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Eudoro responde a Ciro: "Poderia ser um grande presidente, mas precisa de equilíbrio"
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Eudoro responde a Ciro: "Poderia ser um grande presidente, mas precisa de equilíbrio"

| Entrevista | Ao O POVO, Eudoro Santana afirma que as declarações de Ciro Gomes sobre Camilo foram um equívoco e que lamenta o episódio
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EUDORO é pai do ex-governador Camilo Santana (Foto: Aurélio Alves)
Foto: Aurélio Alves EUDORO é pai do ex-governador Camilo Santana

Ex-deputado estadual e pai do ex-governador Camilo Santana (PT), Eudoro Santana conversou com O POVO ontem sobre o cenário político do Ceará. Por telefone, rebateu críticas de Ciro Gomes (PDT) ao petista e disse que o senador Cid Gomes (PDT) “foi atropelado pelo irmão”.

Questionado se a aliança entre PT e PDT teria sido preservada se houvesse uma articulação mais hábil, Eudoro respondeu que “Cid certamente seria (uma liderança), mas ele foi atropelado pelo próprio irmão”.

“A política tem dissabores”, continuou Eudoro, “a gente fica triste, às vezes fica decepcionado, mas se a gente entender os problemas e as dificuldades existentes, ninguém pode transformar eventuais opositores, que podem se juntar, em inimigos”.

O recado tem destinatário certo. No último domingo, 24, Ciro aprofundou a crise entre pedetistas e petistas ao disparar críticas incisivas a Camilo, tratado como traidor e Judas pelo candidato à Presidência.

Para Eudoro, no entanto, as palavras de Ciro foram “um equívoco”. “Eu lamento isso que está acontecendo com o Ciro agora, mas a história um dia vai deixar isso claro pra população”, concluiu.

O POVO – O senhor se reuniu recentemente com o senador Tasso Jereissati para tratar do cenário eleitoral no Ceará. Como foi essa conversa?

Eudoro Santana – Eu tenho dedicado minha vida a lutar por um mundo melhor, e isso tem orientado a minha participação na política durante muitos anos como parlamentar e dirigente, sempre foi nesse sentido. Evidentemente nosso mundo é o Ceará. Nosso projeto de vida, da minha família, sempre foi nesse sentido. Nossa relação com Tasso continua. Nunca tivemos divergências porque o projeto do Ceará, a mudança do Ceará, que se iniciou com Virgílio Távora, deu continuidade e se concretizou com Tasso. Na verdade, Tasso foi a grande mudança que o estado experimentou, e evidentemente esse projeto é o projeto que temos trabalhado para continuar. Ele avançou em vários momentos, em outros um pouco mais lento, mas a verdade é que esse projeto tem avançado. O Ceará se modernizou, tem controle fiscal, a economia tem organização, de modo que, com todos esses problemas, com a seca, o estado tem progredido. Avançou muito com Cid Gomes, que foi o grande timoneiro desse processo. Acho que o Camilo, não é porque seja meu filho, mas deu continuidade a esse projeto. E vamos tentar continuar, com o mesmo sentimento de mãos dadas, sem agressões. Porque a vida e a política, principalmente, devem ser construídas no sentido de agregar. Se temos um projeto, é preciso cada vez mais agregar pessoas, é preciso que as pessoas acreditem.

OP – O senhor sentiu que Tasso está disposto a se agregar a esse projeto sob o Camilo?

Eudoro – Olha, ninguém pode julgar o que está no coração das pessoas. O Tasso é um dos grandes responsáveis por esse processo, tem acompanhado, tem ajudado. Ajudou Cid, ajudou Camilo. Quer continuar ajudando, pelo valor, pela experiência dele, pela capacidade do trabalho que ele tem. Nós discutimos o quadro. Lamentavelmente, ele gostaria que não tivesse havido esse desencontro. Mas conversei com ele uma coisa. Eu também tô angustiado com isso, na verdade nosso inimigo maior hoje é o Bolsonaro. O Brasil está sendo destruído, não é um problema partidário, político, é o país que está sendo destruído sob todos os aspectos, inclusive com uma visão internacional completamente absurda. Então nosso inimigo é esse. A nossa luta é estarmos unidos contra esse projeto. Infelizmente, aí eu fiz a comparação, isso é como uma família que vive e coloca os filhos no mundo, educa, mas chega um momento às vezes em que marido e mulher, por várias razões, não se entendem. Mas, se forem responsáveis e tiverem consciência da sua responsabilidade com os filhos, eles vão, mesmo que se separarem, quem sabe se harmonizar depois. Tudo isso é possível. Não se pode é prejudicar os filhos. Eu acho que, embora afastados, esses atores políticos têm uma responsabilidade com uma família maior, que é o Ceará. Nós devemos fazer uma campanha não para agredir, como já começaram. Mas uma campanha para amanhã certamente se juntar para continuar o projeto. Porque são três candidaturas, certamente duas vão para o segundo turno. E aí um vai ajudar. Repito: nossa preocupação maior é não destruir esse projeto que o Ceará vem desenvolvendo e que nesses últimos anos deu passos importantes, que precisam ser acompanhados porque vai depender de muito tempo pra se consolidar.

OP – Ficou aberta uma possibilidade de entendimento?

Eudoro – Não. Possibilidade de entendimento, de desmanchar o que foi feito, eu acho que não vai mais acontecer. Que era o desejo inclusive do Tasso. Estou dizendo que, como não foi possível, dei pra ele o exemplo da família. Vamos nos separar, mas nos separar sem agredir os outros. Porque a nossa perspectiva é nos encontrarmos. Seja quem for para o segundo turno, deverá ter o apoio do outro porque, repito, nosso inimigo maior é o bolsonarismo.

OP – O senhor falou que as agressões já começaram. Ficou surpreso com o tom das palavras do candidato Ciro Gomes no fim de semana?

EudoroEu acho que não era necessário. Ele tem tantas falas elogiando o Camilo, é uma contradição. De uma hora pra outra, o sujeito não pode passar de uma grande figura, de um grande patriota, um grande amigo, para um inimigo, um traidor. Quem faz política com essa visão não tem grandes futuros, embora ele seja um cara que tem valor. Eu tenho por ele grande respeito, acho que deu uma grande contribuição ao estado. Eu lamento. Ele está se sentindo, por falta de equilíbrio, talvez, desmoralizado porque não vai conseguir disputar como imaginava, como uma terceira via, por razões do contexto político. É uma pessoa preparada, tem um grande valor, poderia ser um grande presidente, mas, para chegar a isso, precisa ter minimamente equilíbrio para agregar e não desagregar. Acho que não faz bem ao estado e não faz bem a ele mesmo começar com esse tom. Eu lamento, mas, até pela admiração que tenho por ele, o valor que tem, é um homem inteligente, mas, infelizmente, hoje está numa situação complicada.

OP – Para o senhor, houve um responsável pelo fim da aliança entre PT e PDT ou não?

Eudoro – É difícil se colocar um responsável, acho que é um conjunto. Quando a gente faz política em cima de um projeto de vida, o projeto traz um projeto administrativo, político etc. Nem todo mundo tem um projeto de vida, de pensar um mundo melhor. Há muito egoísmo. Isso acabou acontecendo em razão disso. Alguns atores desse processo não estão pensando no Ceará de mãos dadas no futuro para continuar crescendo. Deu no que deu. Eu não diria que a culpa é de A ou de B. Talvez tenha faltado aí uma articulação, uma liderança que pudesse agregar tudo isso.

OP – Faltou o Cid?

EudoroCid certamente seria (uma liderança), mas ele foi atropelado pelo próprio irmão. É um problema complexo, família é uma coisa importante. A política tem dissabores, a gente fica triste, às vezes fica decepcionado, mas se a gente entender os problemas e as dificuldades existentes, ninguém pode transformar eventuais opositores, que podem se juntar, em inimigos. Imagina se eu tivesse saído do governo como secretário do Tasso, era até cotado para ser o seu sucessor, esculhambando com ele para a imprensa, que me procurou e eu nunca dei uma palavra. Porque reconheço o valor dele. Como o Ciro agora, eu não vou sair esculhambando porque reconheço o valor dele. Agora, é um equívoco. Eu lamento isso que está acontecendo com o Ciro agora, mas a história um dia vai deixar isso claro pra população.

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