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Revivendo 2002, Lula deve reeditar "frente ampla" da campanha no ministério
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Revivendo 2002, Lula deve reeditar "frente ampla" da campanha no ministério

Após encerramento do processo eleitoral, começa a ganhar forma o ministério do presidente eleito. Os nomes, entretanto, ainda não foram confirmados
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Lula e Alckmin: partidos dos dois apoiarão Arthur Lira na Câmara (Foto: NELSON ALMEIDA)
Foto: NELSON ALMEIDA Lula e Alckmin: partidos dos dois apoiarão Arthur Lira na Câmara

Eleito para um inédito terceiro mandato presidencial, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) retornará ao cargo máximo do País doze anos após ter deixado o poder. Em 1º de janeiro de 2023, o petista vai reviver a tradicional subida à rampa do Palácio do Planalto de duas décadas atrás, quando assumiu a Presidência da República pela primeira vez. A costura de alianças que o levaram à vitória nas urnas neste ano tem muitas semelhanças com a campanha de 2002.

Para derrotar Jair Bolsonaro (PL), primeiro presidente não reeleito da história do Brasil, Lula apostou na construção daquilo que ele mesmo definiu como “frente ampla”. Tentando romper a bolha da esquerda e se viabilizar como um candidato moderado, o ex-presidente abriu diálogo com adversários históricos, reatou laços com figuras que haviam rompido com o PT e se aproximou de nomes associados à chamada “direita progressista”.

O arco de aliança inclui desde o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB), que já enfrentou Lula nas eleições de 2006, até a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (Rede), com recente histórico de mágoas contra o PT. O petista também conseguiu a adesão de tucanos históricos, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e o senador Tasso Jereissati (PSDB).

Para além dos apoios políticos, Lula obteve respaldo de nomes do meio jurídico como o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa e o jurista Miguel Reale Júnior – um dos autores do pedido de impeachment de Dilma Rousseff (PT) – e econômico, com o apoio declarado dos economistas Armínio Fraga, André Lara Resende, Edmar Bacha, Pedro Malan e Pérsio Arida, conhecidos como “pais” do Plano Real.

O palanque heterogêneo estava nos planos de Lula desde março de 2021, mês que marcou a volta do petista à cena eleitoral após a anulação das condenações no âmbito da operação Lava Jato. Com o caminho livre para se candidatar mais uma vez à Presidência, Lula já sinalizava a aliados, àquela altura, a necessidade de abrir conversas com grupos mais distantes ideologicamente do PT.

A estratégia foi a mesma adotada nas eleições de 2002, com a escolha do empresário José de Alencar (1931-2011) para a vaga de vice na chapa encabeçada pelo petista. O objetivo era aplacar os ânimos do mercado financeiro, que resistia a candidatos da esquerda prevendo governos com desequilíbrio nas contas públicas.

O plano de Lula foi bem-sucedido nas urnas. Além da vitória no pleito daquele ano, ele e o vice repetiram a dobradinha e foram reeleitos em 2006.

As alianças eleitorais impactaram na composição ministerial. Em 2003, por exemplo, Lula nomeou Ciro Gomes (à época do PPS) para o Ministério da Integração Regional. Terceiro colocado na disputa presidencial do ano anterior, Ciro embarcou na campanha de Lula após ser derrotado no primeiro turno.

Na corrida eleitoral deste ano, o petista também ganhou o apoio da terceira candidata mais votada, a senadora Simone Tebet (MDB), nome dado como certo no primeiro escalão do próximo governo. Com atuação destacada no segundo turno, a emedebista é cotada para as pastas da Educação ou Agricultura.

Marina Silva, ministra do Meio Ambiente nas duas gestões de Lula, pode assumir novamente a pasta a partir de 2023. Outro ex-ministro dos governos Lula que está sendo cogitado para compor a equipe de auxiliares no terceiro mandato do petista é o senador Jacques Wagner (PT/BA), que chefiou os antigos Ministérios do Trabalho e das Relações Institucionais.

Durante a campanha, Lula sinalizou que pretende levar aliados da campanha para postos estratégicos do governo. “Um governo nosso não será um governo do PT. Terá que ser além.[...] Não faremos um governo do PT, faremos um governo do povo brasileiro”, disse o então candidato na reta final do segundo turno.

Com as palavras, o petista indicou que a “frente ampla” da campanha será reeditada na gestão. O primeiro gesto prático disso foi a escolha do vice Geraldo Alckmin como coordenador da equipe de transição para o novo governo. Aliados esperavam a indicação de algum nome do PT, mas Lula preferiu atribuir a tarefa ao futuro companheiro de Executivo.

Antes das eleições, interlocutores do petista já comentavam que Alckmin seria mais do que um “vice decorativo”. Além do protagonismo no processo de passagem de poder, é provável que o ex-governador paulista assuma algum ministério.

Ele não seria o primeiro vice-presidente a acumular o cargo com função no primeiro escalão. Em 2004, José Alencar foi nomeado por Lula para comandar o Ministério da Defesa.

Ceará com dois nomes cotados para o primeiro escalão do governo Lula

A nova Esplanada dos Ministérios pode ter dois cearenses a partir de 2023. A governadora Izolda Cela (sem partido), que deixará o cargo em 31 de dezembro, e o ex-governador e senador eleito, Camilo Santana (PT), estão entre os nomes cotados para assumir vaga no primeiro escalão do governo Lula.

Camilo começou a ser cogitado para um ministério antes mesmo das eleições, mas negou que o assunto tenha sido tratado em algum momento com o agora presidente eleito.

O nome do ex-governador subiu na "bolsa de apostas" para o time de ministros do próximo governo após o desempenho dele nas eleições deste ano. Eleito para o Senado com quase 70% dos votos, Camilo é apontado como o maior responsável pela vitória em primeiro turno de Elmano de Freitas (PT) ao Governo do Estado.

Apesar de ter o nome lembrado, o ex-governador ainda não é associado a nenhuma pasta específica. Izolda, por sua vez, teria como destino o Ministério da Educação. A possibilidade ganhou força ainda durante a campanha, quando Lula disse a Izolda em um vídeo gravado para a propaganda eleitoral: “Se prepare que vai ter muito trabalho pra nós”.

Vice-presidente nacional do PT e um dos petistas mais próximos a Lula, o deputado federal reeleito José Guimarães afirmou que o presidente eleito ainda não confirmou nomes para o ministério, mas admitiu a possibilidade do Ceará estar representado na próxima composição da Esplanada.

“O Ceará está muito credenciado para cumprir qualquer missão. E a Izolda é uma companheira governadora que mostrou ser muito competente… quem sabe, vamos aguardar”, disse o deputado na última semana em entrevista às rádios O POVO CBN e CBN Cariri.

Se Camilo e Izolda forem nomeados para o ministério de Lula, será a primeira vez que dois ex-governadores cearenses ocuparão espaço ao mesmo tempo no alto escalão do Poder Executivo Federal. Atualmente, dos 23 ministérios do governo Bolsonaro, apenas um está sob o comando de um cearense, a pasta da Defesa, cujo titular é o general Paulo Sérgio Nogueira, natural de Iguatu.

Esplanada terá nova configuração com mais Ministérios

Após o início oficial da transição de governo, na última quinta-feira, 3, cresce a expectativa para a confirmação do novo desenho da Esplanada dos Ministérios. Na campanha, Lula adiantou que pretende criar três pastas inéditas: Igualdade Social, Povos Originários e Pequenas e Médias Empresas.

Além disso, o petista anunciou que vai recriar os ministérios da Cultura e da Igualdade Racial, extintos nos governos de Jair Bolsonaro (PL) e Michel Temer (MDB), respectivamente.

O presidente eleito também sinalizou o desmembramento de pastas já existentes. O Ministério da Economia, por exemplo, será desmembrado em Fazenda, Indústria, Planejamento e Pequenas e Médias Empresas. A previsão é que o número de pastas aumente de 23 para 33.

O fim do processo eleitoral desinterditou o debate sobre a nova configuração da Esplanada. Antes da vitória nas urnas, Lula evitava falar sobre nomes, mas repetia em diversas ocasiões que sua equipe de auxiliares, caso eleito, seria formada por ministros com perfil técnico e político.

“Montar uma equipe não é algo simples. Não basta serem pessoas de excelentíssimo conhecimento específico, é preciso que haja uma mistura de conhecimento com política”, disse o então candidato, em 10 de outubro, durante evento com empresários em São Paulo.

A menos de dois meses para a posse presidencial, não houve, até o fechamento desta página, nenhuma confirmação de titulares para o próximo ministério. Os nomes mais cotados são de ex-governadores, membros da cúpula petista, dirigentes partidários e ex-ministros dos governos Lula e Dilma Rousseff.

Os nomes cotados para o ministério do governo Lula

Henrique Meirelles - Fazenda
Ministro da Fazenda no governo Michel Temer (2016-2018) e presidente do Banco Central no governo Lula (2003-2010)

Rui Costa - Casa Civil/ Desenvolvimento Regional
Atual governador da Bahia. Foi eleito para o cargo em 2014 e reeleito em 2018.

Izolda Cela - Educação
Atual governadora do Ceará. Secretária de Educação do Ceará no governo Cid Gomes (2007-2014).

Gleisi Hoffmann - Casa Civil
Deputada federal. Ministra da Casa Civil no governo Dilma Rousseff (2011-2014).

Márcio França - Casa Civil
Ex-governador de São Paulo. Foi candidato ao Senado nas eleições de 2022.

Simone Tebet - Agricultura e Pecuária/ Educação/ Direitos Humanos
Senadora da República pelo estado do Mato Grosso do Sul.

Fernando Haddad - Educação/ Planejamento/ Casa Civil
Ex-prefeito de São Paulo. Ministro da Educação nos governos Lula e Dilma (2005-2012). Foi candidato ao Governo de São Paulo em 2022.

Alexandre Padilha - Saúde
Deputado federal. Foi ministro da Saúde no governo Dilma (2011-2014).

Aldo Rebelo - Defesa
Ministro do Esporte (2011-2015), da Ciência, Tecnologia e Inovação (2015-2015) e da Defesa (2015-2016) no governo Dilma.

Geraldo Alckmin - Defesa
Vice-presidente da República eleito. Ex-governador de São Paulo (2001-2006 e 2011-2018).

Flávio Dino - Justiça/ Segurança Pública
Ex-governador do Maranhão (2015-2022) e ex-deputado federal (2007-2011).

Aloízio Mercadante - Planejamento
Ex-ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação (2011-2012), da Educação (2012-2014 e 2015-2015) e da Casa Civil (2014-2015).

Carlos Fávaro - Agricultura
Senador da República pelo Mato Grosso. Foi vice-governador do estado (2015-2018).

Celso Amorim - Relações Exteriores
Foi ministro das Relações Exteriores no governo Itamar Franco (1993-1994), no governo Lula (2003-2010) e ministro da Defesa no governo Dilma (2011-2014)

Wellington Dias - Cidadania
Ex-governador do Piauí (2015-2022). Senador da República eleito pelo mesmo estado nas eleições de 2022.

Jean Paul Prates - Minas e Energia
Senador da República pelo estado do Rio Grande do Norte.

Tereza Campello - Cidadania
Foi ministra do Desenvolvimento Social no governo Dilma (2011-2016).

Carlos Lupi - Trabalho
Presidente do PDT. Ex-deputado federal (1991-1995). Foi ministro do Trabalho no governo Lula (2007-2011).

Renan Filho - Pasta indefinida
Ex-governador de Alagoas (20165-2022). Senador da República eleito pelo mesmo estado nas eleições de 2022.

Paulo Câmara - Turismo
Atual governador de Pernambuco. Não concorreu nas eleições de 2022.

Camilo Santana - Pasta indefinida
Ex-governador do Ceará (2015-2022). Eleito senador da República pelo mesmo estado nas eleições de 2022.

O desenho da nova esplanada

Ministérios já existentes

Advocacia-Geral da União
Agricultura
Casa Civil
Ciência, Tecnologia e Inovações
Comunicações
Controladoria-Geral da União
Defesa
Desenvolvimento Regional
Educação
Gabinete de Segurança Institucional
Meio Ambiente
Minas e Energia
Relações Exteriores
Saúde
Secretaria de Governo
Secretaria-Geral
Turismo

Ministérios recriados ou desmembrados

Cidades
Cultura
Direitos Humanos
Fazenda
Igualdade Racial
Indústria
Justiça
Mulher
Pesca
Planejamento
Previdência
Segurança Pública
Trabalho

Ministérios criados

Igualdade Social
Pequenas e Médias Empresas
Povos Originários

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