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Olavo foi astrólogo, simpatizante do comunismo e deu aulas online
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Olavo foi astrólogo, simpatizante do comunismo e deu aulas online

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Olavo de Carvalho e Steve Bannon (Foto: BEATRIZ BULLA/AE)
Foto: BEATRIZ BULLA/AE Olavo de Carvalho e Steve Bannon

Olavo Luiz Pimentel de Carvalho nasceu na cidade de Campinas, em São Paulo, no dia 29 de abril de 1947. Autointitulado professor de filosofia, apesar de não ter formação acadêmica, ficou conhecido por opiniões de cunho conservador e atuou como astrólogo e ensaísta.

Vivendo nos Estados Unidos desde 2005, Olavo ampliou o alcance de seus pensamentos a partir da publicação de livros e de cursos que ministrava online. O pensamento conservador e anticomunista foram marcas de grande parte da sua atuação. No entanto, durante a juventude, entre os anos de 1966 e 1968, Carvalho foi ligado às pautas do antigo Partido Comunista Brasileiro num período de oposição e resistência à ditadura militar no Brasil. Na década seguinte, o escritor mudou de lado.

O escritor foi responsável pela autoria ou co-autoria de pelo menos 30 livros, um dos mais famosos e com ampla repercussão em setores mais à direita foi "O Mínimo que Você Precisa Saber Para Não Ser um Idiota" (2013). A obra apareceu na mesa do então recém-eleito presidente Jair Bolsonaro em sua primeira transmissão ao vivo feita após vencer as eleições de 2018.

Apesar de ser taxado de charlatão por cientistas e especialistas, obteve ampla repercussão em setores sociais conservadores; o que foi catapultado com a proximidade ao governo Bolsonaro. O escritor influenciou, inclusive na composição da gestão, que teve nomes indicados por ele em ministérios de primeiro escalão: Ernesto Araújo (Relações Exteriores); Vélez Rodríguez (Educação) e Abraham Weintraub (Educação) são alguns exemplos.

A influência era tamanha, que passou-se a dividir os membros do governo em alas, uma delas, a ideológica, passou a ser chamada de "olavista".

Outras posições, como os questionamentos à emergência climática e à gravidade da pandemia, eram uma traço do alinhamento do guru com o bolsonarismo e seus adeptos.

Há cerca de uma década, o escritor, que tinha inúmeros "discípulos" e milhões de seguidores nas redes sociais, oferecia aulas online pagas nas quais misturava filosofia e política.

Steve Bannon, a principal figura da "direita alternativa" dos Estados Unidos, chamou Olavo de Carvalho de "um dos maiores intelectuais vivos do mundo". (Com AFP)

A razão de Olavo

A história é feita de cenários, fatos e personagens. A história política recente do Brasil é incompreensível sem a referência ao nome de Olavo de Carvalho, falecido nesta segunda-feira. Tendo feito carreira como astrólogo, notabilizou-se como colunista, ainda nos anos 1990, em jornais, que constituem o "sistema" do qual, anos depois, seria um dos destinatários de seus ataques.

Com uma retórica de ataque a tudo que fosse estabelecido – o sistema político, a imprensa, a universidade, a Igreja etc -, ganhou expressão nacional no cenário político de radicalização que levou ao impedimento de Dilma Rousseff (PT), quando se via seu nome estampar cartazes nas manifestações de 2015: "Olavo tem razão". Talvez tenha sido a primeira vez em que um (auto proclamado) intelectual comparece nomeadamente à política de rua.

A partir dali, junto da família Bolsonaro, quase que hegemonizou a mentalidade de uma extrema-direita que, com golpes de maestria, capturaria para si aqueles que se opunham à esquerda e ao progressismo. Por isso mesmo, jogou um peso considerável na eleição e no início do governo de Jair Bolsonaro, de quem se dizia próximo (lembremos de seu encontro com Bannon, nos EUA, e a família do presidente), mas a quem não poupou ataques, tudo para manter seu ethos disruptivo. Ricardo Salles, Abraham Weintraub, Ernesto Araújo e Ricardo Veléz são nomes de ministros "olavistas".

Durante a pandemia, foi voz altissonante contra as medidas de restrição, e mesmo de desconfiança do vírus. A China comunista era uma de suas obsessões. Foi primeiro com ele, e depois com Bolsonaro, que a direita, inclusive a religiosa, acostumou-se com palavrões como sinal de sabedoria.

Olavo deixa uma vasta obra bibliográfica, fruto de inúmeros cursos, muitos deles ministrados pela internet, que guardam uma estreita relação com sua visão de mundo, em que ele se posta acima do "comum". Seus críticos eram sempre "idiotas" e "imbecis", daí o nome de seus dois mais importantes livros, dedicados à compreensão do que seria uma mentalidade brasileira: "O Imbecil coletivo" e "O que você precisa saber para não ser um idiota".

Seu legado permanecerá por ainda muito tempo, sobretudo como modo disruptivo de linguagem política. A morte, lhe assaltando ainda com certa juventude, não freará os movimentos de seus discípulos, dentro e fora do bolsonarismo, para dizer: "Olavo tem razão". Resta saber do quê.

Imprensa

Apesar de ataques frequentes à imprensa nos últimos anos, Olavo ficou conhecido ainda na década de 1980 quando escrevia em jornais de grande circulação, como a Folha de S.Paulo e O Globo

Mourão

O vice-presidente Hamilton Mourão também foi às redes sociais ontem lamentar a morte de Olavo de Carvalho. Mais distante do núcleo ideológico que cerca Jair Bolsonaro, o general citou "diferença de opinião" com o escritor

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