Morreu na manhã dessa segunda-feira, 4, o cardeal Cláudio Hummes, que foi arcebispo de Fortaleza no fim da década de 1990. Ele chegou a ser cotado para papa nos concílios que escolheram Bento XVI, em 2005, e Francisco, em 2013. Ele era amigo próximo do papa Francisco, a quem inspirou a escolha do nome como sumo pontífice. Dom Cláudio tinha 87 anos.
"Comunico, com grande pesar, o falecimento do Eminentíssimo Cardeal Cláudio Hummes, (...) no dia de hoje, após prolongada enfermidade, que suportou com paciência e fé em Deus", anunciou em comunicado o arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer. Hummes era arcebispo emérito de São Paulo
Em março de 2013, logo após o conclave, o papa explicou durante um encontro com jornalistas como o cardeal Hummes o inspirou a escolher o nome Francisco. O brasileiro era então apontado como um dos favoritos para suceder Bento XVI — e o mais cotado na América do Sul.
"Durante a eleição, eu estava ao lado do arcebispo de São Paulo Cláudio Hummes, um grande amigo (...) Quando as coisas ficaram perigosas, ele me confortou. Quando os votos alcançaram dois terços, ele me abraçou, me beijou e disse: 'E não te esqueças dos pobres!'", revelou o papa. "Imediatamente, em relação aos pobres, pensei em Francisco de Assis, nas guerras (...) o homem da pobreza, o homem da paz".
Entre 2006 e 2011, ele trabalhou ao lado do papa Bento XVI, em Roma, numa das funções mais importantes do Vaticano, como prefeito da Congregação para o Clero, onde permaneceu até ser substituído por limite de idade, no fim de 2010.
Em Fortaleza, ele foi nomeado arcebispo em 1996, para substituir dom Aloísio Lorscheider, um dos mais importantes líderes da Igreja na história do Ceará. Foi ainda bispo diocesano de Santo André (SP) e arcebispo de São Paulo. Tornou-se cardeal em 2001.
Ele se tornou bispo de Santo André em 1975, em período no qual ocorreram as grandes greves no ABC paulista, dentre as quais a famosa greve dos metalúrgicos de 1979, liderada por Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Dom Cláudio abriu as portas da igreja, na época, para acolher sindicalistas perseguidos pela repressão. Em 1980, na visita de João Paulo II ao Brasil, mediou o encontro de Lula com o então papa, antes da missa para 150 mil pessoas no estádio do Morumbi, em São Paulo.
Em setembro de 2019, dom Cláudio foi relator e liderou o Sínodo sobre a Amazônia, realizado em momento particularmente tenso no Brasil, com muitas críticas da comunidade internacional ao governo do presidente Jair Bolsonaro, durante onda de incêndios florestais na Amazônia. Entre julho de 2020 e março de 2022 presidiu também a recém-criada Conferência Eclesial da Amazônia (Ceama), momento em que denunciou necessidade de mudanças para combater a crise climática.
A governadora do Ceará, Izolda Cela (PDT), salientou o trabalho social realizado pelo cardeal. "Em toda sua vida dedicada ao sacerdócio, dom Cláudio se notabilizou pela justiça social e dedicação à população mais carente".
Governador na época em que dom Cláudio foi arcebispo de Fortaleza, o senador Tasso Jereissati (PSDB) também se manifestou. "D. Claudio Hummes, assim como D. Aloisio Lorscheider, foi a pessoa que conheci mais próxima do que se possa entender por Santidade", disse em nota.
Nascido em Salvador do Sul, uma pequena cidade no sul do Brasil, o cardeal Hummes foi ordenado padre em 1958, depois bispo em 1975. O cardeal tratava um câncer. (com AFP e Agência Brasil)