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Txai Suruí, a indígena que falou na COP-26
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Txai Suruí, a indígena que falou na COP-26

| Glasgow | Ativista de Rondônia que defende o povo Paiter Suruí, na Amazônia, foi a única brasileira a discursar na abertura da COP-26, diante de mais de 100 líderes mundiais
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TXAI Suruí foi a única brasileira a discursar na abertura da COP-26 (Foto: OLI SCARFF / AFP)
Foto: OLI SCARFF / AFP TXAI Suruí foi a única brasileira a discursar na abertura da COP-26

Os indígenas Paiter Suruí comemoravam o ritual Mapimaí, que festeja a criação do mundo, quando o líder Almir Suruí pôs a filha de seis anos em cima de um tronco de árvore e anunciou que ela seria uma grande líder indígena. No centro do tronco, estava Txai Suruí, na época uma criança que já acompanhava os pais nas excursões pela floresta para defender o território.

Dezoito anos após o anúncio do seu pai, Txai Suruí discursou anteontem na abertura da 26ª da Cúpula do Clima em Glasgow, na Escócia. Em dois minutos, ela citou os ensinamentos do pai em ouvir a natureza, disse que os indígenas possuem "ideias para adiar o fim do mundo" (título de um dos livros de Ailton Krenak) que devem ser ouvidas e encerrou o discurso com um verso de A vida é desafio, dos Racionais MC's: "É necessário sempre acreditar que o sonho é possível".

O discurso foi feito diante de mais de 100 chefes de Estado. Aos 24 anos, Txai foi a única indígena da América Latina e única brasileira na abertura da COP-26, ao lado de líderes como o presidente americano Joe Biden e o premiê britânico Boris Johnson. "Os líderes precisam saber que o que estamos vivendo na Amazônia também é responsabilidade deles", disse ela.

Com um traje tradicional e o rosto pintado, Txai Suruí reivindicou a herança de seus antepassados, a riqueza ecológica da Amazônia e exigiu a proteção para os líderes indígenas que são assassinados em defesa de suas comunidades. "Hoje o clima está esquentando, os animais estão desaparecendo, os rios estão morrendo e nossas plantas não florescem como antes", afirmou a jovem.

Txai Suruí falou pouco antes do secretário-geral da ONU, António Guterres, que pediu por sua vez aos líderes presentes que cheguem a acordos para "salvar a humanidade" da mudança climática. "A Terra está falando conosco e está dizendo que não temos mais tempo. Precisamos de outro caminho. Não em 2030, não em 2050, mas agora", disse a indígena, referindo-se às principais metas de progresso estabelecidas pela comunidade internacional.

Filha do cacique Almir Suruí e da indigenista Neidinha Suruí - duas das lideranças indígenas mais conhecidas no País -, Txai aprendeu a importância de defender o território dos povos da floresta. Desde criança, ela vê os pais ameaçados de morte por garimpeiros e grileiros que invadem terras indígenas.

Em 2012, as ameaças contra os pais de Txai se tornaram tão graves que a família precisou andar escoltada pela Força Nacional. Na época, se sentia uma prisioneira. "Ela dizia que preferia morrer do que estar o tempo todo com a polícia, porque aquilo não era liberdade e não era justo viver assim por defender o território", relembrou a mãe, Neidinha Suruí.

Nos últimos anos, as tensões entre indígenas e invasores de terras (em sua maioria, grileiros e garimpeiros) voltaram a aumentar. O pai de Txai, o cacique Almir Suruí, chegou a ser alvo de inquérito da Polícia Federal por causa de críticas ao Governo Federal - foi arquivado depois. Já o amigo de infância, Ari Uru-Eu-Wau-Wau, foi assassinado em 2020. "O Brasil precisa mudar radicalmente se quiser salvar o planeta", disse Txai.

A violência não intimida Txai, que costuma ir a áreas de conflitos entre indígenas e grileiros. Como estudante de Direito, atua no núcleo jurídico da Associação de Defesa Etnoambiental - Kanindé, para povos da Amazônia. No início do ano, também criou o Movimento de Juventude Indígena de Rondônia, que reúne mais de 1,7 mil jovens. (das agências)

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