Em terceiro lugar na disputa pelo Governo do Estado, o ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio (PDT) amargou derrota conjunta com o principal fiador de sua campanha, o candidato a presidente Ciro Gomes (PDT). Vencido pela primeira vez no seu próprio reduto eleitoral — por Lula (PT) e Bolsonaro (PL) —, Ciro também foi superado por Simone Tebet (MDB) no plano nacional, amargando a quarta colocação nacional.
Lançado candidato a governador após o racha da aliança entre PT e PDT, Roberto Cláudio era a grande aposta de Ciro para impulsionar sua candidatura presidencial no Ceará. Ao bancar a postulação do aliado, o pedetista queria estabelecer um palanque fiel para manter influência eleitoral no território onde nunca havia perdido nas disputas presidenciais.
A apuração deste domingo, 2, apontou que o cálculo andou longe de se concretizar nas urnas. Roberto Cláudio obteve 14,14% dos votos válidos, menos de metade do percentual do segundo colocado, Capitão Wagner (UB), que alcançou 31,72%. Elmano Freitas (PT), impulsionado pelo ex-governador Camilo Santana (PT) e pelo ex-presidente Lula (PT), foi eleito no primeiro turno com 54,02% dos votos.
O fracasso de RC na corrida estadual resultou numa inédita derrota de Ciro entre o eleitorado cearense e puxou o pedetista para o quarto lugar na disputa presidencial. No Ceará, Ciro recebeu 6,8% dos votos válidos, significativamente distanciado de Lula (65,9%) e até de Jair Bolsonaro (25,38%).
Há quatro anos, Ciro liderou a votação no primeiro turno, com 40,95%. O mesmo havia acontecido nas duas vezes anteriores que ele concorreu ao Planalto, em 1998 e 2002, quando manteve hegemonia no berço eleitoral mesmo não conseguindo chegar ao segundo turno.
Em números totais, Ciro foi votado por 369.132 mil cearenses no pleito deste ano. Em 2018, foram 1.998.597 votos. O desfalque nas urnas em pleno reduto eleitoral contribuiu para fiasco de Ciro na disputa nacional.
O pedetista terminou a apuração com 3,05% dos votos válidos, atrás de Simone Tebet (MDB), que teve 4,16%. A diferença entre os dois foi de aproximadamente 1,3 milhão de votos válidos, margem que poderia ter sido superada caso Ciro repetisse o bom desempenho em 2018 dentro do próprio Estado.
Em pronunciamento após o resultado, Ciro falou pouco e evitou responder a perguntas de jornalistas. "Eu quero agradecer, do fundo do coração, aos brasileiros e brasileiras que, de todos os rincões do Brasil, deram a mim o seu voto, independentemente do que aconteceu. Quero dizer a vocês que eu estou profundamente preocupado com o que eu estou assistindo acontecer no Brasil", iniciou.
"Eu nunca vi uma situação tão complexa, tão desafiadora, tão potencialmente ameaçadora, sobre a nossa sorte como nação. Por isso eu peço a vocês que me deem mais algumas horas para conversar com os meus amigos, conversar com o meu partido, para que a gente possa achar o melhor caminho, o melhor equilíbrio, para bem servir a nação brasileira", completou.
A fala de Ciro ocorreu antes mesmo do encerramento da apuração, no condomínio onde ele mora, em Fortaleza. O pedetista estava acompanhado da esposa e da candidata a vice-presidente, Ana Paula Matos (PDT). Mais cedo, depois de votar, Ciro havia dito que pretendia encerrar a carreira política em caso de nova derrota. "Eu pretendo parar por aqui", afirmou.
O pedetista ainda disse que, ao longo da campanha, refletiu por várias vezes se valeria a pena continuar candidato em “tempos estranhos”. Ele também expôs clima de divisão familiar ao comentar a falta de apoio dos irmãos, o senador Cid Gomes (PDT) e o prefeito de Sobral Ivo Gomes (PDT), para a campanha de Roberto Cláudio.
Perguntado por um jornalista se "essa ferida já está cicatrizando ou ainda é uma situação difícil de ser digerida", Ciro respondeu: "Na minha mente isso vai sangrar até o último dos meus dias”. O rompimento do clã na disputa estadual contribuiu para derrota de Ciro até mesmo em Sobral, berço político da família, onde o pedetista também ficou na terceira posição, com 18,46% dos votos.
Diferentemente de Ciro, Roberto Cláudio evitou se pronunciar após a divulgação do resultado. No comitê do candidato, na Avenida Washington Soares, a movimentação foi pequena desde o início da apuração. O POVO esteve no local logo após a indicação da vitória de Elmano em primeiro turno.
Os seguranças informaram que, desde um pouco mais cedo, a sala de concentração já não contava com ninguém do PDT. Nem políticos do partido, nem Roberto Cláudio compareceram ao comitê para acompanhar a apuração.
Do lado de fora, o vendedor ambulante Antonio Marcos apostava na festa de RC. Ele montou uma banquinha para vender bebida e comida durante a possível comemoração. Mas a vitória de Elmano não atrapalhou os seus planos.
"Aqui, não deu para apurar muito. Acabei minhas Heinekens (cervejas), mas foi fraco. Pessoal vai apurando os votos e fica ligado em quem vai ganhando e sai, né?", comentou.
Quando O POVO chegou ao comitê, ele desmontava a barraca para ir à festa do vencedor. "Pessoal me disse que tem mais gente no Elmano e eu estou indo pra lá", despediu-se.