Saída de Romildo Rolim da presidência do Banco do Nordeste (BNB), substituído ontem pelo interino Anderson Possa, teve no centro pressões do presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto. A um ano das eleições de 2022, está em disputa a influência regional do banco, assim como a carteira de microcrédito em até R$ 30 bilhões da instituição.
Na base da mudança, está sobretudo a influência de Valdemar Costa Neto. Na última segunda-feira, 27, veio a público um vídeo, gravado pelo próprio ex-deputado e divulgado pelo PL, em que o dirigente diz ter enviado ofício a Jair Bolsonaro (sem partido) e uma série de ministros, incluindo Ciro Nogueira (Casa Civil), pedindo a destituição de toda a diretoria do banco.
Na terça-feira, 28, Costa Neto indicou ainda o engenheiro Ricardo Pinto Pinheiro para a vaga. A mudança, no entanto, precisa passar por uma série de procedimentos requeridos pelo banco, inclusive com checagem de currículo e análise de pendências na Justiça, e votações dentro dos conselhos de gestão do BNB.
No vídeo, Valdemar Costa Neto diz ter sido "surpreendido", na última sexta-feira, 24, com uma mensagem via WhatsApp de Jair Bolsonaro a respeito de um contrato de R$ 600 milhões entre o BNB e o Instituto Nordeste Cidadania (Inec), uma ONG com supostas ligações com petistas e que presta serviços a programas de microcrédito do banco. "Respondi para o presidente 'duvido, mas vou esclarecer'. Liguei para o presidente do banco e fui surpreendido", afirma o líder do PL.
"Pedimos a demissão do presidente e toda a diretoria do Banco do Nordeste. Por uma simples razão: o PL não pode manter diretores em um banco que encontram uma situação dessas e não tomam providências", afirma ainda.
Servidor de carreira do BNB desde 1989, Rolim ocupava a presidência do BNB desde 2017, indicado pelo MDB ainda no governo Michel Temer, tendo tido diversos "fiadores" ao longo dos anos. Em junho de 2020, ele chegou a ser destituído após a indicação do banco ser cedida para o PL, que apontou Alexandre Cabral para a gerência da instituição.
O indicado do partido para a vaga, no entanto, ficou apenas um dia no cargo, sendo destituído após o jornal Estado de S. Paulo revelar investigação do Tribunal de Contas da União (TCU) contra ele ainda em 2018, quando ele chefiava a Casa da Moeda.
A nomeação de indicados políticos para o comando de bancos públicos vai diretamente contra o discurso de Jair Bolsonaro durante a campanha de 2018, mas virou prática no governo desde que o Planalto passou a buscar a construção de uma base sólida no Congresso. Nesse sentido, um dos principais fiadores da gestão é o chamado "Centrão", que inclui partidos como o PL, de Valdemar Costa Neto, e o PTB, de Roberto Jefferson.
"Não vai ter mais indicação pro BNDES, Banco do Brasil, Caixa Econômica, Banco da Amazônia, Banco do Nordeste, com esse critério: botar lá indicação de um amigo pra que use a instituição pra causa própria", disse, em entrevista à rádio Jovem Pan, Bolsonaro em setembro de 2018, dias antes das eleições presidenciais.
Em nota, o BNB afirma que a parceria com o Inec existe desde 2003, para a operacionalização dos programas Crediamigo e Agroamigo, além da gestão administrativa pessoal do banco. Ele destaca que a troca da operação para outra instituição não "se mostrava vantajosa" em função do "custo e risco de se perder o investimento feito".
A instituição destaca ainda que todos os contratos são "amplamente auditados" e já passaram por diversos processos de auditoria interna e externa, incluindo pelo Tribunal de Contas da União (TCU), e não possuíam quaisquer indícios de corrupção. (leia mais em ÉRICO FIRMO, página 8; ECONOMIA, página 11; JOCÉLIO LEAL, página 14)