Para tentar reduzir as resistências na região na qual tem mais dificuldades eleitorais, o presidente Jair Bolsonaro (PL) faz novo giro pelo Nordeste a oito meses das eleições e desembarca no Ceará hoje, na sua quinta visita ao estado governado por Camilo Santana (PT).

Novamente, investe em agenda com obras hídricas — das cinco visitas, três tiveram esse eixo como protagonista da agenda presidencial. Desta vez, o presidente tem passagem por Jati, na região do Cariri, onde já esteve em 2020, quando visitou o Ceará para a chegada das águas da transposição do rio São Francisco.

Bolsonaro volta agora ao local para liberar bombeamento de água para municípios cearenses, num evento semelhante ao de julho de dois anos atrás, quando esteve no estado pela primeira vez depois de ter sido eleito para o Planalto, cumprindo roteiro em Penaforte que incluiu breve ato com aliados no aeroporto de Juazeiro do Norte.

O presidente aterrissa em solo cearense às 9h30min desta terça-feira, na cidade de Padre Cícero, santo cuja origem ele confundiu, atribuindo-a a Pernambuco. De Juazeiro, terra do "Padim", Bolsonaro segue para Salgueiro (PE) de helicóptero, retornando para Jati por volta de 12h30min.

Do Ceará, o mandatário se dirige para o Rio Grande do Norte, percorrendo ao todo três estados da região onde seu principal adversário no pleito que se aproxima, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mantém larga vantagem na intenção de voto, segundo mostram as pesquisas.

Aliado do presidente, o vereador Carmelo Neto (Republicanos) comemora nova passagem do candidato à reeleição pelo Estado.

"É uma visita muito importante, mais uma entrega de uma obra hídrica. Lá em Jati, ele vai apertar o botão que vai começar o bombeamento das águas para todo o Ceará, beneficiando milhões de cearenses", declarou o parlamentar.

Para Carmelo, trata-se de "uma obra antiga e sonhada por muitas pessoas que agora de fato está saindo do papel e concretizando o sonho dos nordestinos e do cearense em ver as águas do 'velho' Chico por todo o estado do Ceará".

Bolsonaro, contudo, já inaugurou trecho do eixo norte da transposição cuja comporta, depois de aberta, acabaria causando rompimento de um duto em Jati, apenas um mês depois da conclusão da obra, em julho de 2020. À época, a vazão da água provocou danos, arrastando veículo e resultando na evacuação de dois mil moradores.

O presidente visita o Cariri dois dias depois de outro oponente eleitoral, o ex-ministro Sergio Moro (Podemos), passar pela região, onde se encontrou com aliados e foi recebido pelo prefeito de Juazeiro e correligionário Glêdson Bezerra. Moro segue hoje no Ceará.

Além de Carmelo Neto, o deputado estadual André Fernandes (Republicanos) e outros parlamentares bolsonaristas devem integrar a comitiva que participará da cerimônia ao lado do presidente.

Procurado via assessoria de imprensa, o deputado Capitão Wagner (Pros) não confirmou se irá ao evento com Bolsonaro em Jati. Pré-candidato a governador, Wagner foi às demais agendas do presidente no Ceará.

 

Bolsonaro no Ceará

26 de junho de 2020
Em Penaforte, acionou comporta da transposição
do São Francisco.

26 DE FEVEREIRO DE 2021
Em Tianguá e Caucaia, autorizou obras de estradas.

13 DE AGOSTO DE 2021
Entregou moradias em Juazeiro do Norte.

20 DE OUTUBRO DE 2021
Em Russas, anunciou obras hídricas

Bolsonaro tenta cartada para crescer no Nordeste

Professor e cientista político da Universidade Federal do Piauí (UFPI), Vitor Sandes avalia que o presidente Jair Bolsonaro (PL) tenta cartada para reduzir distância em relação ao ex-presidente Lula (PT) no Nordeste.

"Bolsonaro tem de fazer esse movimento diante da estabilização da preferência do Lula nas pesquisas. Ele deixou de cair e até cresceu um pouco, isso indica que a polarização vai se firmando entre Lula e Bolsonaro, como era esperado", aponta o pesquisador.

De acordo com ele, o mandatário tenta explorar ganhos com políticas sociais, como o Auxílio Brasil, com objetivo de faturar politicamente nas faixas do eleitorado economicamente mais vulnerável.

"Para o presidente", explica Sandes, "é importante não ter somente o eleitorado que o apoia, grande parte dos setores com maior faixa de renda, mas também aqueles não possuem maior faixa de renda e dependem dos recursos do governo federal".

Por isso a agenda do chefe do Executivo novamente na região Nordeste, onde esteve no fim do segundo semestre do ano passado, exatamente para entregar obras hídricas.

Conforme o professor, todavia, a visita de Bolsonaro também cumpre outra tarefa: organizar os palanques locais. No Ceará, por exemplo, o presidente tenta consolidar aliança com o deputado federal Capitão Wagner (Pros), pré-candidato ao Governo do Estado e nome indicado pelo próprio Bolsonaro para a corrida eleitoral deste ano. (Henrique Araújo)