Vestidos de verde-amarelo e segurando bandeiras do Brasil, dois homens conversam em frente à 10ª Região Militar do Exército, no Centro de Fortaleza. "Lula já falou que vai tomar a poupança e criar uma taxa do Pix", grita um deles, indignado, repetindo uma fake news.
"Eu vi que ele se reuniu com o presidente da Argentina para eles unirem os dois bancos centrais em um só", rebate o outro, também ecoando conteúdo falso.
 O diálogo, composto por informações fraudulentas, foi apenas um de vários testemunhados pelo O POVO ontem, durante ato golpista em defesa do presidente Jair Bolsonaro (PL) realizado na capital cearense.
Embora se neguem a reconhecer o resultado das urnas, Lula venceu a disputa eleitoral contra Jair Bolsonaro (PL), que deu aval para que a transição entre os governos tenha início.
Mesmo rejeitando caráter golpista, os manifestantes pediam "intervenção federal" das Forças Armadas que anule as eleições deste ano.
O próprio local escolhido para o ato, em frente ao principal quartel do Exército no Ceará, reforça a pretensão militarista do movimento. Desde as primeiras horas da manhã, bolsonaristas ocuparam as vias em frente à unidade, fechando a rua Dr. João Moreira, que dá acesso ao Passeio Público, e parte das faixas da avenida Alberto Nepomuceno.
"Nós suplicamos que as Forças Armadas não deixem o Brasil cair no comunismo", dizia emocionada, em uma caixa de som, uma manifestante.
Fora os pedidos de "intervenção federal", a maioria das faixas do ato atacava, além do presidente eleito, os ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), especialmente Alexandre de Moraes.
Ao chegar ao evento, uma outra faixa, que trazia a imagem dos comandantes das Forças Armadas seguida da frase "liberdade não se ganha, se toma", provocou diversos aplausos de manifestantes.
"Eu autorizo, eu autorizo", declaravam em coro. Cartazes e discursos questionavam o sistema eleitoral brasileiro e as urnas eletrônicas sem apresentar quaisquer provas.
No local, bolsonaristas também convocaram amigos em grupos de WhatsApp e transmissões ao vivo. Apesar de algumas pessoas terem distribuído água e comida no protesto, militantes apontavam caráter "espontâneo" dele.
"Esse evento aqui foi organizado espontaneamente pelo povo. Não tem nenhuma liderança, a liderança é o povo. É uma manifestação que segue o artigo 5º da Constituição, que nos garante a liberdade de reclamar contra o que está errado", diz o empresário Alex Ceará, que foi candidato a deputado federal pelo PL neste ano.
"Você vê aí que teve cidades, de alguns estados aí, que tem 300 e poucos, 400 votos para o outro lado, e zero para o Bolsonaro. Isso aí é impossível", destaca. A informação é falsa.
Segundo o TSE, nenhum município do Brasil registrou 100% de votação em qualquer um dos candidatos no 2º turno.
O município com maior predominância de votos a Lula foi Guaribas, no Piauí, com 93,9%. Já Nova Pádua, no Rio Grande do Sul, acabou sendo a cidade mais bolsonarista do País, com 89% de votos para o atual presidente.