O deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) afirmou que pretende pedir a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara dos Deputados para investigar suposto "conflito de interesse" sobre o período em que o ex-juiz da Lava Jato e pré-candidato à Presidência Sérgio Moro (Podemos) trabalhou na empresa Alvarez & Marsal. Para a comissão ser instalada, são necessárias 171 assinaturas de deputados.
"Vou pedir uma CPI por conflito de interesse: A Álvares (sic) & Marsal foi contratada para fazer a recuperação judicial das empresas que foram processadas pelo juiz da 13ª Vara de Curitiba. O valor pago foi de R$ 750 milhões. Quem a empresa contratou como consultor? Foi Sergio Moro", escreveu o parlamentar no Twitter.
Vou pedir uma CPI por conflito de interesse: A Álvares & Marsal foi contratada para fazer a recuperação judicial das empresas que foram processadas pelo juiz da 13a Vara de Curitiba. O valor pago foi de R$ 750 milhões. Quem a empresa contratou como consultor? Foi @SF_Moro .
— Paulo Teixeira (@pauloteixeira13) January 22, 2022
Em dezembro, o ministro Bruno Dantas, do Tribunal de Contas da União (TCU), pediu que a empresa dos EUA revelasse quanto pagou ao ex-juiz depois que ele deixou o cargo, em outubro. A consultoria contratou Moro após sua saída do Ministério da Justiça do governo Bolsonaro.
A Alvarez & Marsal recebeu ao menos R$ 65,1 milhões de empresas envolvidas na operação Lava Jato. O valor é 78% de todo o faturamento por administração judicial que a consultoria alega ter tido de 2013 até o ano passado. Os dados foram anunciados por determinação do ministro Dantas de derrubar sigilo sobre o processo que investiga se houve conflito de interesses no contrato entre Moro e a empresa.
Dantas acolheu pedido feito pelo Ministério Público no final de 2021. O órgão defende ser preciso investigar o fato de o ex-juiz ter "proferido decisões judiciais e orientado condições para celebração de acordos de leniência da Odebrecht e, logo em seguida, ter ido trabalhar para a consultoria que faz a administração da recuperação judicial da mesma empresa".
Correligionário de Moro, o senador cearense Eduardo Girão usou suas redes sociais nessa segunda-feira, 24, para criticar a articulação de instalar uma CPI na Câmara para investigar a relação de Moro com a Alvarez & Marsal.
Em publicação, o parlamentar, cabo eleitoral de Moro no Ceará, avaliou a tentativa de CPI como "implacável e explícita perseguição política em ano eleitoral". "Seria a desmoralização completa de nosso Congresso - já tão desacreditado perante o cidadão de bem brasileiro", disse.
Segundo Girão, caso aprovada, a comissão deve ser prova da "subserviência" no Parlamento "a um governo que, infelizmente, abraça o Centrão", e ao "PT na sabotagem do enfrentamento à corrupção além de perpetuar velhas práticas da barganha politiqueira.
"Aliás, bandeiras de campanha que tinha se comprometido com a população a não fazer, o fundão da vergonha (R$ 5 bilhões), o orçamento secreto- emendas do relator (R$ 16 bilhões) e o próprio pacote anticrime, de autoria do ex-juiz e ex-ministro, que o digam", escreveu.
Em referência à instalação da CPI da Covid em 2021, da qual foi membro, o senador lembrou ter sido vítima de uma "manobra" entre governistas e oposição que resultou na derrota de um requerimento seu que visava ouvir o diretor geral da Polícia Federal sobre supostos desvios de verbas da Saúde a serem enviados à Estados e municípios".
"Fui voto vencido. O único! Pois não é que se uniram novamente para transformar “herói em vilão” por puro projeto de poder? Uma inversão completa de valores. Entretanto, a justiça e a verdade vão prevalecer e Moro crescerá com essa 'caçada' pois a população não é tola e está percebendo por que isso tudo está acontecendo justamente agora", concluiu.
O ex-juiz confirmou que visitará o Ceará no próximo dia 6 de fevereiro, na esteira das articulações para as eleições deste ano. Girão deve ser o articulador da visita.
Durante entrevista ao jornalista José Luiz Datena, o pré-candidato à Presidência Ciro Gomes (PDT) falou das suas impressões sobre Sergio Moro, contra quem disputa lugar na chamada "terceira via". O pedetista afirmou que o ex-juiz da Lava Jato se beneficiou financeiramente dos julgamentos que conduziu no âmbito da operação, no tempo em que atuava na 13ª Vara Federal de Curitiba.
Ciro lembrou que Moro julgou processos contra a Odebrecht e mais tarde, já como ex-ministro do governo Bolsonaro, foi trabalhar para a banca de direito americana que atuou no processo de recuperação judicial da empresa, que acumulou dívidas em razão dos desdobramentos do esquema de corrupção julgado pelo ex-juiz.
Ciro insinuou que Moro ajudou a quebrar a empresa propositalmente para depois trabalhar com quem administrou o processo falimentar da companhia. O pré-candidato do PDT cobrou que o ex-juiz divulgue o quanto ganhou do escritório americano Alvarez & Marsal e mencionou a investigação em curso no TCU sobre o caso.
“Moro encheu o bolso de dólar e agora está sendo investigado e não diz o quanto ganhou. Por que ele não diz? Por que ele não explica que foi trabalhar para uma multinacional americana, cuja a sede é em Nova York, e ele foi trabalhar em Washington?”, disse Ciro.
Em dezembro do ano passado, o TCU determinou que o escritório Alvarez & Marsal revele quanto pagou ao ex-juiz Sergio Moro depois que ele deixou a empresa, em outubro deste ano, para iniciar carreira na política.
O MP defende que a investigação é necessária, pois Moro proferiu decisões judiciais e orientou as condições para celebração de acordos de leniência da Odebrecht, empresa alvo da Lava-Jato e, logo em seguida, foi trabalhar para a consultoria que faz a administração da recuperação judicial da mesma empresa. (colaborou Maria Eduarda Pessoa)