O pré-candidato a presidente Ciro Gomes (PDT) debateu com pesquisadores as linhas gerais sobre a plataforma anticorrupção que pretende apresentar ao eleitor no período eleitoral. Em um momento da discussão, foi confrontado pelo professor universitário Bruno Carazza sobre a presença de João Santana como principal marqueteiro da campanha.
O jornalista e publicitário baiano com experiência em campanhas eleitorais foi preso em 2016. Ele foi condenado na operação Lava Jato por ter recebido valores em caixa dois do PT.
Carazza apontou a vida pregressa de Santana como fator de contradição para Ciro, que discordou da avaliação, com o adendo de que ele foi condenado por Sergio Moro, o ex-juiz considerado suspeito pelo STF em ações contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"Pois bem, ele (Santana) foi absolvido na acusação de corrupção e foi condenado por esses vícios de caixa dois em que prestou o serviço. É notório e público que ele prestou, de fato, o serviço e foi renumerado com caixa dois e nisto cometeu um erro indesculpável, foi por isso condenado, pagou todas as penas e está de volta a sociedade", defendeu o pedetista.
"Eu creio que o estimado companheiro - eu sou OAB Ceará 3339 -, não deve defender a punição eterna, na medida em que ele tendo pago todas as duas indesculpáveis falhas, está de volta à vida civil, e não há nenhuma contradição em eu ter recrutado o melhor quadro de comunicação e publicidade para me ajudar naquilo que eu quero fazer, recrutar os melhores quadros para mudar o Brasil", adicionou.
O evento ocorreu em São Paulo e foi dividido em duas mesas de debate. Alessandro Octaviani, advogado professor e escritor; Heloísa Helana, ex-senadora; Raquel Pimenta, autora do livro "A Construção dos Acordos de Leniência da Lei Anticorrupção" e o ex-ministro Vitor Pinto Chaves estiveram entre os convidados.
Esteve presente nas falas a ideia de que o combate à corrupção não deve ser agenda prioritária no Brasil, cujas urgências passam por temas como emprego, desigualdade social, saúde, educação e segurança.
"O combate à corrupção é uma ação republicana, conjunta e harmônica entre os Três Poderes e não um gigantismo temporário e exibicionista de um só poder como temos experimentado amargamente no Brasil”, afirmou o ex-governador do Ceará na introdução da discussão. Na frase, há uma referência indireta a Moro, pré-candidato a presidente pelo Podemos, com quem Ciro disputa a terceira colocação em pesquisas de intenção de voto.
A obrigatoriedade de renúncia aos sigilos bancário e fiscal para ocupação de cargos de coordenador-geral, gerente de projetos ou funções que envolvam ordenação de despesas; fomento à transparência dos dados na internet; combate a oligopólios empresariais, fim de favores seletivos a empresários e redução de isenções fiscais para disciplinar a relação entre o público e o privado foram propostas apresentadas.
O pedetista também mencionou o aprimoramento da tecnologia para compartilhamento de informações entre órgãos de controle como uma das etapas da consolidação de sua agenda anticorrupção. Nesse sentido, se opôs ao conceito liberal de que a corrupção é necessariamente consequência do tamanho excessivo do Estado.