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A 12 dias do Enem, 33 técnicos pedem demissão no MEC
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A 12 dias do Enem, 33 técnicos pedem demissão no MEC

| Debandada | Crise no órgão se agrava. Servidores dizem que decisões não são tomadas com critérios técnicos
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Trinta e três servidores do órgão do Ministério da Educação (MEC) responsável pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) pediram ontem exoneração e dispensa coletiva. Faltam 12 dias para a prova, marcada para os dias 21 e 28, com 3 milhões de estudantes. Os funcionários desempenham funções cruciais para a realização do exame, em áreas como planejamento, aplicação, logística, contratos e tecnologia.

A demissão coletiva, no início da tarde, envolvia 13 nomes e, ao longo de todo o dia, mais funcionários decidiram aderir. O ato é um agravamento da crise que se instaurou no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) desde o início do governo de Jair Bolsonaro.

O atual presidente Danilo Dupas - o quarto em três anos - é acusado de desmonte do órgão mais importante do MEC, assédio e desconsideração de aspectos técnicos.

A carta de demissão diz que eles entregaram os cargos por causa da "fragilidade técnica e administrativa da atual gestão máxima do Inep". Os demissionários representam 20% dos atuais 164 ocupantes de cargos no Inep. Todos são servidores antigos e experientes, com várias provas do Enem.

A reportagem apurou que integrantes da Cesgranrio, consórcio contratado para aplicar o Enem, temem o que possa acontecer com a prova sem a interlocução e a experiência dos técnicos que saíram. Oficialmente, a empresa informou que não pode fazer comentários "por força contratual".

Entre os que têm de acompanhar e fiscalizar o cumprimento do contrato com a Cesgranrio mais da metade pediu exoneração. A servidora Danusa Fernandes Rufino Gomes, por exemplo, é a gestora do contrato.

Já Denys Cristiano de Oliveira Machado cuida da fiscalização da base de dados sobre a distribuição das provas por sala. Vanderlei dos Reis Silva e Samuel Silva Souza são do grupo que acompanha a aplicação em tempo real e envia informações ao Inep. Também assina a carta de exoneração Andréia Santos Gonçalves, que faz a supervisão das atividades de monitoramento da prova.

"Está saindo todo mundo do sistema de monitoramento de incidentes, que é o radar do Inep para solucionar os problemas de aplicação do Enem", disse um servidor que pediu para não ter seu nome publicado. "O Enem vai ser realizado num voo às cegas."

Outra servidora disse que "todos que cuidam da logística de aplicação do exame entregaram os cargos" e o Inep ficou "acéfalo". Segundo ela, quem tomaria as decisões seria a alta gestão da casa, "que não está se envolvendo tecnicamente no exame." Ela pediu para não ser identificada. A realização do exame, segundo ela, está em risco.

A exoneração precisa ainda ser aceita por Dupas e publicada. Não se sabe se os servidores serão substituídos. Procurado, o Inep não respondeu. Em seu site afirmou que "o cronograma do Enem 2021 está mantido".

Já o ministro da Educação, Milton Ribeiro, disse no Twitter que "os servidores colocaram à disposição os cargos em comissão ou funções comissionadas das quais são titulares, mas que continuam à disposição para exercer as atribuições dos cargos até o momento da publicação do ato no Diário Oficial da União".

O deputado federal Israel Batista (PV-DF), presidente da Frente Parlamentar Mista da Educação, pediu que Ribeiro seja convocado para dar explicações na Comissão de Educação amanhã. "A preocupação é imensa, o Enem está, sim, sob grave ameaça neste momento."

Diante do aumento da crise, a ex-presidente do Inep, Maria Helena Guimarães de Castro, tentou interceder na sexta-feira, 5, pedindo que o ministro conversasse com Dupas para tentar barrar a debandada.

A reportagem apurou que, ao ser indagado sobre problemas no órgão, Dupas teria dito que tudo estava sob controle. A resposta do presidente de Inep serviu de estopim para o pedido de exoneração.

"Eu temo pelo Enem, cabe ao presidente do Inep abrir diálogo com os servidores, que são experientes e dedicados. Não se pode desmontar o Inep às vésperas da avaliação", disse Maria Helena.

O Conselho de Secretários de Educação (Consed) divulgou nota dizendo que "acompanha com muita preocupação o pedido de exoneração coletiva". Na quinta-feira, uma manifestação da Associação de Servidores do Inep (Assinep) denunciou assédio moral do presidente e afirmou que "o clima é de desconfiança, intimidação e perseguição". (Agência Estado)

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