Analistas ouvidos pelo O POVO projetam um distanciamento da campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) do extremismo representado pelo ex-deputado Roberto Jefferson (PTB), sobretudo neste momento de afunilamento da campanha, em que se busca o voto de indecisos a menos de uma semana do pleito. Cleyton Monte, professor do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem-UFC), avalia que mesmo que o presidente tenha se apressado a rechaçar os atos, há um impacto. "Não no grupo dele mais radical, mas isso pode ter impacto sobre os indecisos. O caso Jefferson, os ataques a padres. Isso pode aproximar os indecisos da campanha adversária", diz.
Ele acrescenta que episódios como o de Jefferson "estimulam um clima de incentivo aos mais radicais". Segundo ele, é preciso estar alerta pois há grupos que "podem se sentir autorizados a agir da mesma forma" com a proximidade da eleição.
A professora Monalisa Torres, da Universidade Estadual do Ceará (Uece), reforça que os ataques a ministros são comuns dentro do bolsonarismo, em referência aos xingamentos de Jefferson contra a ministra Cármen Lúcia, motivo do pedido de prisão. "Na lógica bolsonarista, há tendência de personificar as instituições em figuras específicas, como Alexandre de Moraes, que já foi um alvo, e agora a Cármen Lúcia. Mas para além disso, houve um viés altamente misógino de agressão e desrespeito a uma mulher", comenta a especialista, acrescentando que o STF é alvo de ataques por, de alguma forma, exercer um papel de freio.
Já sobre se todo o caso tem potencial para gerar desgastes na campanha de Bolsonaro, ela explica que os votos consolidados no 1º turno "não devem mudar". No entanto, não descarta que haja reflexo entre os que ainda não se decidiram e que estão cansados da escalada da polarização e da violência. "Acredito que esse tipo de ataque pode ter impactos, sim, pelo nível baixo e misógino em si. Isso cria um mal-estar em determinados segmentos da sociedade, que veem o ato como um exagero", conclui.
Já o cientista político e sócio da Tendências, Rafael Cortez, diz que os ataques tendem a reforçar os votos tanto em Lula (PT) quanto em Bolsonaro nesta última semana do 2º turno. Esse reforço do voto de ambos os lados viria por causa da cristalização das narrativas usadas até aqui pelas campanhas. Da parte petista, que Bolsonaro e apoiadores representam um risco à ordem institucional. Da bolsonarista, que a Justiça tem sido parcial.
"É muito difícil a gente ver uma alteração do voto de ambos os lados. É mais um capítulo da mesma narrativa. Basicamente, o ato de Jefferson coloca um senso de urgência muito elevado para a candidatura do governo, que precisaria trazer alguma novidade para virar. Mas não me parece que ato altere cenário da candidatura de Bolsonaro", avaliou.(Vitor Magalhães/AE)