O feriado nacional de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, foi palco da disputa eleitoral no segundo turno neste 12 de outubro. A presença do presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), no Santuário Nacional em Aparecida (SP) causou grande agitação. Apoiadores do presidente se envolveram em tumulto com equipe de televisão durante celebração. Após a saída do candidato, o tom de campanha eleitoral no templo religioso foi repreendido pelo padre que conduzia a celebração.
Bolsonaro chegou a Aparecida por volta das 13h30min acompanhado do candidato ao governo de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos). Na comitiva estavam o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, além dos deputados federais Eduardo Bolsonaro (PL-SP) — filho do presidente — e Bia Kicis (PL-SP), e o ex-ministro da Cidadania João Roma (PL).
Em uma das entradas do Santuário, centenas de pessoas aguardavam pelo presidente. Havia bandeiras e distribuição de adesivos com o número de urna do presidente e de Tarcísio.
Um dos padres auxiliares no altar abriu a batina rapidamente e mostrou uma camisa do Brasil por baixo — e depois foi cumprimentar o chefe do Executivo.
Houve vaias e aplausos ao presidente em mais de uma ocasião. Em meio à algazarra, o padre Eduardo Ribeiro, que conduzia a celebração, pediu ao público: "Silêncio na basílica. Prepare o seu coração, viemos aqui para rezar". Foi pedido silêncio pelo menos mais duas vezes.
Ao sair da igreja, que estava lotada e onde cabem 30 mil fiéis, o presidente causou tumulto entre o público que se espremeu para garantir uma foto aos gritos de "mito" e aplausos.
Quando Bolsonaro e o séquito já tinham ido embora, o padre redentorista Camilo Júnior, que conduzia a celebração naquele momento, demonstrou incômodo com a ênfase política na data da padroeira.
"Parabéns a você que está aqui dentro da Basílica, rezando. Você que entendeu que hoje é dia de Nossa Senhora Aparecida. É a ela as nossas palmas, é a ela a nossa aclamação, é a ela o nosso 'viva'. Só temos segurança nas mãos de Deus e no colo de Maria."
Ele acrescentou: "Parabéns a você que está aqui dentro e está rezando, porque hoje não é dia de pedir voto, hoje é dia de pedir bênção."
Bastante aplaudido, o sacerdote disse: "Palmas à mãe Aparecida. É a ela nosso louvor, nossa súplica, nossa prece". Ele ainda afirmou que "tem pessoa que deseja a morte do outro, mas o outro é semelhante". Ele disse que tal comportamento é de alguém que "se despiu do amor de Cristo".
Equipe da TV Vanguarda, afiliada da TV Globo, foi hostilizada por apoiadores de Bolsonaro. A repórter Daniela Lopes e o cinegrafista Thales Andrade saíram escoltados por funcionários da TV Aparecida.
A confusão teria começado porque o cinegrafista gravou uma pessoa com camiseta que tinha a imagem do candidato do PT a presidente, Luiz Inácio Lula da Silva. Então, apoiadores de Bolsonaro se irritaram e hostilizaram o cinegrafista.
O momento foi filmado pela CNN. Segundo Karla Chaves, repórter da emissora, toda imprensa teve que deixar uma das áreas onde o presidente estaria por causa da hostilidade à imprensa em geral.
Lula criticou a participação em atos religiosos do adversário no segundo turno da eleição presidencial. Para o petista, o atual ocupante do Planalto usa o nome de Deus em vão em sua campanha à reeleição.
"Essa semana, ele (Bolsonaro) foi escorraçado lá no Círio de Nazaré, tentando fazer política na procissão onde não foi convidado. E hoje ele arrumou briga em Aparecida do Norte, onde ele também não foi convidado, tentando tirar proveito da religião", disse o petista em discurso em Salvador (BA).