Seis dias após afirmar, na Assembleia-Geral da ONU, que o Brasil estava havia dois anos e oito meses "sem qualquer caso concreto de corrupção", o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse ontem que a prática não acabou em seu governo.
"Eliminou-se a corrupção? Obviamente que não. Podem acontecer problemas em alguns ministérios? Podem, mas não será da vontade nossa", declarou o presidente, durante evento que marcou o início das celebrações pelos mil dias de mandato.
 "Nós vamos buscar maneiras de, obviamente, apurar o caso (de corrupção) e tomar providências cabíveis com outros poderes sobre aquele possível ato irregular. Mas diminuiu muito a corrupção no Brasil, muito", afirmou Bolsonaro.
Há pelo menos dois casos de suspeita de corrupção no Governo Federal. Em maio, a Polícia Federal cumpriu mandados em operação que envolveu o então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e a cúpula do Ibama por suposto favorecimento no contrabando de madeira.
O Ministério Público Federal (MPF) e a PF também investigam o contrato do Ministério da Saúde para comprar a vacina indiana Covaxin, suspenso pelo próprio governo após a revelação de suspeitas de corrupção.
O MPF abriu também um procedimento de apuração preliminar contra dois ministros do governo Bolsonaro, Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) e Gilson Machado (Turismo), por causa do direcionamento de verbas do orçamento secreto.
A Procuradoria da República no Distrito Federal vai investigar se eles cometeram irregularidades administrativas no envio de R$ 1,4 milhão para construção de um mirante turístico ao lado de um empreendimento privado que pertence a Marinho, em Monte das Gameleiras (RN). O dinheiro foi alocado a pedido do ministro do Desenvolvimento Regional.
Ao discursar ontem, Bolsonaro disse que as "pressões" em seu governo são "menores" que em gestões anteriores. "Hoje existem (pressões)? Existem, mas bem menores", disse ele.
O presidente também falou sobre as Forças Armadas. "Se eu der ordens absurdas, vão cumprir? Não. Nem a mim, nem a governo nenhum. As Forças Armadas têm de ser tratadas com respeito", disse, sem citar nenhum fato específico.
Ainda no discurso, Bolsonaro citou o preço da gasolina e do dólar, e afirmou que o cenário ainda pode piorar. "Alguém acha que eu não queria gasolina a R$ 4 ou menos? O dólar a R$ 4,50 ou menos? Não é maldade da nossa parte, é a realidade", afirmou o presidente. "Tem um ditado que diz 'nada está tão ruim que não possa piorar'. Não queremos isso."