Surpreendendo pesquisas e até os aliados mais otimistas, Elmano Freitas (PT) foi eleito neste domingo, 2, o próximo governador do Ceará, com 54,02% dos votos válidos. A vitória em primeiro turno sacramenta conjunto de duras derrotas locais para Ciro Gomes (PDT) e também consolida o agora senador eleito Camilo Santana (PT) como líder da nova hegemonia política no Estado. A vice da chapa é Jade Romero (MDB).
Vitorioso em campanha amparada na força do ex-governador e do candidato a presidente Lula (PT), Elmano vinha de histórico nada animador em disputas majoritárias. Derrotado nas eleições de Fortaleza em 2012 - candidato a prefeito - e em 2016 - como vice de Luizianne Lins (PT) -, o petista ainda amargou o quarto lugar na disputa em Caucaia há apenas dois anos.
No mesmo dia da convenção que o confirmou como candidato, o momento que deveria ser de festa foi transformado em luto após o pai de Elmano, seu Odilon, falecer em Baturité, aos 93 anos. Pesava ainda contra o petista a maior experiência de seus adversários, já "tarimbados" em disputas mais bem sucedidas pelo Executivo.
Apesar dos baques, o petista recebeu o voto de confiança de Camilo e o converteu em 2,8 milhões entre todo o Estado, garantindo a vitória já na primeira etapa da eleição. No mapa do Ceará, o petista venceu em 178 municípios, perdendo apenas em cinco para Wagner - incluindo Fortaleza - e em um para RC - vencedor em Pires Ferreira.
Candidato da oposição "clássica" do Ceará e beneficiário do apoio do presidente Jair Bolsonaro (PL), Capitão Wagner (UB) ficou em segundo lugar na disputa, com 1,6 milhões dos votos (31,72%). Até pouco tempo atrás aliado de Elmano, o ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio (PDT) ficou na terceira posição, com 734,9 mil (14,14%).
Aliado prioritário de Elmano durante toda a campanha, Camilo foi decisivo na articulação do bloco partidário que elegeu o futuro governador, atraindo desde antigos aliados de Ciro Gomes, como Zezinho Albuquerque (Progressistas) e Chiquinho Feitosa (PSDB), como adversários históricos do ex-ministro, como Eunício Oliveira (MDB) e Luizianne Lins (PT).
Camilo foi ainda eleito com 69,76% dos votos válidos, que perfazem o total histórico 3,3 milhões de votos, superando em cerca de 160 mil a marca do aliado Cid Gomes (PDT) como senador mais bem votado da história do Ceará. Kamila Cardoso (Avante) terminou em segundo, com 26,2%.
Na pré-campanha, o petista coordenou grupo que defendia a indicação de Izolda Cela (sem partido), vice de Camilo, como candidata do PDT ao Governo. Neste sentido, reuniu prefeitos, deputados e partidos em anúncios públicos de apoio à governadora. Repelido por Ciro, passou então a costurar pessoalmente o rompimento da aliança histórica entre petistas e pedetistas.
Durante o período de convenções eleitorais, a interferência de Camilo no ecossistema partidário cearense foi tamanha que, nas vésperas dos prazos da Justiça, provocou reviravoltas pró-Elmano até em siglas sólidas - e distintas - como Psol e PSDB. Até pouco tempo atrás, era difícil encontrar políticos locais que antecipassem os movimentos.
Ao ficar ao lado de Izolda, Camilo também abriu a pavimentação da estrada que conduziu Ciro Gomes a uma dura e dupla derrota dentro do próprio quintal político. Derrotado no berço político pela primeira vez, Ciro somou 6,8% dos votos dos cearenses.
Além disso, ainda viu seu candidato na disputa pelo Governo do Ceará, o ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT), amargar um 3º lugar distante com 14,14% dos votos. Outros aliados históricos do ex-ministro, como o deputado federal Leônidas Cristino (PDT), também perderam disputas pela reeleição.
As derrotas de Ciro, por outro lado, acabaram significando maiores vitórias para Camilo. Entre pedetistas eleitos para a Câmara dos Deputados, os dois mais votados foram justamente Idilvan Alencar e Robério Monteiro, mais próximos do petista do que de Ciro e que sofreram sanções do PDT local justamente por minimizarem apoio a Roberto Cláudio.
Na Assembleia Legislativa também ocorreu movimento semelhante, com o "camilista" Evandro Leitão (PDT) também saindo das urnas como o pedetista mais votado. Entre bancadas, o PT conseguiu ampliar o já extenso número de deputados do partido e passou de sete para oito representantes.
Após o resultado de ontem, segue como dúvida apenas qual deverá ser o tamanho do senador Cid Gomes (PDT) — poupado no racha entre petistas e pedetistas — na nova configuração de poder no Ceará. Quanto ao maior protagonista do grupo, no entanto, parece não existir dúvidas de que será Camilo.
Base
Partido de Camilo e Elmano, a federação PT/PCdoB/PV elegeu 9 deputados estaduais, sendo a segunda maior bancada da Assembleia. A maior é justamente a do PDT, com 13 parlamentares