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Suspeito confessa que Bruno e Dom foram assassinados, diz PF
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Suspeito confessa que Bruno e Dom foram assassinados, diz PF

| Amazônia | Amarildo Oliveira, o ‘Pelado’, levou autoridades ao local onde corpos foram enterrados, segundo delegado. Restos mortais estão sendo periciados
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DOM Phillips e Bruno Pereira atuavam em defesa 
da proteção de povos indígenas (Foto: EVARISTO SA / AFP)
Foto: EVARISTO SA / AFP DOM Phillips e Bruno Pereira atuavam em defesa da proteção de povos indígenas

Após dez dias de buscas, o superintendente da Polícia Federal no Amazonas, delegado Eduardo Alexandre Fontes, afirmou ontem que o pescador Amarildo Oliveira, conhecido como "Pelado", confessou o assassinato do indigenista Bruno Pereira, de 41 anos, servidor licenciado da Fundação Nacional do Índio (Funai), e do jornalista britânico Dom Phillips, de 57, colaborador do jornal The Guardian. Eles desapareceram no dia 5 deste mês no Vale do Javari, no extremo oeste do Amazonas, e foram mortos no mesmo dia.

De acordo com Fontes, superintende regional da PF, Bruno e Dom foram assassinados com arma de fogo, conforme relato de Pelado. Foram encontradas partes de corpos nas áreas de buscas, que o ministro da Justiça, Anderson Torres, classificou de "remanescentes humanos".

Uma das hipóteses sob investigação é que os corpos tenham sido carbonizados antes de serem enterrados. A polícia ainda aguarda a perícia para definir a causa da morte. "Ontem (anteontem) à noite nós conseguimos que o primeiro preso neste caso, conhecido por Pelado, voluntariamente confessasse a prática criminosa", relata Fontes.

Durante a confissão, ele narrou com detalhes o crime realizado e apontou o local onde havia enterrado os corpos", afirmou o delegado, durante entrevista coletiva em Manaus. "Foi um embate, a principio ele (Pelado) alega que foi com arma de fogo, mas temos que aguardar a perícia porque ela que vai dizer, identificar qual foi a causa da morte, as circunstâncias e a motivação."

Buscas

Segundo o superintendente, a PF levou Pelado e Oseney da Costa de Oliveira, conhecido como "Dos Santos" e irmão de Pelado, também suspeito de envolvimento no crime, para a área de buscas no Rio Itaquaí, em Atalaia do Norte (AM). Dos Santos teve a prisão temporária, assim como Pelado, de 30 dias decretada ontem.

Os dois pescadores admitiram que Bruno e Dom foram abordados e mortos no trajeto de barco entre a cidade e a Comunidade São Rafael. Ainda estão sendo feitas escavações no local, que fica a 3,1 km do rio. Também foi encontrado o barco usado por Pereira e Phillips, que foi afundado no local com sacos de areia.

"Nós não descartamos a hipótese de outras pessoas estarem envolvidas. Temos muito o que fazer no inquérito para coletar seguramente provas de autoria e materialidade", afirmou o delegado da Polícia Civil, Guilherme Torres.

"Temos o depoimento, a confissão do preso, levando até uma área distante, onde os corpos seriam encontrados, onde foram enterrados. A equipe caminhou 25 minutos para chegar até ali, desenterrou, então tudo nos leva a crer. Agora, tecnicamente, preciso de reconhecimento de parentes, de um exame de DNA para poder dizer e para ter a conclusão do inquérito", disse.

Os novos materiais descobertos e vestígios humanos coletados próximos ao local na sexta-feira, 10, estão sendo periciados. A análise é feita a partir de materiais genéticos fornecidos pelas famílias de Bruno e Dom. Uma mochila com pertences do jornalista também foi identificada na mesma área.

Pereira e Phillips percorriam a região do Vale do Javari. O indigenista brasileiro orientava moradores da região a denunciar irregularidades cometidas em reserva indígena - como pesca ilegal, mineração e exploração de madeira - enquanto o jornalista britânico acompanhava o trabalho para registrar em livro que pretendia escrever.

Consternação

Yura Marubo, assessor jurídico da Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja) - entidade na qual atuava Pereira -, disse que a perda do indigenista é irreparável para os povos indígenas.

"Nós estamos em uma consternação pela morte. Bruno era um dos maiores especialistas em povos isolados do Brasil. É um sentimento de perda, impotência. O trabalho contra o crime organizado falhou neste momento. O trabalho do Bruno foi feito apenas com coragem, não com o aparato necessário", afirmou à reportagem. Eduardo Alexandre Fontes, superintendente regional da PF, reconheceu os esforços dos indígenas nos trabalhos de buscas.

A mulher de Phillips, Alessandra Sampaio, emitiu uma nota. "Agora podemos levar eles para casa e nos despedirmos com amor. Hoje se inicia também a nossa jornada em busca por justiça. Espero que as investigações esgotem todas as possibilidades e tragam respostas definitivas com todos os desdobramentos pertinentes o mais rapidamente possível", afirmou.

Mais cedo, o presidente Jair Bolsonaro (PL) havia afirmado que o caso caminhava para uma resolução. Ele reiterou críticas à postura de Bruno e Dom, especulando que o jornalista era "malvisto" na região.

"Esse inglês era malvisto na região. Fazia muita matéria contra garimpeiros, questão ambiental. Então, naquela região bastante isolada, muita gente não gostava dele", disse Bolsonaro. "Deveria ter segurança mais que redobrada consigo próprio", afirmou o presidente, em entrevista a um canal bolsonarista no YouTube.

Uma das principais entidades de defesa do meio ambiente, o Greenpeace divulgou na noite de ontem uma nota de pesar pelas mortes de Bruno Pereira e Dom Phillips. A manifestação conjunta do Greenpeace no Brasil e no Reino Unido lamentou o "cruel assassinato" e diz que o País "está mergulhado em um contexto que beira a barbárie".

"Graças às ações e omissões de um governo comprometido com a economia da destruição ficamos órfãos de dois grandes defensores da Amazônia e, ao mesmo tempo, reféns do crime organizado que hoje é soberano na região", afirma Danicley de Aguiar, porta-voz de Amazônia do Greenpeace Brasil.

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