Dirigentes dos Estados Unidos e vários países europeus, entre eles a Alemanha, afirmaram seu apoio "sem reserva" à integridade territorial da Ucrânia e alertaram a Rússia para "graves consequências" em caso de invasão daquele país, anunciou ontem o governo alemão, após videoconferência com representantes de EUA, França, Reino Unido, Itália e Polônia.
Moscou colocou mais de 100 mil soldados posicionados na fronteira e tem realizado exercícios militares, o que levou os países ocidentais a também mobilizarem seus exércitos.
A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) reforçou a capacidade de defesa do flanco leste da Europa e está enviando mais navios e jatos de combate para a região.
O Pentágono informou que tem 8,5 mil militares dos EUA prontos para agir sob comando da Otan, e outras dezenas de milhares serão postas em prontidão. O fato representa uma escalada na direção do envolvimento militar americano, segundo funcionários do governo dos EUA.
A Casa Branca ordenou que as famílias dos seus diplomatas na capital da Ucrânia, Kiev, deixem o país. Segundo o governo americano, a medida se deve a uma "ameaça persistente de uma operação militar russa" na Ucrânia, informou o Departamento de Estado.
O Reino Unido também começou a retirar funcionários da embaixada em Kiev, reduzindo pela metade o efetivo, segundo a emissora pública BBC, embora funcionários do governo de Boris Johnson tenham afirmado que não houve nenhuma ameaça específica contra cidadãos britânicos no país.
De acordo com o Departamento de Estado americano, os funcionários locais podem deixar a embaixada se desejarem, e os cidadãos americanos que residem na Ucrânia "devem agora considerar" deixar o país em voos comerciais ou outros meios de transporte. Ao New York Times, funcionários do governo de Joe Biden admitiram que a medida foi tomada "por excesso de precaução".
A Embaixada americana EUA em Kiev alertou em comunicado que "a ação militar da Rússia pode ocorrer a qualquer momento e o governo dos Estados Unidos não estará em condições de remover cidadãos americanos em tal contingência, portanto, os cidadãos dos EUA atualmente presentes na Ucrânia devem se planejar adequadamente".
Os participantes da videoconferência de ontem "coincidiram em que a Rússia deve empreender iniciativas visíveis de desescalada" neste conflito, informou o porta-voz do chanceler alemão, Olaf Scholz, após a videoconferência de ontem.
A realização do encontro virtual havia sido anunciado mais cedo, quando algumas divergências pareciam surgir no campo ocidental sobre a atitude a adotar em relação à Rússia.
Isso diz respeito especialmente à Alemanha, que é fortemente criticada pela Ucrânia por sua recusa em fornecer armas, mesmo defensivas, como fazem os EUA, o Reino Unido ou os países bálticos.
Na videoconferência, da qual também participou o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, os líderes ocidentais expressaram "grande preocupação" com a concentração de tropas russas na fronteira oriental da Ucrânia e acusaram a Rússia de causar as "tensões atuais", segundo o comunicado alemão.
Mas consideraram que "a questão da segurança e estabilidade na Europa poderia ser resolvida por meio de negociação".
Ucrânia e Rússia estão em desacordo desde que o governo russo anexou a península da Crimeia em 2014. A situação se agravou com o conflito no leste da Ucrânia, que deixou mais de 13 mil mortos e onde a Rússia é acusada de apoiar os separatistas. O Kremlin nega. As tensões aumentaram nos últimos meses, devido a acusações por parte dos países ocidentais de que Moscou prepara uma invasão.
Vários navios russos de desembarque de tanques e tropas deixaram o Báltico nos últimos dias e se dirigem para o sul, provavelmente em direção ao Mar Negro.
Além disso, "os russos anunciaram um exercício em larga escala em Belarus, de 9 a 20 de fevereiro, no qual estão movendo todo tipo de equipamento militar, aviões de combate, mísseis antiaéreos, etc.", segundo William Alberque, diretor de pesquisa do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS).
Como resultado, "a Ucrânia estará completamente cercada por quase uma centena de grupos de combate russos": ao norte, Belarus, ao sul, a presença russa na península ucraniana da Crimeia - anexada em 2014 -, e a leste, o Donbass, mergulhado em uma guerra com separatistas pró-russos.
O presidente russo, Vladimir Putin, acusa os ocidentais de exacerbarem as tensões, ao entregarem armamento moderno à Ucrânia e fazerem "exercícios militares provocativos" no Mar Negro e perto de suas fronteiras. (com AFP, DW e Agência Estado)
A mobilização das tropas no Leste Europeu
A movimentação militar russa na fronteira com a Ucrânia tem como resposta a mobilização de tropas da Europa e dos Estados Unidos, e incomoda a Rússia. A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) anunciou ontem o envio de mais navios e jatos de combate para o Leste Europeu.
A Otan também mobiliza forças adicionais, após a Irlanda reclamar de possíveis novas manobras militares da Rússia em área próxima a sua costa, num momento de tensões sobre um possível ataque de Moscou à Ucrânia.
Do outro lado do Atlântico, o Pentágono determinou que centenas de militares dos Estados Unidos fiquem de prontidão para eventual envio ao Leste Europeu. O secretário de imprensa do Pentágono, John Kirby, disse que cerca de 8,5 mil militares norte-americanos estão prontos, caso a Otan decida agir.
A Otan anunciou que está ampliando sua capacidade de "dissuasão" na região do mar Báltico. A Dinamarca está deslocando uma fragata e jatos F-16 para a Lituânia. A Espanha também está mandando navios de guerra e poderá enviar jatos para a Bulgária. A França, por sua vez, está em alerta para mandar tropas ao território búlgaro.
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg disse que o grupo "tomará todas as medidas necessárias para proteger e defender todos os aliados" e "sempre responderá a qualquer deterioração de nosso ambiente de segurança".
A iniciativa da Otan veio num momento em que chanceleres da União Europeia (UE) fizeram um gesto de apoio à Ucrânia. "Estamos mostrando união inédita em relação à situação na Ucrânia, sob forte coordenação com os Estados Unidos", disse o chefe de política externa da UE, Josep Borrell, a repórteres em Bruxelas.
O Pentágono não informou em quais circunstâncias pode enviar tropas, mas funcionários afirmaram que isso poderia enviar um sinal à Rússia de que os Estados Unidos reforçariam rapidamente as defesas dos aliados, caso ocorra uma incursão russa na Ucrânia. O secretário de imprensa disse que ativar tropas americanas seria uma decisão da Otan.
As tropas poderiam também ficar a postos caso os EUA decidam retirar dezenas de milhares de americanos que atualmente vivem na Ucrânia, disseram as fontes.
As forças não serão autorizadas a entrar na Ucrânia, disseram os funcionários americanos, mas poderiam ser usadas como apoio para qualquer contingência. Muitas delas precisam estar preparadas para se mobilizar dentro de 18 a 36 horas, segundo eles.
O porta-voz do Pentágono reforçou o compromisso dos Estados Unidos com a Otan. Kirby defendeu que a administração está trabalhando em "todo um pacote" para tentar deter um eventual ataque pelo presidente russo, Vladimir Putin. Enviar tropas à Ucrânia é uma maneira de "enviar uma mensagem forte", disse ele.
O porta-voz disse ainda que a Rússia continua a agir e mover tropas em direção à Ucrânia. "Está ficando maior", afirmou, "Nosso trabalho é garantir que, caso a Rússia faça algo, estejamos prontos para agir." (das agências)
Crise na Ucrânia
A resolução para a crise entre russos e ucranianos, que abraça interesses de europeus e dos Estados Unidos, é uma pauta que requer urgência em 2022. O empurrar com a barriga praticado em questões decorrentes da anexação da Crimeia pelos russos, em 2014, parece inviável no atual cenário em que Moscou mobiliza centenas de milhares de soldados próximo à fronteira e europeus e americanos enviam recursos para o governo ucraniano se defender.
Enquanto os russos exigem que a Ucrânia não seja integrada à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), para limitar a presença de tropas estrangeiras em países do Leste europeu próximos às suas zonas de influência, o Ocidente sinaliza que dificilmente atenderá ao desejo e engrossa o coro de "duras medidas" e "sanções" em caso de invasão russa.
Desde o fim do ano passado, o presidente dos EUA, Joe Biden, teve um par de reuniões com Vladimir Putin para tratar do tema, mas sem avanços substanciais. Na última sexta-feira, 21, diplomatas russos e americanos se encontraram e os EUA concordaram em enviar, nos próximos dias, respostas às demandas do Kremlin sobre a crise.
Na falta de consenso, a fé entrou na discussão para tentar baixar a temperatura. Do Vaticano, o papa Francisco convocou um dia internacional de "oração pela paz", a ser realizado nesta quarta-feira, 26, para impedir que a divergência descambe para o conflito armado e provoque uma nova guerra. Fato é que enquanto as ações dos governantes não refletirem as palavras ditas por seus diplomatas, não é possível cravar uma saída pacífica para a antiga crise russo-ucraniana, que volta e meia esquenta os ânimos na região.
Projeção
INVASÃO RUSSA DA UCRÂNIA
"PODERIA SER NOVA CHECHÊNIA", DIZ JOHNSON
Invadir a Ucrânia mergulharia a Rússia em um conflito "violento e sangrento", que equivaleria a criar "uma nova Chechênia", ex-república soviética do Cáucaso que foi palco de intervenções do exército russo, alertou o primeiro-ministro britânico Boris Johnson.
"Temos que transmitir a mensagem de que invadir a Ucrânia, do ponto de vista russo, será doloroso, violento e sangrento, e acho que é muito importante que as pessoas na Rússia entendam que isso poderia ser uma nova Chechênia", disse o líder conservador na televisão britânica. "Conheço um pouco esse povo e acredito que vão lutar", acrescentou.
Chechênia viveu dois conflitos sangrentos nas décadas de 1990 e 2000.
Diplomacia
Autoridades da Rússia, Ucrânia, França e da Alemanha se reunirão em Paris amanhã, na tentativa de aliviar a tensão entre Kiev e Moscou, disse um assessor do presidente francês, Emmanuel Macron
Percepções
Os Estados Unidos garantiram que não têm "nenhuma divergência" com os europeus sobre as sanções sem precedentes que seriam impostas à Rússia se esta invadisse a Ucrânia