundo ele, o tom otimista do País após a divulgação do documento mostra "como a opinião pública estava muito ansiosa por uma solução, para encontrar um caminho".

"Quem sabe este pode ser um caminho." Em tom otimista, Temer afirmou que tudo indica que Bolsonaro pautará suas ações com base no que está escrito no documento produzido ontem. (Agência Estado)

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