O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a criticar nesta segunda-feira, 10, os gestores estaduais por atuação durante a pandemia da Covid-19. Em entrevista à TV Jovem Pan, após se considerar "a pessoa mais importante do Brasil" no momento, o chefe do Executivo Federal atacou "governadores petistas", entre eles Camilo Santana, do Ceará.
“Eu acredito que sou a pessoa mais importante do Brasil no momento. Se tivesse no meu lugar um petista, eu acho que esse Brasil já era uma Venezuela”, disse. Ele também reforçou críticas contra governadores. “O que os governadores petistas fizeram nos seus estados foi algo de assombrar, como na Bahia e em outros estados de esquerda também, como Ceará”, acrescentou.
Não é a primeira vez que Bolsonaro levanta críticas ao governo cearense. Em agosto de 2020, durante visita ao Ceará e junto à sua comitiva para desembarcar no município de Juazeiro do Norte, na região do Cariri, Bolsonaro disse que Camilo atuou de forma "criminosa e maldosa" ao decretar as medidas sanitárias, como lockdown e isolamento social.
"Essa medida, por alguns governadores, dentre eles deste estado, foram além de impensadas, foram muito mal recebidas pela população, mandar ficar em casa sem prover ganhos para sua subsistência, isso é mais do que uma maldade, é um ato criminoso", disse o presidente.
No mesmo dia, posteriormente, Camilo respondeu as críticas do presidente defendendo que "criminoso é ignorar a perda de mais de meio milhão de vidas na pandemia e ainda debochar da dor das famílias", em referência à postura de Bolsonaro na condução da pandemia no País.
O prefeito de Fortaleza José Sarto (PDT) saiu em defesa de Camilo e criticou nas redes sociais a fala de Bolsonaro. "De assombrar é estimular o uso de medicamentos sem comprovação científica, ir contra o uso de máscara, provocar aglomerações no auge da pandemia, boicotar e atrasar aquisição de vacinas, aproveitar todas as oportunidades para desencorajar a população a se imunizar contra a Covid", afirmou o prefeito.
De assombrar é estimular o uso de medicamentos sem comprovação científica, ir contra o uso de máscara, provocar aglomerações no auge da pandemia, boicotar e atrasar aquisição de vacinas, aproveitar todas as oportunidades para desencorajar a população a se imunizar contra a Covid.
— Sarto (@sartoprefeito12) January 10, 2022
Nessa segunda, Bolsonaro defendeu ainda que o lockdown e outras ações para conter o avanço da Covid-19 no Brasil não passaram de um plano de outros políticos para desgastar sua gestão.
“No meu entender, [o lockdown] foi um trabalho orquestrado para tentar, pela economia, me desgastar. É comum em um país como o Brasil, tudo o que acontece a pessoa apontar primeiro para o presidente da República: ‘ele é o responsável’”, disse o presidente.
Na mesma entrevista à Jovem Pan, Bolsonaro respondeu à carta em que o presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, se defende de questionamentos ao órgão e cobra uma retratação do chefe do Executivo. Bolsonaro disse que não acusou ninguém de corrupção e voltou a levantar dúvidas sobre as "intenções" da Anvisa ao recomendar a vacinação de crianças entre 5 e 11 anos.
"Me surpreendi com a carta dele. Não tinha motivo para aquilo. Eu falei o que está por trás do que a Anvisa vem fazendo?' Ninguém acusou ninguém de corrupção. Por enquanto, não tenho o que fazer no tocante a isso aí", disse o presidente. "Eu que indiquei o almirante Barra para a Anvisa, a indicação é minha, assim como outros da diretoria passaram pelo crivo meu", acrescentou.
No último sábado, 8, Barra Torres rebateu Bolsonaro e cobrou uma retratação pública do presidente. A reação do chefe da agência reguladora aconteceu dois dias depois de Bolsonaro levantar suspeitas sobre a diretoria do órgão, ao reclamar do aval da Anvisa para a vacinação de crianças de 5 a 11 anos contra Covid-19.
"Se o senhor não possui tais informações ou indícios, exerça a grandeza que o seu cargo demanda e, pelo Deus que o senhor tanto cita, se retrate", cobrou o militar da reserva da Marinha, ao desafiar o presidente a apontar indícios de corrupção contra ele.
Na entrevista, Bolsonaro disse que a Anvisa é um órgão independente, não sofre interferência, mas que o trabalho "poderia ser diferente". "Não estou acusando a Anvisa de nada. Agora, se tem alguma coisa acontecendo, não há a menor dúvida", afirmou o presidente, que falou em "segundas intenções" da agência.
O presidente também afirmou que Barra Torres ganhou "luz própria" depois de ter sido indicado para o cargo na Anvisa. "Eu sei que é ele quem decide", declarou.