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"As pesquisas vão ser mais assertivas no 2º turno", prevê CEO da AtlasIntel
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"As pesquisas vão ser mais assertivas no 2º turno", prevê CEO da AtlasIntel

| Entrevista | Ao O POVO, Andrei Roman elencou motivos que ocasionaram erros nas pesquisas
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ANDREI Roman é CEO do AtlasIntel, que usa como metodologia pesquisas online (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS ANDREI Roman é CEO do AtlasIntel, que usa como metodologia pesquisas online

CEO do instituto de pesquisa AtlasIntel, Andrei Roman avalia que as pesquisas de intenção de voto sobre quem ganhará o segundo turno das eleições deste ano e se tornar o próximo presidente da República serão mais assertivas.

Em entrevista ao O POVO, o Ph.D em Ciência Política pela Universidade de Harvard citou alguns motivos preponderantes para que o resultado dos levantamentos no primeiro turno tenham sido discrepantes do resultado divulgado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O AtlasIntel foi o instituto que mais se aproximou do resultado real das eleições presidenciais no primeiro turno. Andrei explica que seu instituto se diferencia dos demais porque fazem a coleta de informações por meio da internet. Tal fator, segundo ele, dá maiores possibilidades de analisar dados que não são arguidos nos levantamentos tradicionais.

Roman também comentou o Projeto de Lei 96/2011, de autoria do deputado Rubens Bueno (Cidadania-PR), que visa regulamentar a atividade dos institutos de pesquisa e prevê multa em caso de números divergentes, acima da margem de erro, dos resultados oficiais das eleições. Para ele, a proposta debatida no Congresso visa "caçar bruxas", não achar soluções. 

Confira a entrevista com Andrei Roman, CEO do AtlasIntel

O POVO - As pesquisas vão ser mais precisas neste segundo turno?

Andrei Roman - Elas vão ser muito mais precisas no segundo turno já que estarão calibradas conforme os resultados no primeiro turno. Vão incorporar um controle adicional, que é a pergunta sobre voto no primeiro turno, aí será possível balancear a amostra de acordo com o perfil do que foi o resultado dessa votação. É como se você tivesse uma prévia do segundo turno. Até porque 90% dos eleitores que declararam voto em Bolsonaro ou Lula no primeiro turno tendem a se manter no segundo, uma vez que a migração de voto - conforme as pesquisas - é improvável que ocorra e vice-versa.

OP - Onde estiveram os erros das pesquisas nesse primeiro turno?

Roman - Em três pontos principais. Coordenação inexistente por renda, eleitores tímidos – efeito da interação humana por conta do modo de coleta – e voto estratégico que afetou uma parcela relativamente pequena do eleitorado na véspera da votação. No primeiro erro é que não existia representatividade por renda. As discrepâncias eram enormes. Mais ou menos 35% da população adulta, na faixa de até dois salários mínimos, nas amostras de pesquisas como Ipec e Datafolha – de quase todos os institutos que não consideraram renda – existiam uma super representação de até 80% do que deveria constar lá. Essa população pobre é o pior público do Bolsonaro e, inevitavelmente, subestimou-se a fortaleza real do Bolsonaro no ponto de vista de intenção de voto. Como se trata de um contexto muito polarizado, dependendo do perfil que você encontra. Se é uma mulher, um jovem, uma pessoa que parece ser mais amistosa ou menos, tudo isso pode ter um efeito psicológico na entrevista, de forma inconsciente até. Existem pessoas que estão em dúvida. E quando indagadas, podem vir a declarar voto em um candidato dependendo de quem entrevista ele. Isso não é uma suposição, a gente tem dados para comprovar essa afirmação. Isso é a comprovação de eleitor tímido. E a terceira variável é a possibilidade de o eleitor definir seu voto de última hora. No entanto, se formos analisar esse fenômeno na perspectiva do voto útil, não é algo que ocorre apenas entre eleitores do Bolsonaro. Porque a razão de votar no Lula, em termos estratégicos, é mais clara de que votar no presidente. O fato de o petista estar na frente nas pesquisas gerou incentivo muito claro para que as pessoas fossem apoiar ele. 

OP - A abstenção foi fator preponderante para que o resultado tenha sido discrepante?

Roman - Não, discordo completamente desta tese. A abstenção no Brasil está em um patamar dos menores mundialmente, por conta do voto obrigatório. E a gente se depara com perfil da abstenção, que mudou muito pouco se comparada com 2018. Não dá para dizer que uma abstenção agora, mesmo sem mudança de perfil, é fator preponderante que explica o erro (dos levantamentos).

OP - O censo demográfico, que não é atualizado desde 2010, colaboraria para maior assertividade das pesquisas?

Roman - Não. Se fosse pelo censo, você apenas conseguiria ter pesquisas de qualidade uma vez a cada década, durante seis meses que se dão depois da divulgação do resultado. E aí o que a gente faria depois? Não tem mais pesquisa de opinião até a próxima década? Um argumento nada razoável, na minha opinião.

OP - O que você acha sobre as propostas do congresso sobre as pesquisas?

Roman - Me parece que o Congresso não está realmente engajado em uma tentativa de averiguar o que aconteceu (no primeiro turno). Mas tentando capitalizar politicamente em cima de um fato de que as pesquisas erraram, no terceiro ciclo consecutivo em desfavor da direita. Então eles têm uma razão de reclamar do assunto, mas se eles fossem realmente interessados em resolver o assunto, também teriam que averiguar empresas que erraram a favor do Bolsonaro, já que estão sendo excluídas de todos os requerimentos e documentos tramitados. Empresas que erraram até mais as que estão sob as maiores críticas estão de fora. Estou bastante convencido de que se trata de uma caça às bruxas, não de uma tentativa de averiguar realmente o que aconteceu. A minha impressão é que o jeito de se lidar com estas pesquisas que de fato erraram, é você deixar o mercado funcionar promovendo equilíbrio competitivo. O mercado aos poucos vai inclinando um cenário desafiador para quem erra e vai, ao mesmo tempo, criando recompensa para quem acerta. Isso é a lógica de organizações que prezam pela credibilidade.

OP - Quais as diferenças da Atlas para os demais institutos de pesquisas?

Roman - São dois pontos principais: metodologia e filosofia. O fato de a gente estar realizando uma pesquisa via web nos ajuda a ter muito mais dados. Então, inevitavelmente, a gente vai observar padrões desses dados que nossos competidores não conseguem avaliar. Por não termos uma coleta humana, não lidamos com o eleitor tímido, que é quase impossível de corrigir. Outro diferencial é que a gente olhou, no ponto de vista metodológico. A grande maioria dos institutos olham região, faixa etária, sexo e escolaridade. Uma pesquisa Atlas vai incorporar muitas dimensões além disso, renda, perfil de município, padrões de eleições anteriores.

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