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Lula lança carta a evangélicos; em SP, Michelle fala em "partido das trevas"
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Lula lança carta a evangélicos; em SP, Michelle fala em "partido das trevas"

Campanhas dos candidatos à Presidência intensificam busca por voto de eleitorado ligado a grupos religiosos
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LULA lançou ontem carta com compromissos junto aos evangélicos (Foto: NELSON ALMEIDA / AFP)
Foto: NELSON ALMEIDA / AFP LULA lançou ontem carta com compromissos junto aos evangélicos

Em meio à "guerra santa" travada nesta eleição, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT ao Palácio do Planalto, divulgou uma carta para reafirmar compromisso, se eleito, com a liberdade de culto, acenar para participação de evangélicos em eventual governo e reiterar posicionamento contrário ao aborto.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) minimizou o impacto do documento, enquanto a primeira-dama Michelle afirmou que o petista tem "sede de vingança" e pediu a dissipação do "partido das trevas".

Durante evento com pastores e líderes evangélicos ontem, em São Paulo, a carta assinada por Lula e lida pelo ex-ministro Gilberto Carvalho relembra ações de governos petistas. "Destaco a reforma do Código Civil assegurando a liberdade religiosa no Brasil, o decreto que criou o dia dedicado à Marcha para Jesus e ainda o Dia Nacional dos Evangélicos. Mantenho o mesmo respeito e o mesmo compromisso", afirma.

Participaram também do encontro os deputados federais eleitos Pastor Henrique Vieira (Psol-RJ) e Marina Silva (Rede-SP), além de líderes. "É bem-vinda a participação de evangélicos nas diversas formas de participação social no governo, como conselhos setoriais e conferências públicas", afirma Lula, na carta.

O petista e Bolsonaro - ambos católicos - disputam os votos religiosos. O atual presidente, no entanto, leva vantagem entre evangélicos. De acordo com pesquisa Datafolha divulgada ontem, Bolsonaro tem 66% das intenções de voto entre evangélicos e Lula, 28%. O ex-presidente detém a preferência de 58% dos católicos, ante 37% de Bolsonaro.

Ainda de acordo com o documento, um eventual terceiro mandato de Lula "não adotará quaisquer atitudes que firam a liberdade de culto e de pregação ou criem obstáculos ao livre funcionamento dos templos". Nas redes, há disseminação de informação sobre fechamento de igrejas, o que o petista nega repetidamente.

Após a leitura da carta, Lula fez discurso no qual voltou a contestar a informação de que ele, se eleito, obrigaria crianças a usar banheiros comuns para meninos e meninas. "Gente, eu tenho família, tenho filha, netas, bisnetas, só pode ter saído da cabeça de satanás a história de banheiro unissex", disse o petista.

Uma das principais responsáveis por convencer a equipe de Lula a divulgar a carta de compromisso aos evangélicos, a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) disse que, com o ato, Lula reafirmou o compromisso com os evangélicos e combate às fake news.

"É um momento de reflexão e de avaliação porque estamos tratando de um povo que tem diferenças", disse ela. "Hoje, nas mais variadas avaliações, estão entre 70 e 80 milhões de brasileiros", avaliou. "Qualquer família tem um evangélico."

RESPOSTA

Jair Bolsonaro, em entrevista ao site O Antagonista ontem à noite, disse que a carta de Lula "é uma mentira" e foi escrita "apenas para ganhar as eleições".

Mais cedo, no Palácio da Alvorada, em Brasília, Bolsonaro já havia minimizado a iniciativa. De acordo com ele, os religiosos que apoiam o petista são apenas "dissidências" e disse que a maioria apoia a sua reeleição. "Quem assinou? Qual o perfil de quem assinou? Tem igrejas? Qual a densidade deles? Até no meio militar tem dissidências, a gente sabe que tem", afirmou.

Já Michelle, em evento com cristãos em São Paulo, acompanhada da senadora eleita Damares Alves (Republicanos-DF) e do Padre Kelmon (PTB), candidato derrotado no primeiro turno, afirmou que há uma luta "contra principados e potestades das trevas". "Ele (Lula) está com uma lista, com sede de vingança, com sangue nos olhos, para se vingar de todos aqueles que se levantaram contra ele", disse.

"Nós estamos aqui para lutar pela nossa nação brasileira, nós estamos aqui para lutar pelo nosso Brasil, para que esse câncer, esse partido das trevas se dissipe, saia da nossa nação", afirmou a primeira-dama sobre os adversários, dizendo que a campanha é uma luta pela "liberdade de expressão e liberdade religiosa". Ela repetiu que partidos de esquerda têm como objetivo minar a atuação das igrejas no País.

Escalada para conter a rejeição feminina a Jair Bolsonaro e para manter o diálogo com os evangélicos a primeira-dama tem cumprido extensa agenda de campanha

Ao eleitorado, Michelle também voltou a defender o marido e seus hábitos. "Bolsonaro é tão imperfeito quanto eu e você, mas vocês podem ter certeza que é um homem temente a Deus, patriota", disse. Sobre os hábitos do chefe do Executivo visto com maus olhos pelo eleitorado, como o de falar palavrão, a primeira-dama disse que dá "broncas" em Bolsonaro, mas que ele é um homem de outra geração. "Eu brigo, mas é o jeito dele, é uma outra geração, tem 67 anos", disse.

Michelle então pediu que os cristãos sejam "multiplicadores de voto", saindo da "zona de conforto" para conseguir votos para o presidente.


Bolsonaristas atacam cinegrafista em festa de Aparecida em APARECIDA-SP.
Bolsonaristas atacam cinegrafista em festa de Aparecida em APARECIDA-SP.

Apoiadores de Bolsonaro levam ataques à esquerda para dentro das igrejas; veja casos

A menos de duas semanas do segundo turno das eleições, parte dos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) encontraram nas igrejas um lugar para promover campanha eleitoral. Em recentes episódios de hostilidade, missas foram interrompidas e padres foram alvos de ofensas, acusados de levantar debates alinhados à esquerda.

Basílica de Aparecida

Entre os episódios recentes, estão os de Aparecida do Norte (SP). Em missa pelo dia da padroeira do Brasil, no último dia 12, o candidato à reeleição esteve presente na comemoração e causou tumulto por apoiadores que compareceram em peso no local.

Em outra celebração no mesmo dia, o padre Camilo Júnior parabenizou os fiéis presentes que estavam rezando, pois “o dia não é de pedir votos, é dia de pedir bênçãos".

Ainda em Aparecida, um grupo de bolsonaristas encurralou um jovem que vestia uma camisa vermelha. O homem foi alvo de gritos de “Lula, ladrão, seu lugar é na prisão” e “a nossa bandeira jamais será vermelha”.

Padre interrompido no Paraná

No Paraná, outro padre foi alvo de acusações e vaiado após dizer que "o Deus da vida nunca vai pactuar com as forças da violência e nem estar ao lado daquele que prega o armamentismo, porque Deus é amor e solidariedade”.

Ele foi interrompido por uma mulher que questionou se Deus era a favor do aborto e afirmou que o padre estaria pedindo votos para Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Missa paralisada em Jacareí

No interior de São Paulo, em Jacareí, uma mulher também interrompeu uma missa e discutiu com um padre após ele citar a ex-vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco na homilia. A mulher utilizou expressões como “esquerdista” e afirmou que o padre não poderia falar da parlamentar dentro da igreja.

Arcebispo chamado de comunista

No último domingo, 16, o arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer, foi chamado por internautas de comunista após usar roupas vermelhas e acusado de ser ligado ao ex-presidente Lula e a favor do aborto.

Sobre os casos, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lamentou, em nota, a "intensificação da exploração da fé e da religião como caminho para angariar votos no segundo turno” e afirmou que momentos religiosos não devem ser utilizados como atos de campanha.

Com o acirrado resultado do primeiro turno, os dois candidatos buscam conseguir votos, principalmente do eleitorado evangélico.

Além de Aparecida, Bolsonaro esteve presente em um culto em Belo Horizonte. Em caravana, a primeira-dama Michelle Bolsonaro e a senadora eleita Damares Alves (Republicanos-DF) também passaram por igrejas do país.

Nesta quarta, 19, Lula divulgou carta de compromisso aos evangélicos, citando a liberdade religiosa e demonstrando contrariedade do uso da fé na política.

FORTALEZA, CE, BRASIL, 10.10.2022: Elmano / Camilo / Cid / Jade Romero / Izolda Cela, fazem evento para apoio o Lula em campanha para o dia 30 de outubro na eleição. (Foto: Aurelio Alves/O POVO)
FORTALEZA, CE, BRASIL, 10.10.2022: Elmano / Camilo / Cid / Jade Romero / Izolda Cela, fazem evento para apoio o Lula em campanha para o dia 30 de outubro na eleição. (Foto: Aurelio Alves/O POVO)

Grupo de cristãos organiza ato pró-Lula em Fortaleza com participação de Elmano

Um grupo de padres, pastores e lideranças religiosas ligadas a pastorais sociais de Fortaleza promove, nesta sexta-feira, 21, um ato a favor do candidato a presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O governador eleito, Elmano de Freitas (PT), confirmou presença no encontro, que será realizado no Marina Park Hotel, a partir das 8h30min.

Batizado de “Cristãos em defesa da democracia”, o evento é organizado pelo grupo “Cristãos Progressistas”, capitaneado por católicos e evangélicos. O empresário Josivaldo Delfino, membro do coletivo, destaca a união dos cristãos no combate à fome como o mote principal do ato.

“A gente quer falar do que nos une: lutar contra a desigualdade e amparar os que sofrem, aqueles que têm fome”, frisou. O ato conta com a adesão de movimentos eclesiais da Igreja Católica, como o “Igreja em Saída Ceará”. Pastores evangélicos, frades e padres também devem participar do evento, segundo Delfino.

“Não é um culto, não é uma missa, é um ato de fé onde essas pessoas desejam manifestar apoio irrestrito à democracia e à liberdade do voto cristão”, explicou o organizador. “As pessoas que estarão lá não concordam em tudo, mas temos a certeza de que a democracia é um bem maior”, completou.

No encontro, os participantes farão uma plenária para debater o uso eleitoral da fé na corrida presidencial de 2022. A desinformação sobre fechamento de igrejas em caso de vitória de Lula, amplamente divulgada nas redes sociais desde o primeiro turno da campanha, estará no centro das discussões.

“Temos a intenção de trazer a verdade. O povo cristão não pode ser massa de manobra que aceita qualquer argumento como sendo verdade. Há uma evidente estratégia que vilaniza um lado e exalta o outro”, afirmou Delfino.

Além do governador eleito, a organização do evento também convidou o ex-governador e senador eleito Camilo Santana (PT). Este último, contudo, ainda não confirmou presença.

TSE dá direitos de resposta por ‘canibalismo’ e ‘ladrão’

O ministro Paulo Tarso Sanseverino, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), concedeu ontem à campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) direito de resposta inédito na disputa presidencial deste ano. O petista terá direito a 20 inserções de 30 segundos no programa eleitoral do presidente Jair Bolsonaro (PL), na TV e no rádio, para rebater acusações de "corrupto" e "ladrão" feitas pelo adversário.

Horas depois, o mesmo ministro atendeu a pedido da campanha de Bolsonaro para ele se defender das acusações de canibalismo, feitas na propaganda petista. O candidato à reeleição terá direito a 14 inserções de 30 segundos cada, nas peças publicitárias de Lula.

Na primeira decisão, Sanseverino argumenta que as condenações penais de Lula foram anuladas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o que, segundo ele, "não permite afirmar culpa no sentido jurídico-penal". O ministro afirma que os ataques na propaganda de Bolsonaro excedem a crítica política e podem, eventualmente, ser enquadrados como crime de calúnia.

Na decisão que beneficiou Bolsonaro, o ministro argumenta que a propaganda do PT com insinuações de que o presidente teria comido carne humana durante expedição em comunidades indígenas excede a liberdade de expressão por distorcer manifestações do presidente sobre o caso, na entrevista em que ele narra o episódio.

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