Candidata à presidência da República pelo MDB, a senadora Simone Tebet visitou o Ceará pela primeira vez nesta quinta-feira, 15, desde o início da campanha eleitoral. Sem apoio da cúpula estadual do seu próprio partido, comandado pelo ex-senador Eunício Oliveira – aliado de Lula –, Tebet cumpriu agenda em Fortaleza ao lado do senador Tasso Jereissati (PSDB), que chegou a ser cotado para a vice na chapa encabeçada pela emedebista.
Em entrevista exclusiva ao O POVO, Tebet revelou o motivo de Tasso ter declinado da candidatura. Ela também disse não se sentir incomodada com a falta de apoio de Eunício e afirmou que o MDB não é controlado por meia dúzia de caciques. A conversa ocorreu no hotel onde Tebet se hospedou, no bairro Meireles, minutos antes dela participar de uma caminhada no Centro da cidade ao lado de Tasso.
Figurando em quarto lugar nas pesquisas de intenções de voto, Tebet disputa espaço com Ciro Gomes (PDT) para se viabilizar como alternativa à Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL). Ela acredita que o caminho da chamada terceira via – na qual inclui Ciro – seria mais fácil se houvesse unidade em torno de uma só candidatura.
Primeira candidata do MDB ao cargo máximo do Brasil, Tebet defende maior participação feminina no poder. Para ela, o ambiente político do País ainda é hostil às mulheres. Por isso, propõe ministério com paridade de gênero caso seja eleita presidente.
Na entrevista, a candidata afirmou que seria natural a governadora Izolda Cela (sem partido) ter concorrido à reeleição por estar no exercício do cargo. Por outro lado, evitou dar opinião mais profunda sobre o caso, alegando ter acompanhado o processo por fora.
O POVO - A senhora tem apresentado um crescimento nas pesquisas e vem ganhando terreno nas redes sociais, principalmente após participações em entrevistas e no debate. Tem a expectativa de ficar à frente do Ciro Gomes nessas eleições e assumir a liderança da chamada terceira via?
Simone Tebet - A minha expectativa não é terceiro ou quarto lugar, a minha expectativa é que nessa reta final de 20 dias, que o eleitor começa realmente a se preocupar com o processo eleitoral, ele comece a ver que essa é uma eleição tão importante que não pode ser uma eleição do medo. Tem que ser a eleição da esperança, do votar naquele ou naquela que ele realmente se identifique, que tem o melhor projeto para o Brasil, soluções reais para os problemas reais do Brasil. Essa é a minha expectativa, de que as pessoas digam assim: ‘O Brasil é muito maior do que Lula e Bolsonaro’. Há alternativas. Diante disso, não só o debate, mas a campanha eleitoral, o espaço na televisão, as entrevistas que nós estamos dando, têm permitido com que eu me torne conhecida, eu comecei essa campanha sendo conhecida por apenas um terço do eleitorado brasileiro. Hoje, mais da metade me conhece, mas ainda tem um terço, ou pelo menos 30%, que não me conhece. É um grande avanço em 30 dias. Mas esse um terço agora, na reta final, óbvio que vai estar atento às nossas propostas. Então, é isso. Não é ultrapassar ou não o Ciro, a quem eu tenho maior respeito e carinho, e ele sabe disso. É ter a oportunidade de ser apresentada ao Brasil, que as pessoas nos conheçam e vejam que nós temos as soluções reais para os problemas reais do Brasil. Se isso acontecer, a gente vai para o segundo turno.
OP - Na pré-campanha, o senador Tasso Jereissati foi bastante cotado para ser seu vice. Por que essa candidatura não foi viabilizada?
Tebet - A gente fez algumas pesquisas e percebeu que, nesse momento, a população estava propensa, pela primeira vez, a aceitar uma chapa cem por cento feminina. Então, o Tasso conversou conosco. Isso eu estou dando em primeira mão. ‘Pode contar né, Tasso?’ [perguntou ela ao senador, que estava sentado ao seu lado durante a entrevista]. Ele falou assim: ‘Simone, eu acho que Mara [Gabrilli] tem condições de agregar mais. Se você está falando tanto de Brasil para todos, por que não colocar uma pessoa como a Mara, que representa um estado como São Paulo. Uma pessoa com deficiência e uma mulher. É uma coisa diferente, revolucionária'. A gente ainda fez outra pesquisa, sentamos e chegamos a essa conclusão, de que Mara representa hoje, no Brasil, 40 milhões de brasileiros que ou têm alguma deficiência ou doenças raras. Então, nós teríamos dentro desse projeto, não só uma candidatura eleitoral, mas uma candidatura política.
OP - A terceira via não seria mais viável eleitoralmente se a senhora estivesse unida com o Ciro?
Tebet - Sem dúvida nenhuma. Nós perdemos muito tempo. A própria imprensa e a mídia nunca acreditaram que haveria possibilidade de uma união entre os partidos. O sistema político brasileiro tem as suas particularidades. Esse excesso de partidos leva a uma situação como esta. A nossa expectativa é que nós estaríamos, em setembro do ano passado, já com candidato definido. Não vou contar a história porque vocês já conhecem o que aconteceu nesse meio do caminho. Alguns partidos resolveram ir para um lado ou para o outro dessa polarização. O importante é que nós ficamos com quatro partidos muito fortes, que têm história e nomes que representam a boa política brasileira. E chegamos aonde chegamos depois de ultrapassar sete candidatos. Ninguém, inclusive, acreditava que uma mulher vinda do interior do interior, pudesse ser a candidata tendo ex-ministro da Saúde, ex-ministro da Justiça, presidente do Congresso Nacional, ex-governadores como interessados nessa candidatura.
OP - O seu partido, o MDB, é presidido aqui no Ceará pelo ex-senador Eunício Oliveira. Qual o papel dele na campanha da senhora?
Tebet - Nenhum, ele não está do nosso lado, mas não há nenhum problema nisso, é o maior partido do Brasil, ninguém tem unanimidade. Toda unanimidade é burra, mas nós temos a unidade daqueles que estão conosco. O MDB, as pessoas falam em caciques, como se meia dúzia pudessem mandar num partido da grandeza do MDB. A força do MDB vem da base, somos um partido municipalista, não é demérito dos outros, mas talvez o único partido que seja efetivamente municipalista, tanto que é o partido que tem o maior número de prefeitos, vice-prefeitos, vereadores e vereadoras do Brasil.
OP - A senhora acompanhou o processo de escolha do PDT para o candidato ao Governo do Ceará, que teve repercussão nacional? O que achou de a governadora Izolda Cela não ter sido escolhida para a reeleição?
Tebet - Seria leviano de minha parte eu falar especificamente de um caso em que, como você disse, teve repercussão nacional, eu acompanhei, mas acompanhei de fora, ainda mais tendo o PDT um candidato a presidente da República. Eu posso falar no geral, que a sua pergunta é muito importante para nós, porque a minha candidatura tem essa questão de ser uma candidatura, além de tudo, política, porque eu sou a primeira mulher candidata do maior partido do Brasil, que é o MDB, ao lado do PSDB, que pela primeira vez também deixou de ter um candidato a presidente da República para apoiar uma mulher. Então, assim, a violência política contra a mulher no Brasil é uma realidade que não é de agora. E não é mimimi, como diz o atual presidente, e ela acontece todos os dias, ela é constante. A primeira vez que eu sofri violência política, eu fui chorar no banheiro, isso na primeira semana do meu mandato, lá como deputada estadual, antes eu já tinha recebido violência política na campanha. Isso aconteceu constantemente na CPI da Covid, vocês viram a situação, eu mesmo, foram três momentos, de três ministros do atual presidente, até de um colega meu que está hoje no governo. Estar candidata à presidência da República, que é já uma vitória, significa também nos insurgir contra isso [violência política contra mulheres]. Nós somos a maioria absoluta da população brasileira, mas somos muito subrepresentadas, a média mundial [de participação de mulheres na política] é 30%, nós temos 15%. E não é só isso, a subrepresentatividade de negros é ainda pior. Tanto que o primeiro anúncio que eu fiz quando eu fui lançada candidata à presidência da República, foi dizer: ‘O meu ministério vai ser paritário, terá 50% de homens e 50% de mulheres’. Sabe qual foi a primeira pergunta que me fizeram: ‘Ah, mas você vai conseguir colocar mulher?’. Eu falei assim: ‘Por que, você está dizendo que não tem mulheres competentes num universo de 53% da população brasileira? Nós somos a maioria no banco das universidades e não temos condições de assumir ministérios?’. Do ministério da Economia até o ministério da Educação, não importa, e vai ter negros.
O POVO - Mas a senhora acha que o fato de a governadora estar no exercício do cargo daria a ela esse direito de concorrer à reeleição.
Tebet - Como daria a todos os candidatos que estão no cargo [direito de concorrer à reeleição]. É normalmente tradição, ter direito dentro do seu partido, pelo menos no MDB costuma ser assim, disputar a reeleição. Mas, repito, eu não sei internamente o que aconteceu dentro do partido. Então, assim, não quero… eu procuro ser justa, não gosto de ser leviana nem injusta, e muito menos fazer da sua pergunta algum palanque eleitoral.
Com Israel Gomes