As reações dos servidores públicos ao reajuste apenas para policiais, aprovado na última terça-feira, 21, dentro do Orçamento de 2022, vieram rápido. Ontem, os auditores da Receita Federal deram início a um movimento de entrega de cargos de chefia, em protesto tanto pela falta de aumento salarial quanto pelo corte de verbas destinadas ao órgão.
No total, segundo o Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita (Sindifisco), cerca de 500 profissionais da categoria haviam entregado seus cargos comissionados em todo o País até o início da noite. O movimento pode ser seguido por outras categorias.
A entrega de cargos de chefia em comissão não significa que eles estejam pedindo demissão - continuam exercendo suas funções como servidores concursados. Mas, sem gente na chefia, o órgão fica sem comando e as atividades, comprometidas. Segundo o Painel Estatístico de Pessoal, um salário de auditor fiscal na Receita pode chegar a R$ 30.303,62.
A categoria fará uma assembleia hoje e o indicativo do Sindifisco é para a entrega de todos os cargos de chefia e a paralisação total das atividades. "Vamos formalizar a entrega de cargos em todos os graus de hierarquia. Não é intenção, é entrega formal. Vamos deixar o órgão à deriva, e só cumprir questões administrativas", disse o presidente do sindicato, Kleber Cabral.
O maior impacto do movimento deverá ocorrer nas aduanas, por onde só deverão passar com normalidade medicamentos, carga viva e bens perecíveis. Os relatórios gerenciais deixarão de ser preenchidos e gerentes de projetos do órgão também abandonarão seus postos.
"Não vamos incomodar as pessoas no fim do ano. O viajante internacional não precisa se preocupar, porque não haverá mudança nas rotinas nos aeroportos", promete Cabral.
O presidente do Sindifisco espera que o governo dê uma resposta à demanda dos auditores ainda neste ano. "O governo terá de indicar como pretende recompor o orçamento da Receita, precisamos desse compromisso."
Para Gabriel Barros, economista-chefe da RPS Capital, a aprovação de R$ 1,7 bilhão para reajustes a policiais no Orçamento tem o potencial de gerar uma forte pressão de outras categorias e tornar ainda mais difícil a reconstrução do arcabouço fiscal em 2023. Segundo ele, o risco de essa pressão se transformar em aumento dos gastos em 2022 é baixo, mas ela tende a contaminar o debate à frente.
"Isso vai gerar uma demanda enorme por reajuste de muitas carreiras, que acumula e vira uma panela de pressão até o início de 2023", diz. "Se o próximo governo começar o debate da agenda econômica dando reajustes salariais para servidor, começa errado", afirma. (Agência Estado)