Em meio ao momento de instabilidade na relação entre PDT e PT no Ceará, o prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT), defendeu que as lideranças de cada lado se guiem pelo bom senso, apoiadas no que têm em comum. "Acho que o bom senso, a ponderação, é o que devem prevalecer, não sei se vai prevalecer", admitiu o gestor ao ser questionado por O POVO sobre o tema.
Rodeado de vereadores e secretários, Sarto esteve no Jardim União, no Passaré, na noite desta sexta-feira, 6, para entrega de areninha e abertura de um campeonato de futebol entre jovens do local. Posou para fotos com crianças e distribuiu bolas. Para o prefeito, os dois principais partidos da aliança da governadora Izolda Cela (PDT) - antes, de Camilo Santana (PT) - devem permanecer unidos.
Até então preservado dos confrontos nacionais que colocam em lados opostos Ciro Gomes (PDT) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o consórcio estadual PDT-PT foi posto à prova na última terça-feira, 3. Ciro afirmou em entrevista à rádio Jangadeiro Band News FM que o PT do Ceará "também" tem um lado corrupto e que aceita ver seu partido, o PDT, enfrentando-o na disputa ao Governo do Ceará.
Na oportunidade, Ciro defendeu o nome de Roberto Cláudio (PDT) como candidato governista. O ex-prefeito de Fortaleza encontra resistências no PT, diferentemente de Izolda.
Em tom irônico, Ciro disse que o "problema" de RC foi ter consertado Saúde e Educação municipais, antes sob influência excessiva de vereadores, segundo ele. A fala carregou consigo crítica direta às gestões da antecessora e hoje deputada federal, Luizianne Lins, do PT e adversária de Ciro no plano estadual.
O PT deu resposta ao ex-ministro de Itamar Franco e Lula no dia seguinte, 4. O diretório estadual petista aprovou nota pela manutenção da aliança, mas usou tom áspero contra Ciro, atribuindo-lhe desespero e afirmando que o pedetista, atualmente, "amarga" a terceira posição em sondagens para a Presidência da República feitas entre cearenses. Estaria atrás de Lula e do presidente Jair Bolsonaro (PL).
"Olha, todo partido tem as suas contradições. Nós do PDT temos. O PT tem e precisa reconhecer que tem, em nível nacional e em nível local. Mas as nossas semelhanças, o nosso projeto, é acima dessas contradições que eventualmente existem. Quem é que pensa do mesmo jeito? Ninguém", argumentou Sarto.
Nas palavras do chefe do Executivo municipal, "as pequenas diferenças só servem para atrapalhar". Todo estadista, ele disse, tem de colocar o interesse da coletividade em primeiro lugar. "E as nossas semelhanças são muito maiores do que as nossas contradições", adicionou. Outra gestora pedetista, a governadora Izolda Cela afirmou nesta sexta-feira que "desavenças repercutem negativamente no serviço".
No caso dela, ainda mais, pois o PT na Assembleia Legislativa do Ceará (AL-CE) compõe a base de seu governo. São sete deputados petistas no Legislativo estadual. A realidade de Sarto na Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor) é outra, com três vereadores do PT na oposição - assim como nos oito anos da gestão Roberto Cláudio. Sarto e Izolda têm ampla maioria nas casas legislativas com que lidam.
Ex-articulador político da gestão Roberto Cláudio, o vereador Lúcio Bruno (PDT) afirmou que "nosso líder" Ciro Gomes fez um comentário que pode ser "muitas vezes mal compreendido". "Acho que o que ele quis dizer mesmo foi que a gente tem que pensar no Estado, no povo do Ceará, e não ficar fazendo futricazinha porque prefere mais A do que B", disse Bruno, para quem o momento pede pragmatismo.
"O candidato vai ser aquele que tiver realmente condições de ganhar a campanha", enfatizou o vereador, defensor de Roberto Cláudio na disputa interna que trava com Izolda, assim como Ciro.