A vereadora Adriana Gerônimo (Psol), representante do mandato coletivo Nossa Cara, usou a tribuna da Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor) para criticar o retorno do vereador Ronivaldo Maia (PT) à Casa ontem. A parlamentar tentou reunir nove assinaturas necessárias para prosseguir com recurso contra a decisão do Conselho de Ética de arquivar o caso do petista, mas não obteve sucesso. Foram obtidas apenas quatro assinaturas entre 43 vereadores.
"Vamos ser obrigadas a conviver com ele aqui, sendo um agressor de mulheres", disse Adriana em discurso na tribuna da Câmara. "Pedir desculpas para o povo de Fortaleza não é suficiente. Se esta Casa não tivesse sido omissa, hoje talvez a gente tivesse o Conselho de Ética a todo fervor apurando um caso de violência tão grave", acrescentou.
A vereadora lamentou não ter conseguido reunir as assinaturas em prol de seu requerimento e disse que o retorno de Ronivaldo representa “uma mistura de sentimentos de lamentação e de vergonha”.
“Não ter conseguido esse recurso pra nós é uma derrota, mas é uma derrota principalmente para todas as mulheres fortalezenses que não têm aqui um apoio legítimo e concreto de parlamentares. Então é um dia de se lamentar e uma vergonha pra história da Câmara”, disse.
Adriana criticou ainda o fato de Ronivaldo ter mencionado o nome da vítima durante seu pronunciamento.. “Esse processo de falar o nome da vítima é um processo de revitimização. Faz com que ela visite todo o sofrimento que ela passou e que foi uma violência muito cruel, uma violência de alto grau. Essa é uma estratégia que ele utilizou que todos os outros agressores de mulheres utilizam e nós que acompanhamos violência contra a mulher a gente sabe que esse é um método”, afirmou.
Para a vereadora, a "mandata" foi “até os últimos limites que o regimento dá”, que é o recurso. “E agora cabe ao movimento social, ao movimento de mulheres tornar esse clamor ainda mais forte”, afirmou. Adriana diz ter convicção de que “todos os limites institucionais” foram utilizados em favor da vítima e das mulheres e avalia que o momento é “a maior decepção para o povo e para as mulheres de Fortaleza”.
“Na minha opinião a Câmara deveria se envergonhar de perpetuar um agressor de mulheres no Legislativo. A decepção é para o povo que elege uma Câmara acreditando que vai poder contar com legisladores que defendam a vida, mas a vida que eles defendem não é a vida da maioria social do povo, é a vida deles mesmos”, finalizou Adriana.
Para Louise Santana, também representante do Nossa Cara, a posição da Casa de recepcionar o vereador propagou “uma imagem errada sobre os espaços públicos, os servidores públicos e as pessoas que estão representando o povo''.
“Nós lamentamos que essa seja a posição da Casa, porque isso passa uma imagem errada, isso inclusive corrobora com a violência doméstica, com a violência contra as mulheres que tem sido também uma epidemia que se acentuou durante esse processo, tanto na nossa cidade como no nosso estado”, defendeu.
Louise também criticou o fato do petista ter citado o nome da vítima durante seu momento de fala e disse haver um pedido da própria mulher para que não fosse mencionada. “Isso gera importunação, isso gera constrangimento, inclusive pela relação que se estabelecia com a própria vítima, todo o procedimento que nós fizemos inclusive dentro e fora da casa sempre foram procedimentos que resguardavam o nome da vítima”, afirmou.