A rua Nunes Valente, no bairro Meireles, foi sendo preenchida conforme a tarde avançava rumo à noite, fazendo curiosos irem às janelas. Na sede do PDT, finalmente, se definiria o nome de quem iria para a disputa ao Governo do Ceará, após meses de um desgaste que só se aprofundou como consequência direta da ausência do senador Cid Gomes (PDT) como condutor da dinâmica e do crescente tensionamento entre os apoiadores das duas principais pré-candidaturas: a da atual governadora Izolda Cela (PDT) e a do ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT). Por vezes visto em ambos.
A decisão já caminhava para ficar entre Izolda e RC, mas ao longo do dia contou com as desistências de Evandro Leitão, presidente da Assembleia Legislativa (AL-CE), e de Mauro Filho, deputado federal.
Uma diferença no gesto dos dois. Evandro abriu mão da empreitada e direcionou o apoio a Izolda. Ele disse ter ouvido do prefeito de Sobral, Ivo Gomes (PDT), que a governadora era a preferida de Cid. Mauro, por sua vez, apenas deixou a disputa.
No voto dos 84 membros do Diretório estadual do PDT, Roberto Cláudio levou a melhor por 55 a 29. A gritaria no lado de fora era pelo nome de RC. Ao entrar, perguntado por O POVO, o ex-prefeito de Fortaleza disse que não se sentia candidato a governador. Ao lado dele, o aliado e sucessor no Paço Municipal, José Sarto (PDT), previu que tudo se definiria no voto dos 84 membros do diretório.
Minutos antes de RC ser anunciado vencedor, Evandro deixou a sede do partido acompanhado da esposa e do filho, descendo a rua, no sentido da avenida Abolição. Primeiramente, driblou a imprensa presente, que lhe seguiu. Antes de entrar no carro, afirmou que estava "decepcionado com alguns comportamentos". Não se referiu a ninguém abertamente.
Ele e o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, também presente ali, travaram briga aberta um dia após o encontro regional do PDT, em junho, para promover em Fortaleza a pré-candidatura presidencial de Ciro Gomes. Evandro se sentira incomodado pelo apoio expresso de Lupi a Roberto Cláudio, com direito a música cantada: "o melhor prefeito do Brasil vai virar governador".
Lupi rebateu naquela ocasião e ontem. Curiosamente, nas duas oportunidades, o argumento foi de que Evando deixou o encontro antes de ele terminar. "Desrespeitoso é chegar atrasado, ficar meia hora e ir embora", disse Lupi sobre Evandro após o ato em juhno.
"Quem não tá acostumado com a democracia, se retira antes do resultado", disse ontem, após RC ser anunciado.
Vencedor, Roberto Cláudio disse que vai buscar se entender com o PT e com o ex-governador Camilo Santana (PT), pré-candidato ao Senado. "A primeira tarefa nossa agora é celebrar e construir a nossa unidade interna. Depois disso, também procurar humildemente todos os aliados que compõem a nossa aliança hoje. Procurar o próprio ex-governador Camilo Santana; procurar todo mundo para a gente conversar e manter a aliança o mais ampla possível", afirmou o futuro candidato.
Nas redes, se dirigiu indiretamente a Capitão Wagner (União Brasil), futuro adversário e líder da oposição à direita no Ceará, como "retrocesso". Segundo RC, "nossa missão é combater o retrocesso! Vamos trabalhar para garantir a união das forças democráticas em busca de mais avanços e de um novo ciclo de desenvolvimento para o nosso Ceará!"
Ao deixar o encontro, a governadora foi perguntada por O POVO se entendia que a decisão havia sido, de algum modo e em alguma medida, influenciada por machismo. Em meio a um amontoado de militantes e perto do carro que lhe levaria embora, ela acenou positivamente com a cabeça.
Minutos depois, disse que perdeu não em um processo político no qual vitórias e derrotas são naturais, mas que lhe tiraram o direito de marchar rumo à reeleição. Não citou o futuro candidato pedetista, que será homologado na convenção do dia 24.
"Meu partido PDT decidiu hoje, em reunião de diretório, que não terei o direito a concorrer à reeleição. Respeito a decisão. Seguirei firme, com força e coragem, honrando meu mandato e trabalhando muito pelo nosso Ceará. Sempre com respeito e verdade. A luta continua!", ela escreveu.
De 84 cadeiras do diretório estadual, 11 são ocupadas por mulheres. Dessas, oito votaram em RC e três em Izolda, incluindo ela própria. (colaboraram Filipe Pereira e Mariana Lopes/especial para O POVO)