Neste sábado 20, entre as atividades do Dia da Consciência Negra, entidades sindicais e movimentos populares realizam um protesto contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), em defesa da igualdade racial, da vida, da democracia e do emprego.
Em Fortaleza, a concentração está marcada para as 8 horas no Passeio Público (Praça dos Mártires), com saída de cortejo às 10 horas para a Praça dos Leões – ambas no Centro. Outros atos também devem ocorrer em Juazeiro do Norte e São Benedito.
Com o tema “Fora Bolsonaro Racista – nem fome, nem bala, nem Covid”, os protestos têm como pauta principal a luta contra o racismo. Na capital cearense, a mobilização é a sétima realizada contra o presidente da República em 2021.
A manifestação também levantará bandeiras contra outros problemas nacionais, como desemprego, alta no custo dos alimentos, do gás, dos combustíveis, da conta de luz e da moradia, além do aumento pobreza e da fome.
A ação é organizada pelos movimentos Frente Brasil Popular Ceará, Frente Povo sem Medo, Coalizão Negra por Direitos, Movimento Negro Unificado e Fórum Sindical, Popular e de Juventudes de Luta pelos Direitos e pelas Liberdades Democráticas. Entre as entidades que compõem as articulações, está o Sindicato dos Docentes das Universidades Federais do Estado do Ceará (ADUFC-Sindicato).
Para Vílani Oliveira, coordenadora estadual do Movimento Negro Unificado do Ceará (MNU-Ceará), o encolhimento do Estado e das políticas sociais, comandado, segundo ela, por um Governo Federal "sem compromisso com a população mais vulnerável", tem aumentado significativamente as desigualdades sociais no Brasil. E esse cenário impactaria de forma mais direta as pessoas negras.
“Neste ano, a data ganha um significado maior diante desse governo que vem causando um desmonte nas políticas públicas e acentuando as desigualdades sociais, a fome, a vacina, que não chegou a todo mundo. Nós, pretos e pretas, somos os mais vulneráveis a essa situação”, aponta Vílani.
“É grande o desemprego no Brasil, que atinge a população preta. A violência da polícia, que sempre bate nos couros dos pretos. As balas, que sempre encontram corpos pretos. E o encarceramento em massa, que tem a cor preta”, completa.
A integrante da coordenação municipal do MNU-CE e da articulação nacional Coalizão Negra por Direitos, Daniela Silva, reforça que o racismo estrutural produz desigualdades que atravessam as existências de negros e negras.
“A população não negra cada dia mais tem consciência do descaso histórico que o Estado brasileiro tem para com nosso povo negro. Um projeto genocida, uma herança pós-escravidão que nos foi dada a condição de sobrevivência pela própria sorte e da qual somos vítimas até os dias de hoje”, diz.
Além das reivindicações sociais, o ato contará com manifestações artístico-culturais na Praça dos Leões com o objetivo de reforçar e valorizar a resistência da cultura negra. Para o momento, Pingo de Fortaleza, Calé Alencar e Maracatu Solar estão entre os artistas confirmados.
“A gente não quer ser lembrado apenas pelas nossas dores, mas por pautas afirmativas e reparadoras. É importante dar visibilidade e externar nossa alegria, nossos cantos, danças, vivências, relembrando a nossa ancestralidade e reverenciando os que vieram antes de nós e abriram caminhos para que a gente trilhasse essa caminhada coletivamente”, avalia Vílani Oliveira.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nos últimos anos, houve um aumento da exclusão social, e o alvo maior continua sendo o povo negro: 38% das mulheres negras estão na miséria.
Também são os negros que lideram os índices de desemprego e amargam os piores postos de trabalho, com remuneração média quase R$ 1.000 abaixo dos trabalhadores brancos. A taxa de informalidade também revela o racismo estrutural no país: 30,1% para os empregos dos brancos, 39,9% para os pretos e 43,5% para os pardos.