Acusado por funcionárias da Caixa Econômica Federal de assédio sexual, o executivo Pedro Guimarães deixou a presidência do banco ontem à tarde, após uma conversa com o presidente Jair Bolsonaro (PL)). O Palácio do Planalto já tinha conhecimento das acusações que recaiam sobre Guimarães desde a noite anterior, quando o escândalo veio à tona em reportagem do site Metrópoles com informações detalhadas por cinco funcionárias.
Bolsonaro, mesmo orientado por sua campanha eleitoral a se manifestar contra o episódio, preferiu segurar o seu desfecho até o dia seguinte, quando o cenário já se mostrava insustentável para Guimarães.
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do presidente, antecipou a troca do comando estatal, que passa agora a Daniella Marques, vista como "braço direito" do ministro da Economia, Paulo Guedes. Segundo Flávio, o nome da substituta é para dar uma "resposta mais do que clara" de que Bolsonaro não compactua com a conduta.
"Inaceitável uma conduta pessoal dessa, que não tem nada a ver com o governo." Um dos coordenadores da campanha do pai, Flávio disse que a saída de Guimarães foi para que o caso não fosse usado contra o presidente.
Na chefia da Caixa desde o início do governo Bolsonaro, Pedro Guimarães, 51 anos, chegou ao cargo respaldado pela "experiência em privatizações". Ao longo de sua gestão, fez muitas viagens e eventos, para apresentar a atividade do banco público. Era principalmente nestas ocasiões que, segundo os depoimentos, Guimarães praticava ações de assédio sexual contra funcionárias, que iam desde convites para entrar em seu quarto até insinuações e toques em suas partes íntimas.
Na manhã de ontem, apesar da repercussão, Guimarães ainda procurou apresentar um ar de certa normalidade. E tratou de comparecer a um evento presencial da Caixa, ao lado de sua mulher. A portas fechadas para a imprensa, foi ao microfone e discursou como se não estivesse no meio de um escândalo, limitando-se a afirmar que é uma pessoa "pautada pela ética".
No fim da tarde, no entanto, ele publicou a carta de demissão. Sob investigação do Ministério Público Federal, Guimarães afirma, no documento, que foi alvo de "uma situação cruel, injusta, desigual e que será corrigida na hora certa com a força da verdade". A exoneração foi em seguida confirmada no Diário Oficial da União, assim como sua substituição por Daniella Marques.
Em três anos e meio de governo, Guimarães acumulou algumas polêmicas. Em dezembro, um vídeo mostrou diretores e vice-presidentes da Caixa fazendo flexões, por ordem de Guimarães, em evento do banco. Indicado por Guedes, afastou-se do ministro e se aproximou de Bolsonaro, a ponto de chegar a ser citado pelo presidente como um dos possíveis candidatos a vice.
"As acusações não são verdadeiras e não refletem a minha postura profissional e nem pessoal", afirmou Guimarães. Ele sustentou ainda que tem "a plena certeza de que estas acusações não se sustentarão ao passar por uma avaliação técnica e isenta" e que decidiu se afastar neste momento para se "defender das perversidades lançadas" contra ele, "com o coração tranquilo daqueles que não temem o que não fizeram".
Bolsonaro, contrariado com o episódio e com receio dos efeitos políticos que sofrerá com a situação, já que o eleitorado feminino é seu ponto mais frágil, optou por silenciar sobre o assunto.