A despeito da promessa de recuperação em V feita pelo Governo Federal a partir da maior geração de empregos e melhor renda, a chegada dos boletos a cada mês força o cearense a encarar uma realidade na qual o salário diminuiu e o custo vida aumentou: a carestia vai desde a comida até a manutenção da casa.
Das prateleiras dos supermercados aos postos de gasolina, passando pelos preços em aplicativos de transporte e na alimentação fora de casa, os indicadores oficiais correm atrás dos reajustes numa velocidade acelerada.
"Quando a gente olha os indicadores, não refletem tanto a realidade. O salário do trabalhador e a inflação são ajustados em ritmos diferentes e esses produtos corroem a renda", observa Wandemberg Almeida, economista do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE).
Ele refere-se exatamente aos números divulgados ontem, 10, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que apontaram uma desaceleração em Fortaleza. O avanço do indicador foi de 0,96% - 0,26 ponto percentual menor do que no mês anterior. Na prática, significa dizer que ficou caro, mas não tanto como foi em setembro.
Apenas em 2021, a inflação na Região Metropolitana de Fortaleza acumula alta de 8,87% e, nos últimos 12 meses, de 11,34%, acima dos 11,19% observados nos 12 meses imediatamente anteriores. Em outubro de 2020, a variação mensal foi de 0,83%.
Os grupos investigados pelo IBGE para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) - a inflação mais geral pesquisada - trazem os combustíveis como os principais responsáveis pelo aumento dos preços.
É dos transportes que vêm os maiores aumentos. O efeito em cadeia também já é conhecido: comida, roupa e o que mais for de insumo para o fornecimento de serviços precisa ser transportado e, por isso, sofre efeito da alta de gasolina, diesel, etanol e GNV.
"Dizer que os preços variaram de 10% a 12% não condiz com a verdade, pois percebemos variações de 30% a 40% em alguns itens. A cesta de produtos pesquisadas também precisa mudar", comenta o economista.
Do topo da cadeia que conduz a política monetária do País, o Banco Central se adiantou mês passado e ajustou o teto da inflação para 8,5% neste ano. Antes, era 5,8%. A explicação, segundo Almeida, está na política de juros que precisa ser efetuada ao mesmo tempo e que já complica a tomada de empréstimos pelas pessoas físicas e os financiamentos mais robustos pelas pessoas jurídicas.
"Precisamos chegar a um denominador comum entre a política monetária e a fiscal, pois assim poderemos dar condições do País crescer", aconselha o economista, projetando uma reforma tributária de menor impacto sobre o consumo que, na prática, vem sendo tentada por três ex-presidentes sem sucesso.
Ao mesmo tempo, mais um indicador oficial, a Taxa Básica de Juros - Selic -, tem complicado a atividade da construção civil. Setor produtivo responsável por contratação em massa e diretamente relacionado ao bem mais caro que o brasileiro busca obter, a casa própria, a construção teve o volume de compras sensivelmente menor após os ajustes feitos na Selic neste ano, segundo Patriolino Dias de Sousa, presidente do Sindicato da Construção no Ceará. "As taxas de juros de financiamento imobiliário já previam o aumento."
Os preços dos itens usados pela construção também têm agravado o cenário neste setor. Em falta ou com valores cuja variação chegou até a 100%, como o aço, esses produtos tornaram a construção e a reforma ainda mais caras. Em outubro, segundo o IBGE, o metro quadrado construído no Ceará ficou em R$ 1.379,18 e já contabiliza um aumento de 14,39% neste ano.